Maioria da esquerda na Alerj deve votar a favor da manutenção da prisão de Bacellar; aliados de Castro vão optar pela soltura
Os partidos de esquerda da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) devem se dividir em relação à manutenção ou não da prisão do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União). A maioria deve ser a favor da manutenção da prisão, mas há divergências. Uma reunião, na tarde desta quinta-feira (4), irá traçar as estratégias de PT, PSOL e PSB. Entre os apoiadores do governo Cláudio Castro (PL), Bacellar colherá votos suficientes para sua soltura.
Juntos, os partidos de esquerda tem 15 parlamentares. A tendência é que parte do PT vote a favor da soltura de Bacellar. Ouvidos sob reserva, eles admitem dúvidas sobre as investigações da Polícia Federal que mostraram atuação do chefe do Legislativo para proteger o deputado TH Jóias: se dizem contra a prisão de Bacellar, mas a favor do seu afastamento do cargo.
Reeleito presidente da Assembleia em fevereiro por unanimidade, Bacellar tem bom trânsito entre políticos de esquerda. É aliado, por exemplo, do ex-presidente da Casa, André Ceciliano, atual secretário de Assuntos Parlamentares do governo Lula.
Aliados do governador Cláudio Castro, por sua vez, argumentam que Bacellar deve conseguir pelo menos 40 votos no plenário a favor de sua soltura. A questão é o depois: já há deputados pedindo votos e projetando cenários para o caso de uma nova eleição para presidência da Alerj. Maioria da esquerda da Alerj deve votar a favor da manutenção da prisão de Bacellar; aliados de Castro votarão por sua soltura.
Como será a sessão que vai decidir sobre a soltura ou não de Bacellar?
A votação sobre a soltura do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, será aberta e com voto nominal. A sessão para soltar o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, deve ser marcada para a tarde desta sexta-feira (5). Essa é a tendência caso sejam respeitados os prazos de envio do processo do STF para a Alerj.
Um parecer será emitido pela Procuradoria da Casa. Na sequência, a Comissão de Constituição e Justiça faz uma análise em reunião convocada com prazo de 24 horas e vota um projeto de resolução recomendando ou não a soltura de Bacellar. Nos bastidores, a tendência é que pelo menos 40 votos favoráveis.
Presidente da comissão, o deputado Rodrigo Amorim (União) afirmou ao CBN Rio que o momento é de "respeito às instituições".
"Não cabe ilação, análise de mérito sobre a decisão, nada. A Constituição precisa ser observada e ela diz que a palavra é dos deputados. O plenário será soberano".
Amorim disse ainda que não vai permitir discussão de contexto eleitoral durante os debates. Segundo ele, a Alerj não pode parar.
"Temos debates importantes antes do recesso. A adesão do estado do Rio ao Propag, a votação do orçamento de 2026, e uma série de mensagens que precisam ser votadas", afirmou.
Entenda o caso:
O deputado estadual Rodrigo Bacellar, que integra o União Brasil, é o quinto presidente da Assembleia Legislativa do Rio a ser preso. Ele foi alvo de um mandado de prisão preventiva nesta quarta-feira, suspeito de vazar informações sobre a operação que prendeu outro político, o TH Joias, em setembro.
A ação se insere no contexto da decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito do julgamento da ADPF 635/RJ (ADPF das Favelas) que, dentre outras providências, determinou que a Polícia Federal conduzisse investigações sobre a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no estado e suas conexões com agentes públicos.
Relembre o caso de TH Joias
TH Joias, deputado estadual
Reprodução/Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
A Polícia Federal prendeu, em setembro, o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, do MDB. O parlamentar é suspeito de tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, além de negociar armas para o Comando Vermelho. Ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal, Ministério Público do Rio e Polícia Civil.
O partido MDB decidiu expulsar o parlamentar após tomar conhecimento da operação. Em nota, a sigla afirmou que o deputado "já não seguia a orientação partidária em seus posicionamentos e votações na Assembleia Legislativa do Rio". Nas redes sociais, TH se apresentava como Secretário Executivo do MDB.
Além dele, outras duas pessoas foram presas pelo MP: o assessor do parlamentar, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves; e o traficante Gabriel Dias de Oliveira.
As investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo TH, chefes do Comando Vermelho e outros agentes públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares e o ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena, que foi preso nesta manhã. Carracena já foi secretário na Secretaria Municipal de Ordem Pública, subsecretário de defesa do consumidor e Secretário Estadual de Esportes por um curto período, em 2022. No mesmo ano, ele foi acusado de defender o nazismo.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, os acusados mantêm vínculos com a facção criminosa Comando Vermelho, atuando nos Complexos da Maré e do Alemão e na comunidade de Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio. O grupo é acusado de intermediar a compra e venda de drogas, fuzis do Paraguai e equipamentos antidrones da China usados para dificultar operações policiais nessas áreas. Todos os materiais também seriam revendidos para facções rivais. As investigações identificaram ainda movimentações financeiras suspeitas envolvendo empresas ligadas a TH Joias, indicando a prática de lavagem de dinheiro.
Para o MP, o deputado usou o mandato para favorecer o Comando Vermelho, inclusive com nomeação para cargos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
