Aliados de Derrite apostam em desgaste passageiro por atuação na relatoria do PL Antifacção

 

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O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), relator do Projeto de Lei (PL) Antifacção e secretário de Segurança de SP licenciado, passou a semana sendo criticado por Palácio do Planalto, especialistas, membros da base e até da oposição, devido às sucessivas alterações no parecer do texto que foi proposto pelo governo. Anteontem, governadores opositores, incluindo Cláudio Castro (PL), do Rio, pediram ao presidente da Casa, Hugo Mota (Republicanos-PB), para que ele procurasse o Supremo Tribunal Federal para evitar que ocorram questionamentos jurídicos. Outro pleito dos governadores foi que a análise da matéria pelos parlamentares fosse adiada por 30 dias. Essa segunda solicitação não foi aceita.

Após a quarta revisão, o projeto, que tramita na Câmara dos Deputados depois de ser enviado pelo Executivo, poderá ser votado na próxima terça-feira (18). Porém, para a base governista, mesmo após a nova redação, o texto de Derrite continua com problemas, entre os quais a forma de financiamento da Polícia Federal (PF) e a caracterização do crime de “facção criminosa".

– Em vez de fortalecer a PF, o texto promove uma fragmentação orçamentária em relação aos fundos que compromete a eficiência no enfrentamento às organizações criminosas de atuação interestadual – afirmou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), pelo X.

Ele se refere ao fato de Derrite ter incluído na quarta versão a possibilidade de o perdimento de bens apreendidos ser direcionado ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol). No entanto, caso ocorram ações conjuntas entre as polícias Federal e estadual, os valores deverão ser rateados entre diversos fundos.

Para aliados de Derrite, no entanto, o sucesso da construção do texto final do PL Antifacção, embora tenha começado com um certo ruído, vai depender do seu resultado final, seja na próxima semana, seja quando a matéria puder ser votada.

– Só haverá desgaste com potencial eleitoral para Derrite e Tarcísio caso o texto não seja votado este ano. O tema é muito quente, adere entre a população. O Derrite precisará de tempo para aprovar o PL e vai conseguir sinucar a esquerda – avalia um bolsonarista que se encontrou recentemente com o deputado-relator.

Outra figura conhecida de Brasília, que também esteve recentemente com Derrite, diz que as idas e vindas em relatórios são normais no Congresso. Segundo ele, as versões de textos são uma forma de "colocar o bode na sala para depois tirá-lo nas negociações" e que estão errados os que pensam que apresentar diferentes versões é sinal de fraqueza.

Porém, para o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas, o estrago na imagem de Guilherme Derrite já foi feito.

– A fraqueza demonstrada por Guilherme Derrite se deu, pelo menos ao meu juízo, em duas frentes. Ele chegou lá para encaminhar a qualificação das organizações terroristas, mas não sabia das implicações disso. E de outro lado, acho que ele não dimensionou o que seria bater de frente com a Polícia Federal. Quanto mais para a frente aprovar o PL, mais ele vai ter que aceitar a agenda imposta. E por que fica ruim pra ele? Porque ele chegou meio que o bam-bam-bam da história, para relatar, para resolver. Porém, a realidade política não é isso. Política é você chegar, escutar o que os outros têm a dizer e tentar construir, colocando a divergência no mesmo ponto de convergência possível. E isso demanda tempo– diz Teixeira.

Para o especialista, mesmo que o texto seja aprovado mais adiante, o deputado não vai conseguir tirar de si a pecha de inábil político, o que poderá respingar em seu chefe em São Paulo, Tarcísio de Freitas.

– O secretário de Segurança Pública sai pra relatar algo com autorização do governador, é claro, não é? E acaba sendo, digamos assim, não apenas pouco eficiente, mas mostra uma certa trapalhada também. Ainda mais porque, hoje, o Tarcísio, novamente, está na agenda como candidato presidencial – ressalta Teixeira.

Procurado, Guilherme Derrite, que é cotado para ser candidato ao Senado, enviou a seguinte nota, via assessoria.

"O Derrite enxerga que tudo isso é parte de um processo para que haja algum avanço. Ele não está pensando em relatório, em política ou vaidade. Ele está pensando no resultado final e em como esse resultado pode salvar vidas. É um assunto muito grave pra pensarmos em números de popularidade. O relatório inicial foi um ponto de partida, não de chegada. E com quem for preciso conversar, ele vai conversar, pensando em chegar em algum avanço efetivo na luta contra o crime. Ele poderia bater o pé e dizer que a versão inicial seria a que valeria, mas ele prefere ser democrático e ouvir todos no processo e ter um projeto aprovado do que esbravejar e morrer na praia sem nada aprovado".