Os impactos da megaoperação da polícia do RJ nas eleições de 2026

 

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Leandro Resende faz uma análise dos desdobramentos políticos da megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. A coluna se dedicou nos últimos dias a conversar com presidentes de partidos, secretários, marqueteiros e políticos para projetar como a maior operação policial da história do Rio mexe na política do estado e do país.

Consórcio de governadores agirá em conjunto para transformar CV e PCC em narcoterroristas

O chamado ‘Consórcio da Paz’, formado por governadores de sete estados após a megaoperação que deixou 121 pessoas mortas no Complexo do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, já tem uma pauta definida. Após a reunião de apoio ao governador Cláudio Castro (PL), o grupo se mobiliza para pressionar pela classificação de organizações criminosas como o Comando Vermelho em terroristas. Uma comunicação única dos governadores e uma visita a Brasília para pressionar pelo tema estão no radar do grupo.

O autodenominado ‘Consórcio’ é formado pelo governador de Minas Gerais Romeu Zema; de Santa Catarina, Jorginho Mello;.do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel; de Goiás, Ronaldo Caiado, a vice-governadora do DF, Celina Leão, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas,

O governo Lula é contra a equiparação de traficantes a terroristas. Integrantes do governo citam repercussões diplomáticas e dificuldades para obtenção de crédito internacional como impasses, enquanto trabalha para aprovar o Projeto de Lei Antifacção.

Os governadores pretendem explorar o apoio popular à ação em oposição à fala do presidente nesta terça (04), que classificou a megaoperação de “desastrosa”.

“Sem Bolsonaro, finalmente a direita conseguiu uma pauta que de fato engaje a população, não era anistia nem blindagem. O tema saiu do Rio e agora é nacional”, pondera o marqueteiro político Alberto Lages, autor do livro ‘Cabeça de Candidato’.

Especialista em comunicação política, ele diz que parte da esquerda não compreende a aprovação popular de uma ação com tantos mortos. E avalia que a polarização no debate deve crescer à medida em que a pauta se mantiver na seara da segurança.

“A esquerda não vê legitimidade na raiva do cidadão. Matar não resolve o crime, mas não há uma solução colocada. A saída é esperar um projeto de futuro, educação, que nunca vem. Do mesmo modo, a direita não entende o receio legítimo de uma parcela da população, pobre e negra, de uma polícia agindo sem controle”.

A manutenção da pauta no noticiário dependerá, ele analisa, de para onde Cláudio Castro irá manejar o leme da narrativa, ou seja, como o governo a partir de agora vai se posicionar e se outras operações do tipo virão. Para 2026, ele aponta a possibilidade de surgir um ‘Bukele’ à brasileira: ele faz referência ao controverso presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que reduziu a criminalidade no pequeno país da América Central ao introduzir uma dura política de combate às gangues. Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, um regime de exceção com detenções ilegais e tortura.

“Vai aparecer alguém para se vender como um Bukele. Alguém que não tem esse discurso, mas vai se transformar nessa pessoa, tentando capitalizar em cima do medo”, projeta.

Castro cresce e Paes matiza discurso

É de euforia o clima no Palácio Guanabara. Em uma semana, o governador saltou de 460 mil seguidores nas redes sociais para 2,1 milhões, salto de 356%. A aprovação popular da operação e a explosão do nome de Castro a nível também é motivo de celebração. O problema: o que fazer com isso?

Aliados do prefeito Eduardo Paes (PSD), cuja oposição a Castro já foi bem mais enfática, reconhecem que o momento é do governador e que, pela primeira vez, em cinco anos de mandato, ele tem o controle da narrativa. Mas tanto eles, como marqueteiros consultados pela coluna, ponderam que o caminho para o futuro de Castro é estreito.

Consolidado como candidato para o Senado, Castro não tem seu sucessor definido.“Ele não vai sair para ser Senador e deixar o cargo com o presidente da Assembleia; não vai se arriscar para ser candidato à Presidência, porque tem figuras de expressão nacional já bem colocadas”, afirmou à coluna o marqueteiro Paulo Vasconcelos, responsável pela campanha que reelegeu Castro no primeiro turno em 2022.

A megaoperação e a forma como - até aqui - Castro lidou com a repercussão revelam, para ele, que enfim o governo passou a se comunicar. “Castro não tem uma rejeição cristalizada na sociedade como o Crivella, o Freixo, o próprio Paes. Ele teve um resultado muito expressivo, que se repetiu com Ramagem”, diz ele, em referência aos 32% de votos que o candidato derrotado a prefeito do Rio Alexandre Ramagem teve em sua primeira eleição para o Executivo.

“Essa não é uma pauta episódica. É o tema da eleição de 26”, garante o marqueteiro.

Aliados de Paes previam adesão popular ainda maior à megaoperação no Rio

Aliados do prefeito Eduardo Paes previam que os resultados de pesquisas Datafolha e Quaest seriam ainda maiores que os registrados.

O grupo político mais próximo do prefeito descarta, porém, que houve uma mudança de posição do prefeito com relação aos comentários sobre a política de segurança do estado. Quase um ano antes da megaoperação, em outubro de 2024, Paes e aliados foram às redes sociais denunciar “falta de autoridade” do estado após nove ônibus serem sequestrados.

Na semana passada, quando mais de 100 foram usados por criminosos, Paes não criticou o governo em público. Nos bastidores, aliados apontam falta de continuidade da presença do Estado após a megaoperação.

Internamente, a leitura é de que é preciso perceber que a opinião pública está “diferente”, o crime avançou muito no Rio e há um cansaço generalizado. O prefeito ensaia há meses, como mostrou a coluna, uma aproximação com Castro, com vistas a uma ainda improvável composição eleitoral conjunta em 2026.

E observam: nenhum político surfou na onda provocada por Castro, nem Rodrigo Bacellar (União Brasil), que já foi o principal opositor ao prefeito com vistas à 2026.