
Tonga fora do ar: o dia em que uma erupção vulcânica desconectou uma ilha do Pacífico; relembre

Quando foi a última vez que você ficou sem internet por dias? Em janeiro de 2022, os habitantes de Tonga enfrentaram essa realidade de forma extrema. Após a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, o país insular no Pacífico Sul ficou completamente isolado do mundo exterior. A explosão, equivalente a 100 bombas atômicas, destruiu os cabos submarinos que conectavam Tonga à internet global, deixando a população sem comunicação por semanas.
Vídeo: Erupção vulcânica em Tonga foi a mais intensa já registrada, com força de cem bombas atômicas
Saiba mais: Erupção de vulcão submarino em Tonga provocou mais de 200 mil raios em uma hora
Na tarde de 15 de janeiro, Sam Vea, morador de Tofoa, sentiu o cheiro de enxofre no ar e, de repente, uma explosão sacudiu sua casa. Ele correu para encontrar suas filhas enquanto uma chuva de poeira vulcânica escurecia o céu. “Isso tem que ser o vulcão”, disse ele à esposa, segundo relatos do The Guardian.
A erupção também gerou um tsunami de 15 metros, destruiu casas e matou pelo menos três pessoas no reino do Pacífico. Vale destacar o fenômeno provocou mais de 200 mil descargas elétricas em um intervalo de uma hora — sendo 63 mil raios em 15 minutos —, conforme foram registrados por sensores de raios. A magnitude da erupção, considerada uma das mais intensas do mundo em décadas, foi o que causou os raios, além de ondas a milhares de quilômetros de distância e variação de pressão atmosférica em todo o mundo, sendo percebida, inclusive, no Brasil.
A fragilidade da infraestrutura digital
Foto de satélite mostra atividade em vulcão Home Reef, em Tonga
AFP PHOTO / PLANET LABDS PBC
Horas depois, Vea tentou se comunicar com parentes nos Estados Unidos pelo Facebook Messenger, mas a conexão caiu. Tonga havia perdido totalmente o acesso à internet. Sob o oceano, cabos de fibra óptica conectam o arquipélago ao mundo, mas a erupção provocou deslizamentos submarinos que arrastaram 105 quilômetros de cabos e destruíram outro trecho de 89 quilômetros ligando Tongatapu a Fiji, segundo especialistas citados pelo The Guardian.
O impacto social e econômico foi imediato: ligações, mensagens e transações bancárias foram interrompidas, paralisando a vida cotidiana e a economia local. Para ter contato com o exterior, os tonganeses recorreram a terminais de satélite antigos, enquanto Austrália e Nova Zelândia enviaram voos de reconhecimento para avaliar os danos. Em algumas ilhas mais remotas, apenas um navegador estrangeiro conseguiu enviar mensagens via satélite de um café convertido em centro de comunicações improvisado.
A conectividade só foi totalmente restaurada cinco semanas depois, com a reparação dos cabos internacionais pelo navio Reliance, e Vava’u recuperou banda larga estável apenas em agosto de 2023. Até então, milhares de tonganeses dependiam de pontos de Wi-Fi gratuitos sobrecarregados e de tecnologias como o Starlink da SpaceX, doado para uso público.
O desastre mostrou que, no século XXI, a dependência de cabos submarinos — frágeis e essenciais — pode paralisar nações inteiras. Como resultado, o governo tonganês priorizou a construção de uma nova rede nacional de cabos, orçada em US$ 16,5 milhões, para garantir que outra erupção não volte a isolar o país. A experiência de Tonga é um alerta: em um mundo hiperconectado, a desconexão pode ser mais devastadora do que imaginamos.