Trinidad e Tobago prepara deportação em massa de imigrantes irregulares, medida que deve atingir diretamente venezuelanos

 

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O governo de Trinidad e Tobago prepara um processo de deportação em massa de imigrantes sem documentos, em meio a uma crise com a Venezuela por ter recebido um navio de guerra americano para a realização de exercícios militares — os venezuelanos formam a principal comunidade de imigrantes do arquipélago. Em memorando, ao qual a agência France-Presse (AFP) teve acesso, o ministro da Segurança Nacional do país ordenou que "todos os imigrantes irregulares detidos sejam retidos para a implementação de um exercício de deportação em massa".

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A relação bilateral começou a se deteriorar com a chegada ao poder de Kamla Persad-Bissessar, que tem um discurso contra a imigração venezuelana alinhado com Washington, e nos últimos dias concordou em realizar exercícios militares conjuntos com os EUA, em meio à tensão no Caribe. Nesta terça, o Parlamento da Venezuela declarou a premier persona non grata, um dia depois de Maduro romper os acordos de gás que mantinha com o país.

A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, que também comanda o Ministério de Hidrocarbonetos, afirmou que seu gabinete e a petroleira estatal PDVSA recomendaram ao presidente Nicolás Maduro o rompimento imediato do pacto, assinado em 2015.

— Aprovei a medida cautelar de suspensão imediata de todos os efeitos do acordo energético e de tudo o que foi acordado nesta matéria. É uma medida cautelar para a qual tenho autoridade como presidente e que aprovei e assinei. Está tudo suspenso — declarou Maduro em seu programa semanal de televisão.

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Na segunda-feira, Maduro classificou como “ameaça direta” as manobras realizadas por Washington e por Trinidad e Tobago com o contratorpedeiro americano USS Gravely, no âmbito das operações navais de combate ao narcotráfico conduzidas pelos EUA no Caribe. Persad-Bissessar reagiu afirmando que seu país “não está sujeito a nenhum tipo de chantagem política”.

"Nosso futuro não depende da Venezuela e nunca dependeu", disse Persad-Bissessar à AFP por mensagem de texto.

Tensões energéticas e políticas

Trinidad e Tobago havia recebido recentemente autorização de Washington para explorar um campo de gás em território venezuelano, próximo à fronteira entre os dois países, apesar do embargo imposto pelos EUA a Caracas desde 2019. O campo de Dragón, localizado em águas venezuelanas, possui cerca de 120 bilhões de metros cúbicos de gás e seria explorado em parceria com a PDVSA.

A suspensão do acordo impacta diretamente o projeto Dragón, cujas atividades haviam sido retomadas neste ano, depois de anos de paralisação. As operações, contudo, estavam condicionadas às licenças americanas para evitar violações ao embargo.

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Delcy Rodríguez acusou Persad-Bissessar de “aderir aos planos belicistas dos Estados Unidos” e de transformar o território trinitário em “um porta-aviões dos EUA, uma colônia militar americana, prestando-se a um plano de guerra por petróleo e gás”.

As relações entre Caracas e Porto de Espanha se deterioraram desde que Persad-Bissessar chegou ao poder, em janeiro, com um discurso abertamente crítico à imigração venezuelana e alinhado a Washington.

O destróier USS Gravely, que chegou a Trinidad e Tobago no último domingo, permanecerá atracado em Porto de Espanha até o dia 30 de outubro. A embarcação integra a frota americana mobilizada desde agosto para operações contra o narcotráfico na região, que já resultaram em pelo menos 57 mortes em 14 ataques contra supostas “narcolanchas” no Caribe e no Pacífico.

O governo venezuelano anunciou ter desmantelado uma “célula criminosa” ligada à CIA, que supostamente planejava atacar o USS Gravely em uma operação de “bandeira falsa” para culpar Caracas e justificar uma agressão militar.