Impacto de Flávio, alívio no governo Lula e mudanças em 2026: veja a análise dos colunistas do GLOBO sobre a prisão de Bolsonaro
A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste sábado é consequência direta da ação de um dos filhos dele e traz alivio ao governo Lula, ao mesmo tempo que remexe o cenário de candidaturas da direita em 2026. É o que avaliam colunistas do jornal O GLOBO. A decisão judicial do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contra o ex-mandatário cita "violação" de tornozeleira eletrônica, menciona vigília e alega que não era possível manter domiciliar. Leia as análises abaixo:
Vera Magalhães
Numa avaliação governistas e bolsonaristas coincidem: o apelo feito por Flávio Bolsonaro a uma vigília para "lutar" pelo pai e os indícios de violação de sua tornozeleira eletrônica, apenas um dia depois da notícia de que o governo dos Estados Unidos incluiu novos produtos da pauta de exportações brasileiras na lista de exceções ao tarifaço, é sinal de que o entorno de Jair Bolsonaro entendeu que se esgotou a estratégia de obter apoio de Donald Trump para pressionar os Poderes no Brasil e, assim, tentar reverter a iminente prisão do chefe do clã.
Para o Planalto, os termos das negociações mais recentes com o governo Trump, inclusive com a menção explícita a Lula no decreto que determinou as novas exceções ao tarifaço, deixam claro que houve uma "despolitização" dessa agenda, e que Bolsonaro não condiciona mais as negociações entre os dois países.
A decisão de Moraes também foi responsável por tranquilizar o governo Lula, que vinha há alguns dias monitorando a possibilidade de cumprimento definitivo da pena pelo ex-presidente e temia que Alexandre de Moraes determinasse que ele se desse em instalações do Exército.
A apreensão no entorno de Lula era que, caso a decisão fosse nesse sentido, haveria um novo momento de tensionamento das relações entre as Forças Armadas e o governo, quebrando o atual momento, descrito como de normalidade institucional, sobretudo com o Exército
Além disso, o entorno do presidente levava em consideração o risco de que a presença de Bolsonaro em instalações militares suscitasse a retomada de acampamentos em QGs do Exército na capital federal e Brasil afora.
A prisão preventiva de Bolsonaro também congela o processo de decisão a respeito do candidato da direita que terá seu apoio em 2026.
Por mais que o ex-presidente insista em dizer que o candidato será ele, a despeito da inelegibilidade, os caciques do PL e dos partidos do Centrão esperavam para dezembro esta decisão. Audiências autorizadas por Moraes nos próximos dias eram aguardadas como indicadores importantes dos próximos passos para essa definição.
A colunista também aponta que, além de terem motivado a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, a violação da sua tornozeleira eletrônica e a convocação de uma manifestação para a frente do seu condomínio devem dificultar que a Primeira Turma do STF acate o pedido da defesa do ex-presidente de prisão domiciliar humanitária para o cumprimento de sua pena no curso da trama golpista. A análise foi feita ao blog por uma fonte diretamente ligada ao processo da trama golpista.
Bernardo Mello Franco
Em vídeo que motivou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) instou seguidores a "reagir" e ocupar o acesso ao condomínio do ex-presidente.
A convocação foi divulgada nesta sexta-feira nas redes sociais, o que levou a Polícia Federal a pedir a prisão para a garantia da ordem pública.
Merval Pereira
A prisão de Bolsonaro só se justifica pelo rompimento da tornozeleira eletrônica, que significa uma resistência à decisão da justiça. As outras justificativas do ministro Alexandre de Moraes são secundárias, sem importância. A perturbação da ordem pública deveria ser contida pelo policiamento. Mas, como já estava em prisão domiciliar, Bolsonaro deu um recado de que não acatava a ordem da justiça ao romper a tornozeleira. No caso de Lula, houve vigília no sindicato dos metalúrgicos, e depois em Curitiba. É o normal para líderes populistas.
Míriam Leitão
Apesar de a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ser “preventiva” e ter sido decretada por risco à ordem pública, ela pode acabar sendo seguida pela prisão para cumprimento da pena. Isso porque a decisão do ministro Alexandre de Moraes destaca que o caso está na “iminência do trânsito em julgado do acórdão condenatório, inclusive com rejeição unânime dos embargos de declaração interpostos pela defesa do réu”.
A colunista também aponta que Moraes considera que a organização criminosa responsável pela tentativa de golpe de Estado continua em operação, mesmo após a condenação de seus integrantes pelo Judiciário. Ele cita a fuga do ex-deputado Alexandre Ramagem para os Estados Unidos e aponta que a vigília convocada por Flávio Bolsonaro “pretende reviver os acampamentos ilegais que geraram o deplorável dia 8/1/2023”.
Na mensagem postada ontem no X, o senador convoca apoiadores a se reunirem em frente ao condomínio onde Bolsonaro cumpria prisão domiciliar, incitando que “saíssem do celular e fossem lutar”. Após a derrota eleitoral em 2022, vale lembrar, manifestantes chegaram a acampar em frente a quartéis pedindo intervenção militar.
“Mesmo o Supremo Tribunal Federal tendo condenado seu núcleo crucial por atentado ao Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, a organização criminosamente articulou a fuga de um dos condenados, Alexandre Ramagem, e, agora, pretende reviver os acampamentos ilegais que geraram o deplorável dia 8/1/2023, utilizando-se de influência política por parte do filho do líder da organização criminosa, Jair Messias Bolsonaro”, escreveu Moraes.
