Monarquista, ex-defensores de Eike, Brennand: quem são os advogados de Bolsonaro que ficaram 'perplexos' com prisão
Desde janeiro, é o criminalista Celso Vilardi quem coordena a equipe de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a mais de 27 anos de prisão por integrar, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), o "núcleo crucial" da trama de um golpe de Estado. Vilardi sucedeu na liderança do grupo o advogado Paulo Cunha Bueno, que, apesar da mudança, segue na equipe. Ambos assinaram uma nota em que classificar a prisão preventiva de Bolsonaro, neste sábado, como uma medida que causou "profunda perplexidade".
Na decisão em que determinou a prisão preventiva, o ministro do STF Alexandre de Moraes afirmou que a tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro foi violada pouco depois da meia-noite deste sábado. Além disso, citou uma vigília convocada para a noite do mesmo dia pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a porta do condomínio onde o ex-presidente mora. O magistrado considerou que havia risco de fuga.
Vilardi e Cunha Bueno alegaram que a cronologia dos fatos demonstraria que a medida não se justifica e citaram a previsão constitucional do direito de reunião e da liberdade religiosa, para questionar a menção à vigília.
Ao visitar Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal, Paulo Cunha Bueno afirmou ser "inconcebível" que o ex-presidente Fernando Collor tenha direito a prisão domiciliar e Bolsonaro, não.
— É inconcebível que o ex-presidente Fernando Collor de Mello seja mantido em prisão domiciliar, por conta de apneia do sono e de doença de Parkinson, enquanto que o presidente Bolsonaro seja submetido a uma prisão vergonhosa, nas dependências da Polícia Federal, diante de todo o estado de saúde que ele representa — afirmou o advogado.
Cuenha Bueno também declarou que Bolsonaro não tinha condições de fugir de sua casa, já que possui monitoramento e escolta na porta de sua residência. O advogado, porém, evitou falar sobre o fato do ex-presidente ter tentado romper a tornozeleira eletrônica, como ele próprio admitiu aos agentes que foram ao local.
Quem são os advogados
Coordenador da equipe jurídica de Jair Bolsonaro desde janeiro deste ano, o criminalista Celso Vilardi também tem em seu currículo a defesa de empresários investigados em operações como a Lava-Jato e a Castelo de Areia. Além disso, representou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do Mensalão e o empresário Eike Batista.
Formado em Direito e mestre em Direito Processual Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Celso Vilardi é especialista em Teoria Geral do Processo. Já atuou como coordenador e, atualmente, é professor do curso de pós-graduação em Direito Penal Econômico na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV Law).
A entrada de Vilardi no caso da trama golpista chegou a gerar desconfianças entre aliados de Bolsonaro. Antes de assumir a defesa do ex-presidente, ele deu entrevistas elogiando as investigações da Polícia Federal. Em uma delas, disse considerar "indiscutível a existência de uma organização criminosa" e que havia “indícios consistentes contra as pessoas indiciadas”, inclusive contra Bolsonaro. Depois, passou a dizer que, ao conhecer o processo integralmente, sua avaliação mudou.
Antes de Vilardi, quem comandava a defesa de Bolsonaro era Paulo Cunha Bueno, que continua compondo o grupo de defensores do ex-presidente.
Nas redes sociais, Cunha Bueno se apresenta como advogado criminalista, professor, doutor em Direito Penal na PUC-SP e escritor. Ele tem um escritório de advocacia em São Paulo. Em entrevista à Folha de S. Paulo, no ano passado, o defensor disse que Bolsonaro cresceu na fazenda de um primo seu, Jorge Alves Lima, em Eldorado (SP) e conheceu o Exército numa operação na região — chefiada pelo avô de Bueno — para capturar o guerrilheiro Carlos Lamarca.
Primos de Bueno se destacam entre os que defendem a volta da monarquia no país, como Antônio Henrique Cunha Bueno, deputado federal por sete mandatos. À Folha, o advogado — cuja foto no WhatsApp era de uma bandeira do Brasil Império — disse ser simpático ao regime monarquista e classificou a República como um "erro".
O perfil do advogado também se alinha ao do bolsonarismo em outras duas frentes: o militarismo e as armas. Tem parentes militares, passou ele próprio pelo Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR), participou de competições de tiros e chegou a integrar o conselho de administração da fabricante de armas Taurus, no início dos anos 2010.
O advogado já atuou em alguns casos de grande repercussão no país. Ele defendeu, por exemplo, o empresário Thiago Brennand, atualmente preso por estupro, no episódio em que ele foi acusado de agredir brutalmente uma mulher em uma academia de luxo em São Paulo.
Cunha Bueno também representou Marta Aparecida Gomes da Silva, apontada como figura central em um suposto esquema de exploração sexual envolvendo Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia. Segundo a polícia, ela seria a responsável por organizar festas e contratar mulheres para os eventos promovidos pelo empresário.
