Trump renomeia Instituto da Paz em homenagem a si mesmo
Um prédio governamental inativo na capital dos Estados Unidos pode parecer um cenário improvável para a assinatura de um acordo de paz. Mas, quase nove meses depois de a administração do presidente americano, Donald Trump, tomar o controle da sede do Instituto de Paz dos EUA em um confronto público — e praticamente fechá-lo —, o centro ressurgiu, agora rebatizado em homenagem ao líder republicano.
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Na manhã anterior à cerimônia em que Trump receberia os presidentes de Ruanda e da República Democrática do Congo para assinar o acordo no instituto, trabalhadores chegaram ao edifício no National Mall para instalar o nome de Trump, em grandes letras prateadas, em dois lados da fachada. O nome foi colocado à esquerda de onde já estava gravado o nome original do instituto. O resultado foi a rebatização do prédio como “Instituto de Paz dos Estados Unidos Donald J. Trump”.
A Casa Branca confirmou na noite de quarta-feira que o instituto havia sido renomeado em homenagem ao presidente “como um poderoso lembrete do que uma liderança forte pode alcançar pela estabilidade global”, disse a porta-voz Anna Kelly, acrescentando:
— Parabéns, mundo.
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Renomear o instituto, criado há décadas e elogiado por presidentes como Ronald Reagan, que o sancionou por lei, e gravar o nome de Trump na fachada parece ser uma continuidade do esforço do presidente para se apresentar como um grande negociador diplomático enquanto faz campanha por um Prêmio Nobel da Paz.
Ao longo do último ano, Trump reivindicou crédito por encerrar uma série de conflitos, incluindo a guerra de três décadas entre Ruanda e o Congo. A Casa Branca já afirmou anteriormente que seu trabalho diplomático é mais impressionante do que o do Instituto da Paz, que classificou como uma “entidade inchada e inútil”.
Centro da disputa
Ainda assim, a medida voltou a colocar o instituto no centro de uma disputa acirrada. A sede do órgão está vazia desde que o governo assumiu o prédio, em março, como parte de um esforço mais amplo do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) — anteriormente liderado por Elon Musk — para desmantelar instituições que atuam na política externa.
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Nas semanas seguintes à tomada do edifício, a administração demitiu a maior parte da equipe e desmontou a organização. Chegou até a remover uma peça interna que exibia o nome e o logotipo do instituto, uma pomba com um ramo de oliveira. George Foote, ex-advogado do instituto e agora parte do processo movido contra o governo, afirmou em comunicado na quarta-feira que “renomear o prédio é um insulto adicional ao prejuízo já causado”.
O edifício de cerca de 14 mil metros quadrados é uma peça central do processo judicial. O instituto foi criado pelo Congresso e recebia verbas federais para seus programas, mas ex-funcionários argumentam que ele não faz parte do Poder Executivo e, portanto, não está sujeito à autoridade do presidente.
O prédio de destaque, com teto de vidro, projetado como um símbolo nacional da paz, foi construído em 2012. Ele foi financiado inteiramente por doadores privados e fica em um terreno pertencente à Marinha, que transferiu a jurisdição para o instituto há mais de duas décadas. Uma pessoa com conhecimento da situação, não autorizada a falar publicamente, disse que o governo recontratou alguns funcionários antes do evento desta quinta-feira.
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Depois que ex-funcionários do instituto entraram na Justiça, ele recuperou temporariamente o controle do prédio em maio, quando um juiz federal considerou a intervenção do governo Trump uma “usurpação grosseira de poder” e devolveu tanto o edifício quanto a antiga liderança.
Mas, após o governo recorrer da decisão, um tribunal superior devolveu o prédio ao Poder Executivo enquanto o caso segue em análise. O atual chefe do instituto — um alto funcionário do Departamento de Estado que havia sido demitido de um cargo na Casa Branca durante o primeiro governo Trump — não apresentou publicamente nenhum plano para a organização ou para o prédio.
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No mês passado, a corte rejeitou um último pedido dos ex-funcionários para retomar o controle do edifício. Mas antigos membros da equipe — muitos dos quais continuam de forma independente o trabalho internacional do instituto — afirmaram que pretendem protestar contra o que chamam de roubo do prédio nesta quinta-feira, durante a cerimônia de assinatura que será conduzida por Trump. A decisão da Corte de Apelações sobre o futuro do instituto e de sua sede é esperada apenas para o ano que vem.
— Os verdadeiros responsáveis prevalecerão — disse Foote na quarta-feira. — E restaurarão o Instituto da Paz dos EUA e o edifício aos seus propósitos legais.
