Tensão entre Trump e Maduro: tentativa de Lula de intermediar crise é vista com ceticismo no governo
Interlocutores do governo brasileiro veem com ceticismo a possibilidade de os Estados Unidos aceitarem que o Brasil atue como mediador na crise entre Washington e a Venezuela. A avaliação é que, a não ser que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump consolidem confiança mútua, os EUA não estão dispostos a adotar uma postura construtiva em relação à região.
O gesto de Lula, no último domingo, ao se colocar como mediador, é visto em Brasília como uma tentativa de reafirmar o papel e o peso do Brasil na região — mantendo-a como uma zona de paz. O presidente brasileiro enfrenta o desafio de evitar que a situação se torne “catastrófica”, nas palavras de um diplomata de alto escalão.
Segundo integrantes do governo, o Brasil pode contribuir para o diálogo entre os dois países, mas é necessário que ambos assim queiram. Até o momento, não houve solicitação dos EUA nesse sentido.
Nas últimas semanas, os EUA iniciaram uma ofensiva marcada pelo abatimento de embarcações venezuelanas sob o argumento de combate ao narcotráfico. Para auxiliares de Lula, o objetivo de Trump é derrubar o regime de Nicolás Maduro — crítico de Washington e acusado de perseguir opositores, como María Corina Machado, vencedora do Prêmio Nobel da Paz.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, anunciou nesta terça que as Forças Armadas americanas realizaram três novos ataques contra barcos suspeitos de transportar drogas nas águas do Pacífico Oriental, deixando 14 mortos e um sobrevivente. Na segunda, dois bombardeiros supersônicos B-1B da Força Aérea dos Estados Unidos sobrevoaram o Mar do Caribe, em frente ao litoral da Venezuela.
A operação naval faz parte da chamada “guerra contra o narcotráfico” promovida pelo governo Trump, que também deslocou porta-aviões e aeronaves de combate para o Caribe e anunciou planos de expandir ações terrestres contra grupos ligados ao tráfico na América do Sul. Apesar da escalada, Washington não apresentou evidências sobre a ligação das embarcações com cartéis de drogas ou a identidade das pessoas mortas. A Venezuela acusa os Estados Unidos de conspirarem para derrubar Nicolás Maduro, buscando “fabricar um conflito” para justificar uma invasão.
A iniciativa brasileira tem caráter diplomático e busca evitar o agravamento da crise política e humanitária na Venezuela, ao mesmo tempo em que procura reposicionar o Brasil como mediador regional. Porém, assessores monitoram a situação e consideram possível uma intervenção militar comandada pela Casa Branca.
Recentemente, os EUA endureceram o tom contra o presidente colombiano Gustavo Petro. Washington criticou sua política antidrogas em fóruns internacionais, revogou seu visto após protestos pró-palestinos e impôs sanções a ele, familiares e integrantes do governo, acusando-o de conivência com o narcotráfico. As medidas reforçam a percepção de crescente tensão entre os EUA e governos de esquerda na região.
