Trump ameaçou lançar ação militar contra a Nigéria após assistir a matéria na TV, afirma rede dos EUA

 

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O presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu ameaçar a Nigéria com uma operação militar após assistir a uma matéria na Fox News sobre ataques contra cristãos promovidos por grupos islâmicos, afirmou a rede americana CNN, citando fontes da Casa Branca. A ameaça, feita no fim de semana, deixou as autoridades nigerianas em alerta, e o presidente afirmou nesta terça-feira que o país não permite perseguição religiosa de qualquer tipo.

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Segundo fontes ouvidas pela CNN, a matéria foi exibida na sexta-feira, e Trump ficou imediatamente “irritado” após assistir, ainda a bordo do Air Force One a caminho da Flórida. Pouco depois, publicou a ameaça à Nigéria em sua rede social, o Truth Social.

“Se o governo nigeriano continuar permitindo o assassinato de cristãos, os EUA suspenderão imediatamente toda a ajuda e assistência à Nigéria e poderão muito bem invadir aquele país agora desonrado, ‘com armas em punho’, para eliminar completamente os terroristas islâmicos que estão cometendo essas atrocidades horríveis”, publicou no sábado. “Por meio deste, instruo nosso Departamento de Guerra a se preparar para uma possível ação. Se atacarmos, será rápido, brutal e certeiro, assim como os terroristas atacam nossos queridos cristãos!”

A Casa Branca garante que a ameaça de ofensiva militar não foi um impulso do líder americano: um representante disse à CNN que ele já pensava sobre o tema há algum tempo, e que planejava publicar algo em suas redes sociais.

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Na véspera da postagem, ele anunciou que a Nigéria voltaria a ser classificada como um “país de preocupação particular”, uma distinção reservada a países onde há “severas violações da liberdade religiosa”. Ele aplicou a mesma classificação ao Estado nigeriano em 2020, mas a medida foi derrubada por seu sucessor, Joe Biden. No domingo, também a bordo do avião presidencial, disse que prevê “muitas coisas” ao ser questionado sobre possíveis planos de um ataque na Nigéria, alegando que “eles estão matando cristãos, e em grande número”, e que “não vamos permitir que isso aconteça.”

“Sob as ordens do presidente Trump, o Departamento de Guerra está planejando opções para possíveis ações a fim de impedir o assassinato de cristãos na Nigéria”, disse a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, em um comunicado à CNN. “Quaisquer anúncios serão feitos diretamente pelo presidente.”

As acusações de violência contra cristãos, que correspondem a pouco menos da metade da população nigeriana, há anos estão presentes em discursos de lideranças conservadoras nos EUA. Uma das principais vozes sobre o tema é o senador republicano Ted Cruz: no mês passado, ele afirmou, citando dados de uma organização americana, que “50 mil cristãos foram mortos na Nigéria desde 2009”, número refutado pelo governo nigeriano.

— Acho isso um absurdo completo. Não tem qualquer fundamento factual. O governo nigeriano rejeita essa afirmação. Nenhum funcionário nigeriano se aliaria, de forma voluntária e deliberada, a extremistas violentos para atacar qualquer religião específica neste país. Isso é absolutamente falso — disse, em outubro à Fox News, o ministro da Informação nigeriano, Mohammed Idris.

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No sábado, após a ameaça de Trump, o presidente nigeriano, Bola Ahmed Tinubu, disse em comunicado que seu país é “uma democracia governada por garantias constitucionais de liberdade religiosa”. Para ele, caracterizar a Nigéria como “um país intolerante não reflete a realidade nacional, nem leva em consideração os esforços consistentes e sinceros do governo para salvaguardar a liberdade de religião e crença de todos os nigerianos”.

De acordo com um relatório de uma comissão do governo americano sobre liberdade religiosa, de 2024, a Nigéria é cenário de ação de vários grupos extremistas, como o Boko Haram, que realiza ataques contra cristãos e também contra muçulmanos. Números do Projeto de Dados sobre Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), baseado nos EUA, mostram que houve 1.953 ataques contra civis desde o começo do ano, mas que apenas 50 deles tiveram motivação religiosa contra cristãos.

No domingo, um assessor do presidente nigeriano afirmou à agência Reuters que seu governo “agradece a assistência dos EUA” para combater grupos extremistas, “desde que ela reconheça nossa integridade territorial”. No mesmo dia, Daniel Bwala, outro assessor de Tinubu, afirmou que ele estava disposto a se encontrar com o líder americano, em declarações à AFP.

— É impossível que a perseguição religiosa seja apoiada de qualquer forma pelo governo da Nigéria, em qualquer nível — declarou o ministro das Relações Exteriores, Yusuf Tuggar, em uma coletiva de imprensa em Berlim, ao lado de seu homólogo alemão, Johann Wadephul.

Tuggar ainda alertou contra qualquer tentativa de dividir a Nigéria com base em questões religiosas, e afirmou que seu país tem um "compromisso constitucional com a liberdade religiosa e o Estado de Direito”.