Promessa de campanha de Tarcísio, mudança do governo para o Centro tem leilão adiado e deve ficar para 2026
Uma das promessas de campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a mudança da sede do governo estadual do Palácio dos Bandeirantes para o Centro de São Paulo pode demorar um pouco mais para sair do papel: integrantes do governo já admitem que o leilão, que estava marcado para esta semana e foi adiado, pode ficar para o ano que vem.
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O leilão estava previsto para ocorrer no dia 28 de novembro, mas o governo anunciou, na semana passada, a suspensão do certame. Uma nova data, contudo, ainda não foi definida. A mudança de planos ocorreu após questionamentos e pedidos de possíveis interessadas em tocar o projeto, que é uma parceria público-privada.
No início deste mês, houve uma série de questionamentos de players interessados a respeito do plano econômico-financeiro do projeto, dos seguros dos riscos do projeto e também sobre eventuais projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) que estão sendo feitos na região central e como eles poderiam impactar o Centro Administrativo. Alguns interessados também pediram mais prazos para que pudessem juntar documentações que comprovam a capacidade técnica para o projeto, e a Secretaria de Parcerias e Investimentos (SPI) decidiu prorrogar o leilão.
A avaliação de Tarcísio e dos integrantes do governo é que o adiamento não é negativo, já que mostra que há empresas interessadas, e que é melhor esperar para fazer um processo “redondo” do que ter eventuais problemas posteriores. Ainda não houve definição se haverá alteração no texto do edital, mas existe essa possibilidade. Neste caso, é preciso que haja um intervalo mínimo de 45 dias entre publicação de edital e o leilão — o que arrastaria a batida de martelo para ao menos janeiro de 2026.
Mas tirar essa ideia do papel é prioridade para Tarcísio, que deve usar o tema como vitrine eleitoral, seja numa eventual tentativa de reeleição, seja na disputa federal, sob o discurso de “legado” que deixará para São Paulo. Afinal, trata-se de uma obra de longo prazo, que só deve ser entregue a partir de 2030.
Ao todo, o governo prevê investir R$ 6 bilhões no novo centro administrativo, e o processo licitatório vai definir a empresa que fará a construção do complexo, as reformas, os restauros — ao menos 17 prédios tombados deverão ser recuperados – e a manutenção e gestão do espaço por 30 anos.
Em contrapartida, a empresa poderá explorar o espaço comercialmente, alugando lojas e vendendo residências, ainda que a população de baixa renda tenha prioridade nas habitações. O escritório vencedor do concurso terá que ser contratado pela vencedora da licitação.
O critério de escolha será o maior desconto na contraprestação pública mensal, que é o valor que o governo vai repassar mensalmente à concessionária e que ainda não foi estimado. Será possível a união de duas ou mais empresas para formar um consórcio. Além dos repasses mensais, o governo fará um aporte para custear a construção dos empreendimentos. O GLOBO apurou que algumas das empresas interessadas são a Acciona, responsável pela obra da Linha 6 (Laranja) do Metrô, e a Construcap, empresa do ramo da construção civil que tem braços de administração de equipamentos públicos, como a Urbia (Parque do Ibirapuera) e foi a responsável por obras como o Templo de Salomão e o Hospital da Mulher, por exemplo.
Em nota, a Secretaria de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo informou que a mudança de data do leilão "é comum em projetos desse porte, garante competitividade e segurança ao processo" e que "a nova data será publicada nos próximos dias".
"O projeto segue como uma das principais iniciativas de modernização da gestão pública e de requalificação urbana do Centro de São Paulo. Com investimento estimado em R$ 6 bilhões, o Novo Centro Administrativo vai reunir cerca de 22 mil servidores em um complexo moderno, eficiente e sustentável, além de impulsionar empregos, requalificar o entorno dos Campos Elíseos e reduzir custos de manutenção e aluguel para o Estado. A SPI segue em diálogo permanente com o setor privado para garantir a condução responsável da PPP e a entrega de um equipamento que trará impacto direto na vida da população e na recuperação da região central", afirmou a pasta.
O projeto
O Novo Centro Administrativo envolve a transferência de quase todas as secretarias e órgãos da gestão estadual para os Campos Elíseos. A mudança só deve ser efetivada em 2030, mas a expectativa é que o contrato com a empresa que vai gerir o projeto seja firmado no começo de 2026.
O projeto inclui também a construção de unidades de habitação social, espaços para comércios e restaurantes e uma revitalização ampla no entorno dos prédios administrativos, em um perímetro que compreende a Avenida Rio Branco e arredores
A iniciativa promete transformar ruas como Helvetia, Alameda Dino Bueno, Guaianazes, Barão de Piracicaba e as alamedas Glete e Nothmann, com alargamento de calçadas, trechos dedicados apenas para circulação de pedestres e melhorias de acessibilidade e drenagem. O terminal de ônibus Princesa Isabel será removido e a Praça Princesa Isabel será prolongada e vai virar uma espécie de boulevard, com jardins e espaço para pedestres.
O trecho da rua Guaianazes entre a Avenida Duque de Caxias e a Alameda Glete será de uso exclusivo para pedestres, bem como a Rua Helvetia e Alameda Glete entre a Avenida Rio Branco e a Rua Conselheiro Nébias.
Em relação aos prédios governamentais, a ideia é que ocupem quatro quadras entre a rua Conselheiro Nébias e Alameda Barão de Piracicaba. O plano é que tenham fachada ativa, com a possibilidade de comércios e serviços na parte térrea. No subsolo, haverá estacionamentos. Hoje, os cerca de 22 mil servidores estaduais se dividem entre quase 40 imóveis na cidade, pois cada secretaria fica em um lugar diferente.
No Centro, por exemplo, estão secretarias como a de Educação e Habitação, enquanto a Saúde fica na região dos Jardins e outras estão no Palácio dos Bandeirantes. Com os novos prédios, a ideia é unificar os órgãos estaduais num só local.
Mas haverá exceções. Mesmo após o governo ser transferido para o Centro, o governador deve manter um gabinete no Palácio dos Bandeirantes, que também seguirá sendo a residência oficial do chefe do Executivo paulista. As secretarias da Casa Civil e Comunicação também devem permanecer no espaço atual.
No ano passado, o governo fez um concurso, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), que definiu o escritório de arquitetura responsável pelo novo centro administrativo. O projeto será feito pelo arquiteto Pablo Chakur, do escritório Ópera Quatro.
A empresa que ganhar a concorrência deverá construir ainda o Terminal Luz, que vai substituir o atual Princesa Isabel e vai ter conexão com a Estação da Luz, por meio de um túnel que já está em construção pela CPTM. Somente com o equipamento de transporte público, o gasto deve girar em torno de R$ 37 milhões. Para colocar a obra de pé, também serão necessárias desapropriações, que deverão ser efetuadas pela concessionária do espaço. Para isso, foram mapeadas cerca de 600 famílias na área do projeto, sendo que mais da metade já está cadastrada, enquanto as demais estão em fase de contato ativo pelas equipes sociais.
Na época, o LabCidade, da Universidade de São Paulo, apontou em uma nota técnica que era necessária a "apresentação de estudos que demonstrem os impactos habitacionais e de mobilidade do projeto", porque parte dos terrenos onde será implementado o novo centro é classificado como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), onde devem ser construídos novos empreendimentos com unidades de habitação de interesse social ou de moradia popular, mas também permite atividades não residenciais.
