
'Todas as hipóteses estão em aberto', diz secretário-executivo de Segurança Pública sobre execução de ex-delegado-geral de SP

A execução de um ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo em Praia Grande, na noite desta segunda-feira, abre diferentes frentes de apuração. Uma das hipóteses é de que o assassinato de Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos, tenha relação com sua histórica atuação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). No entanto, a polícia também investiga se sua atuação recente como secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande, por exemplo, pode estar ligada ao ataque.
Ruy Ferraz Fontes: Corpo de ex-delegado-geral de SP morto em ataque a tiros será velado na Alesp nesta terça
Nomeado por Doria e inimigo do PCC: Quem era o ex-delegado-geral da Polícia Civil de SP executado em Praia Grande?
Segundo o secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico, uma força-tarefa foi criada para elucidar o caso.
— Já estamos no local promovendo diligências e usando ferramentas de inteligência para identificar os criminosos — afirmou à rede CNN.
Logo após o assassinato, mais de 100 policiais de grupos especializados — Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) — foram enviados à Praia Grande.
Apesar da suspeita inicial de ligação com facções criminosas, ele reforçou que não há conclusões definitivas, e disse que "todas as hipóteses estão em aberto".
O secretário destacou, ainda, a maneira como os executores agiram. Havia, segundo ele, intimidade dos criminosos com os fuzis, e chamou atenção a forma como se portaram logo após descerem do carro. A descrição reforça a leitura de que a execução foi conduzida por pessoas experientes e treinadas.
Além do possível envolvimento do crime organizado, as autoridades também buscam entender se a atuação de Fontes na administração municipal pode ter motivado o ataque.
O corpo do ex-delegado-geral será trasladado para São Paulo nas próximas horas. será velado a partir das 10h desta terça-feira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O sepultamento está previsto para as 16h, no Cemitério da Paz, no Morumbi, zona sul da capital.
O crime
Ruy Ferraz foi morto a tiros na noite de segunda-feira, em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Ele dirigia um carro quando foi atingido por criminosos armados. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a principal linha de investigação aponta para uma execução ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em represália à atuação do delegado contra a facção.
Após o crime, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, determinou o envio de mais de 100 policiais ao litoral para reforçar as buscas pelos responsáveis. Duas pessoas que estavam próximas ao local também ficaram feridas, mas não correm risco de morte.
Quem era Ruy Ferraz Fontes?
O ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes atuava como secretário de Administração de Praia Grande, no litoral paulista. Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, ele atuou como delegado por mais de 40 anos e chegou a dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Fontes teve passagens por diversas delegacias especializadas e participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá. Ele iniciou a carreira como delegado de Polícia Titular da Delegacia de Polícia do Município de Taguaí e trabalhou no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) e no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
A equipe de Fontes indiciou os principais líderes do Primeiro Comando Capital (PCC) no início dos anos 2000 por formação de quadrilha. Ele foi uma das autoridades mais atuantes diante da facção criminosa e de seu chefe Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. O então delegado passou a ser referido como inimigo número 1 dos contraventores e alvo de planos de execução.
Nomeado pelo então governador João Doria, Fontes assumiu a função de delegado-geral da Polícia Civil de 2019 a 2022. Desde 2023, trabalhava na prefeitura de Praia Grande.
Durante a carreira, o ex-delegado fez pós-graduação em Direito Civil e atuou como professor de Criminologia e Direito Processual Penal.