Sobrevivente do Holocausto, rabinos e criança de 10 anos: o que se sabe sobre as vítimas do ataque terrorista na Austrália
Um momento de celebração da comunidade judaica terminou em tragédia no domingo na famosa praia australiana Bondi, em Sydney. Pelo menos 15 pessoas foram mortas e 42 feridos hospitalizados, segundo autoridades locais. Entre as vítimas estão dois rabinos, um sobrevivente do Holocausto e uma criança de 10 anos. A polícia descreve o episódio como um ataque terrorista. Os agressores eram pai e filho. Enquanto o pai, Sajid Akram, de 50 anos, morreu no ataque, o filho, Naveed Akram, de 24 anos, está em estado grave no hospital.
15 mortes e resposta do Irã: as últimas informações sobre o ataque terrorista na Austrália
Contexto: Ataque terrorista em praia da Austrália deixa 15 mortos e 40 feridos durante festa judaica; um dos atiradores morreu e outro foi preso
Veja a seguir o que se sobre as vítimas:
Matilda, 10 anos
Matilda, de 10 anos, foi morta pelos atiradores na Austrália
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A menina de 10 anos morta no ataque terrorista foi identificada como Matilda. Ela chegou a ser levada na noite de domingo ao Hospital Infantil de Sydney, mas não resistiu aos ferimentos. Em uma mensagem publicada nas redes sociais, a tia da criança, Lina, descreveu o impacto da perda.
“Uma grande tragédia aconteceu com a minha família. Minha amada sobrinha Matilda foi morta durante um ataque terrorista em Bondi Beach. Não sei como sobreviver a uma dor dessas”, escreveu.
Ex-aluna da escola Harmony Russian School of Sydney, Matilda foi homenageada pela instituição, que afirmou estar “profundamente entristecida” com a morte da estudante.
“Sua memória permanecerá em nossos corações, e honramos sua vida e o tempo que passou como parte da nossa família escolar”, disse a escola em nota.
A professora de línguas da menina, Irina Goodhew, descreveu Matilda como uma criança “brilhante, alegre e cheia de energia, que levava luz a todos ao seu redor”.
Rabino Eli Schlanger
Eli Schlanger era conhecido como o rabino de Bondi
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Conhecido como o “rabino de Bondi”, Eli Schlanger, de 41 anos, estava entre os mortos da ação terrorista. Figura central da comunidade de judeus local, ele foi um dos principais organizadores do evento que marcava o primeiro dia do Chanucá na praia de Bondi. Schlanger liderava a missão local da Chabad, organização judaica hassídica internacional com sede no Brooklyn, nos Estados Unidos, e era amplamente reconhecido por seu trabalho religioso e comunitário em Sydney.
A morte do rabino, nascido no Reino Unido e pai de cinco filhos, foi confirmada por um primo, o rabino Zalman Lewis, em uma postagem nas redes sociais. “Meu querido primo, o rabino Eli Schlanger, foi assassinado no ataque terrorista de hoje em Sydney”, escreveu. “Ele deixa a esposa e filhos pequenos, além de tios e irmãos. Ele era realmente um homem incrível.” Em comunicado publicado em seu site, a Chabad informou que o filho mais novo de Schlanger tinha apenas dois meses.
Líderes comunitários e autoridades destacaram o impacto de sua perda. Para Alex Ryvchin, do Conselho Executivo do Judaísmo Australiano, Schlanger era uma referência moral.
“Ele foi o ser humano mais piedoso, humano, gentil e generoso que acho que já conheci”, afirmou a jornalistas em Bondi nesta segunda-feira.
Alexander Kleytman
Alexander Kleytman
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Alexander Kleytman, 87 anos, está entre as vítimas do ataque, segundo confirmou sua esposa, Larisa Kleytman, a jornalistas em frente ao hospital St Vincent’s, em Sydney. Ela relatou que os dois estavam juntos quando começaram os disparos.
“Estávamos parados quando, de repente, vieram os ‘estrondos’, e todos caíram. Ele estava atrás de mim e, em um momento, decidiu se aproximar. Levantou o corpo porque queria ficar perto de mim”, disse ao jornal The Australian.
O casal era sobrevivente do Holocausto e havia compartilhado suas histórias de vida com a organização JewishCare em 2023. De acordo com o relatório anual de 2022-2023 da entidade de saúde judaica, ambos enfrentaram, ainda crianças, os horrores da perseguição nazista. No caso de Alexander, as lembranças são descritas como especialmente traumáticas, marcadas pelas condições extremas na Sibéria, onde ele lutou para sobreviver ao lado da mãe e do irmão mais novo.
Dan Elkayam
Elkayam foi descrito pelo Rockdale Ilinden FC como uma “figura extremamente talentosa e popular”. PUBLICIDADE
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O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, confirmou que o francês Dan Elkayam está entre as vítimas do ataque. Em publicação nas redes sociais, Barrot afirmou que o país se une ao luto da família, dos entes queridos, da comunidade judaica e do povo australiano. Ele classificou o crime como uma nova e trágica manifestação do ódio antissemita e disse que o governo não poupará esforços para combatê-lo em todas as suas formas. O presidente da França, Emmanuel Macron, também se pronunciou, expressando solidariedade plena à família de Elkayam.
Apaixonado por futebol, Elkayam atuou na temporada de 2025 pelo Rockdale Ilinden, equipe da primeira divisão local de Sydney, que o descreveu como um jogador talentoso e muito querido pelos companheiros. Ele estava acertado para defender o Arncliffe Aurora na temporada de 2026. Em nota publicada no Instagram, o clube afirmou que Dan era um membro respeitado da comunidade esportiva e destacou que sua memória permanecerá viva entre familiares, amigos e colegas de equipe.
Peter Meagher
Peter Meagher era fotógrafo do evento judaico
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Peter Meagher, conhecido como “Marzo”, morreu no ataque ocorrido no domingo em Bondi, segundo confirmou o Randwick Rugby Club, onde era voluntário havia muitos anos. De acordo com o clube, ele trabalhava como fotógrafo freelancer no evento Chanukah By the Sea no momento do atentado. Em nota, a instituição descreveu a morte como “um caso simplesmente catastrófico de estar no lugar errado, na hora errada” e lembrou Meagher como uma figura “muito querida” e uma verdadeira “lenda” da equipe.
O Randwick Rugby destacou que Meagher era considerado um dos “corações e almas” do clube. Ele atuou como gerente do time principal durante grande parte da última década e, antes disso, foi um árbitro amplamente respeitado. Fora do esporte, construiu uma longa carreira na polícia de Nova Gales do Sul, onde serviu por quase quatro décadas e se aposentou como sargento-detetive, reconhecido pelo prestígio entre os colegas. O clube afirmou que sua ausência já é sentida e que os treinos “não serão mais os mesmos” sem ele.
Tibor Weitzen
Tibor Weitzen estava no evento com sua esposa e netos quando foi morto ao tentar proteger um amigo da família.
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Tibor Weitzen, 78 anos, também está entre as vítimas do ataque em Bondi Beach. O neto, Mendy Amzalak, disse ao jornal The Australian que o avô era um “homem cheio de vida, alegria, sorrisos e risadas” e morreu ao tentar proteger um amigo da família dos disparos. Segundo ele, Weitzen colocou o próprio corpo à frente da vítima no momento do ataque.
Amzalak relatou ainda que foi um dos primeiros a prestar socorro no local. Ele contou que estava com a família no evento quando recebeu uma ligação da esposa e correu para a praia levando um desfibrilador, enquanto os tiros ainda eram ouvidos.
“Comecei a atender as pessoas e, então, encontrei o corpo do meu avô”, disse.
Reuven Morrison
Reuven Morrison foi morto no ataque na Austrália
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Conhecido também como Rueben, Reuven Morrison emigrou da antiga União Soviética para a Austrália nos anos 1970. Segundo o site Chabad.org, dividia seu tempo entre Sydney e Melbourne e era um empresário bem-sucedido, que tinha como principal propósito destinar grande parte de seus ganhos a causas filantrópicas ligadas à comunidade judaica.
Em entrevista à ABC em 2024, Morrison afirmou ter sofrido perseguição por ser judeu no período em que viveu sob o regime soviético, mas disse jamais imaginar que enfrentaria esse tipo de hostilidade na Austrália.
“Viemos para cá acreditando que a Austrália era o país mais seguro do mundo e que os judeus não voltariam a enfrentar esse tipo de antissemitismo, onde poderíamos criar nossos filhos em um ambiente seguro”, declarou à época.
Rabino Yaakov Levitan
Rabino Yaakov Levitan, uma das vítimas de ataque a tiros na Austrália
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Yaakov Levitan, secretário do Sydney Beth Din — tribunal rabínico da cidade —, morreu no ataque de domingo, em Bondi. A morte foi confirmada a veículos locais por lideranças da comunidade judaica, entre elas o rabino Yehoram Ulman, membro sênior do Beth Din. A organização Chabad também confirmou o falecimento e descreveu Levitan como um “coordenador popular” de suas atividades em Sydney. Além do trabalho no Beth Din, ele atuava no BINA Center, instituição dedicada ao ensino judaico.
Marika Pogany
Marika Pogany, de 82 anos, morreu após ser atingida durante o evento, segundo a emissora australiana 9News. Conhecida na comunidade judaica local, Pogany dedicou grande parte da vida ao trabalho voluntário e foi reconhecida diversas vezes por seu engajamento social.
Em 2022, ela recebeu um prêmio por ter participado da entrega de cerca de 12 mil refeições kosher ao longo de mais de duas décadas, iniciativa voltada principalmente a pessoas em situação de vulnerabilidade. Amigos a descreveram como uma “pessoa incrível”, lembrada pela generosidade, constância no serviço comunitário e disposição em ajudar quem precisava.
