Cartazes, mulheres deitadas no chão e pais de meninas: atos contra o feminicídio mobilizam 90 cidades do país
A escalada de casos de feminicídio no Brasil motivou protestos em ao menos 90 cidades das cinco regiões do país, incluindo 24 capitais e o Distrito Federal, convocados pelo Movimento Levante Mulheres Vivas. Em São Paulo, onde houve a maior adesão, a manifestação na Avenida Paulista contou com a participação de 9,2 mil pessoas, segundo dados do Monitor do Debate Político, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em parceria com a ONG More in Common. A primeira-dama Janja da Silva compareceu ao ato realizado em Brasília.
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Acompanhada pelas ministras Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Márcia Lopes (Mulheres), Anielle Franco (Igualdade Racial), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), a primeira-dama defendeu mudanças no Código Penal para os crimes cometidos contra mulheres.
A primeira-dama, Janja Lula da Silva, durante ato do Levante Mulheres Vivas, em Brasília
Marcelo Camargo/Agência Brasil
— Política pública não falta. O que falta é vergonha na cara dos homens, um pouco mais de humanidade. A gente precisa de penas mais duras para o feminicídio — discursou Janja.
Ato na Paulista
A manifestação em São Paulo começou às 14h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), e ocupou cerca de dois quarteirões. No início, dezenas de mulheres se deitaram no chão com o intuito de “simbolizar e vivenciar” o luto em memória das vítimas de feminicídio. Além das intervenções lúdicas, ativistas também proferiram palavras de ordem.
Homens participaram dos protestos contra a violência contra a mulher
Nelson Almeida/AFP
No carro de som, os manifestantes se revezaram para cobrar políticas de combate à violência, e incentivaram a realização de denúncias ao Ligue 180, do Ministério das Mulheres.
Homens, crianças e mulheres de todas as idades levaram cartazes com frases como "nem uma a menos" e "parem de nos matar". Estiveram presentes parlamentares de esquerda, como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).
Muitos pais aproveitaram o ato para levar seus filhos e incentivar a discussão sobre gênero. Foi o caso da economista Daniela Carbinato, que levou as duas filhas e seu marido para a manifestação. As meninas, de seis e nove anos, seguravam com entusiasmo um cartaz com a frase "chega de violência".
— A gente precisa, desde cedo, fazer elas entenderem o contexto em que vivem e os direitos que têm. É uma questão complexa, mas o assunto aparece naturalmente. Com a mais velha, as colegas de escola dela já estão lendo sobre o feminismo, já houve um episódio de perseguição na escola com uma amiga, então a gente acaba discutindo o tema desde cedo — contou Daniela.
Outras capitais
No Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana, o ato iniciado às 14h chegou a fechar as duas vias da Avenida Atlântica. Contudo, alguns motoristas tentaram furar o bloqueio e, por orientação da prefeitura, os manifestantes permaneceram somente na faixa que já é interditada aos domingos.
Em Belo Horizonte, a manifestação começou por volta das 11h, na Praça Raul Soares, e se estendeu em uma marcha até a Praça da Estação. Em Curitiba, o protesto teve início às 10h, no Largo da Ordem. Somente Macapá (AP) e Salvador (BA) não registraram protestos. Na capital baiana, porém, a manifestação está marcado para o próximo domingo (14).
Casos brutais
De acordo com o Mulheres Vivas, a mobilização foi convocada pela indignação com a série de crimes recentes de grande repercussão.
O Brasil bateu recorde no registro de feminicídios em 2024, com 1.492 casos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Outras 3.870 mulheres escaparam de ser mortas. Somente na capital paulista o número de assassinatos do tipo entre janeiro e outubro de 2025 chegou a 53, dois a mais que todo o ano anterior.
— Foi o começo de uma resposta, e a gente quer brigar pelas pautas que temos. Criminalização da misoginia, exigência de orçamento, e que a gente tenha a atenção que a gente merece — afirmou a atriz Raquel Ripani, uma das idealizadoras do movimento.
Um dos casos mais brutais é o de Tainara Souza Santos, de 31 anos, que teve as duas pernas amputadas após ser atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro pelo ex-companheiro Douglas Alves da Silva, de 25, em São Paulo. Em entrevista neste domingo ao programa Fantástico, da TV Globo, a mãe de Tainara disse que Douglas “foi para matar” e o que fez “não tem justificativa”.
— Hoje foi a Tainara, amanhã a Evelyn, a Edna, a Maria. Isso tem que mudar — afirmou Lúcia Souza.
