Ex-presidente do INSS recebia até R$ 250 mil por mês em propina, aponta investigação

 

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O ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi preso nesta quinta-feira em nova fase da operação da Polícia Federal que investiga desvios em descontos ilegais de aposentados e pensionistas. Segundo as investigações, ele recebia até 250 mil reais por mês em propinas pagas pela Conafer, entidade que operacionalizava os descontos indevidos por meio de convênios com o instituto. A Polícia Federal aponta que Stefanutto era uma peça estratégica no esquema, sustentado pelo Acordo de Cooperação Técnica firmado entre o INSS e a Conafer em 2017. De acordo com a PF, mensagens, planilhas e ordens de repasse sem comprovação de filiação mostram que o esquema teria desviado mais de 640 milhões entre 2017 e 2023.

As apurações indicam que o valor da propina aumentou depois que Stefanutto assumiu a presidência do INSS, indicado pelo então ministro Carlos Lupi. Antes disso, ele já recebia de 50 mil a 100 mil mensais. Servidor da Receita Federal, Stefanutto foi procurador-geral federal especializado do INSS entre 2011 e 2017, ano em que o acordo foi assinado. A propina, segundo a PF, foi paga por meio de empresas e até de uma pizzaria.

Após a primeira fase da Operação Sem Desconto, em abril, ele foi afastado do cargo e posteriormente demitido por ordem do presidente Lula, embora Lupi tenha tentado mantê-lo na função.

Além de Stefanutto, outras sete pessoas foram presas, entre elas o ex-procurador-geral do INSS Virgílio Antônio Oliveira Filho; a esposa dele, Thaisa Hoffmann; o diretor da Conafer, Tiago Abraão Ferreira Lopes; e empresários ligados à entidade. Também houve mandado contra Antônio Carlos Antunes Camilo, conhecido como “Careca do INSS”, já preso desde setembro.

A PF cumpriu 63 mandados de busca no Distrito Federal e em 14 estados. Foram feitas buscas em endereços do ex-ministro da Previdência no governo Bolsonaro, José Carlos Oliveira, que passou a se chamar Ahmed Mohamad e terá de usar tornozeleira eletrônica. Na planilha encontrada pelos investigadores, de fevereiro de 2023, tem registro de pagamento de 100 mil a "São Paulo Yasser". Segundo a investigação, Ahmed tinha como apelidos "Yasser" e "São Paulo".

Também houve buscas em imóveis do deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e do deputado estadual Edson Araújo (PSB), do Maranhão, que teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pela CPMI do INSS. Segundo o presidente do colegiado, senador Carlos Viana, as apurações agora chegam ao alto escalão político envolvido no esquema.

Durante as buscas, a PF apreendeu carros de luxo, dinheiro em espécie, armas e munições. Os investigados respondem por corrupção ativa e passiva, organização criminosa, inserção de dados falsos, estelionato previdenciário e ocultação de patrimônio.

Em nota, a defesa de Alessandro Stefanutto disse que vai comprovar sua inocência. O gabinete do deputado Euclydes Pettersen afirmou que ele está à disposição da Justiça. As demais defesas não foram localizadas.