Trump recebe presidente sírio em reunião histórica na Casa Branca: 'Líder muito forte'
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira o presidente interino sírio, Ahmed al-Sharaa, para uma reunião sem precedentes, poucos dias depois de Washington tê-lo retirado de uma lista de terroristas. Al-Sharaa, que liderou uma coalizão rebelde de islamistas responsável por derrubar Bashar al-Assad após décadas no poder, é o primeiro líder sírio a visitar a Casa Branca desde a independência do país, em 1946. Esta é a 20ª viagem ao exterior do líder sírio desde que se nomeou presidente da Síria em janeiro, e sua segunda visita aos Estados Unidos, após sua presença na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, em setembro. A agenda cheia de al-Sharaa nos últimos meses, que vive seu capítulo mais notório hoje, evidencia o grande objetivo do encontro com Trump: reposicionar a Síria no cenário global em termos econômicos, geopolíticos e diplomáticos após uma longa e devastadora guerra civil no país.
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Após a reunião, o líder sírio foi elogiado por Trump, que afirmou que o passado "difícil" de al-Sharaa como jihadista o ajudaria a reconstruir o país. O presidente americano garantiu desejar que a Síria se torne "muito bem-sucedida" após mais de uma década de guerra civil e acrescentou que acredita que al-Sharaa consegue atingir esse objetivo.
— Ele é um líder muito forte. Ele vem de um lugar muito difícil e é um cara durão — disse Trump a repórteres após a reunião, que foi fechada à imprensa. — As pessoas dizem que ele teve um passado difícil, todos nós tivemos passados difíceis... E eu acho, francamente, que se você não tivesse um passado difícil, não teria chance.
Trump afirmou ainda que a Síria é uma "parte importante" de seu plano para um acordo de paz mais amplo no Oriente Médio, que o presidente americano espera que fortaleça o frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza.
No X, a presidência da Síria afirmou que al-Sharaa e Trump discutiram a relação bilateral, "as maneiras de fortalecê-la e desenvolvê-la, bem como uma série de questões regionais e internacionais de interesse comum" e publicou fotos dos dois no Salão Oval - acompanhados do vice-presidente americano, JD Vance, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, e o general de alta patente das Forças Armadas dos EUA, Dan Caine.
Reunião inconvencional
Al-Sharaa chegou às 11h37 no horário local (13h37 no horário de Brasília), informou a Casa Branca, sem passar pela entrada principal e sem o protocolo habitualmente reservado a chefes de Estado e de governo estrangeiros, que Trump quase sempre recebe pessoalmente no pórtico. Os jornalistas também não foram convidados ao Salão Oval no início da reunião, como costuma ocorrer nas visitas oficiais. Na semana passada, Trump chegou a dizer que Sharaa está fazendo "um ótimo trabalho".
— É uma vizinhança difícil. E ele é um cara duro. Mas me dei muito bem com ele, e muito progresso foi feito com a Síria — declarou o presidente americano.
A Síria é governada pelo chefe interino desde a queda de Assad, em dezembro de 2024, após quase 14 anos de guerra civil. O grupo que al-Sharaa liderava, o Hayat Tahrir al Sham (HTS), anteriormente ligado à Al Qaeda, foi retirado da lista de organizações terroristas de Washington em julho. Na sexta-feira, o governo Trump também retirou o líder sírio da lista de terroristas.
Desde 2017 até dezembro passado, o FBI oferecia uma recompensa de US$ 10 milhões de dólares (cerca de R$ 53,1 milhões) por qualquer informação que levasse à sua captura. Por iniciativa dos EUA, o Conselho de Segurança da ONU também suspendeu as sanções contra Sharaa na última quinta-feira.
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Objetivos da visita
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, com Donald Trump
Bandar AL-JALOUD / Palácio Real Saudita/ AFP
Al-Sharaa já havia se reunido com Trump em Riade, durante a viagem regional do presidente americano em maio. Na ocasião, Trump havia incentivado al-Sharaa a aderir aos Acordos de Abraão, que levaram vários países árabes a reconhecer Israel em 2020. Além disso, classificou o líder sírio de 43 anos como um “cara jovem e atraente” com um “pasado muito forte” e ordenou o levantamento de algumas das sanções incapacitantes dos EUA à Síria, um país que por décadas estava firmemente alinhado com os principais inimigos americanos Rússia e Irã.
No entanto, as sanções mais rigorosas dependem da aprovação do Congresso americano, ainda reticente, para serem totalmente suspensas e a visita do presidente sírio à Casa Branca busca justamente a remoção dessas medidas.
Outro tópico de extremo interesse para al-Sharaa é a negociação já iniciada pelas autoridades sírias com Israel para um acordo de segurança. Pelo pacto, Israel se retiraria das zonas do sul do país ocupadas após a queda de Assad. A expectativa do presidente sírio é que Trump concorde em pressionar o governo israelense a interromper a ocupação e os ataques em território sírio.
Esperava-se ainda que al-Sharaa assinasse um acordo para se juntar a 88 outros países numa coalizão global para derrotar o Estado Islâmico, que permanece ativo na Síria. No entanto, Trump não confirmou a assinatura de nenhum acordo em declaração a jornalistas após a reunião.
Embora o Estado Islâmico tenha perdido sua posição territorial na Síria em 2019, o grupo terrorista continua a ter uma presença no país, e há temores de que ele possa ressurgir se al-Sharaa não conseguir estabilizar e unir o país e consolidar suas próprias forças de segurança.
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Financiamento para reconstrução
Um relatório do Banco Mundial estima que o custo para a reconstrução da Síria seja de cerca de US$ 216 bilhões (R$ 1,1 trilhão). Desde que assumiu o poder, al-Sharaa visitou os ricos estados do Golfo para aumentar o investimento internacional. Em setembro, ele se tornou o primeiro presidente sírio a se dirigir à Assembleia Geral da ONU em quase 60 anos.
No mês seguinte, ele visitou o Kremlin e conheceu o presidente russo, Vladimir Putin, que já foi apoiador de Assad na luta de seu governo contra os rebeldes doe al-Sharaa. Eles discutiram o desenvolvimento dos campos de petróleo da Síria e outros projetos nos setores de energia, transporte e turismo.
Antes de viajar para Washington, al-Shara participou da COP30 com outros líderes mundiais em Belém, no Pará, e incentivou investimentos em energia renovável como parte dos planos de reconstrução de seu governo.
(Com AFP e New York Times)
