Sondada pelo PT e PSB, Marina Silva tem saída 'inevitável' da Rede após mudança em estatuto, avaliam aliados

 

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Mudanças estruturais no partido Rede Solidariedade encampadas pela direção nacional, que está sob o comando do grupo ligado à deputada federal Heloísa Helena (RJ), tornaram “inevitável” a saída de Marina Silva da sigla. É o que avaliam aliados da ministra de Meio Ambiente ouvidos pelo GLOBO, que destacam a redução do espaço da ala aliada da ambientalista na legenda. Marina deseja concorrer ao Senado por São Paulo em 2026 e, no momento, é sondada por PSB, PT e PSOL.

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Uma decisão sobre a permanência ou não na Rede só será tomada por Marina no ano que vem. Segundo interlocutores, a ministra chega ao ano eleitoral com três principais premissas, que a podem colocar em atrito com o diretório nacional da legenda:

Defesa da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Fortalecimento de candidaturas da frente ampla

Defesa da agenda sustentável

Na quinta-feira, dirigentes e filiados da sigla ligados ao campo Rede Vive, aliado de Marina, publicaram um manifesto contra a direção nacional. Eles criticam as mudanças no estatuto determinadas em congresso extraordinário, realizado no sábado passado, e afirmam haver uma perseguição interna contra a ministra. O partido, por sua vez, nega "qualquer impedimento" a uma possível candidatura da ambientalista no ano que vem.

“Trata-se da consolidação de um projeto de captura institucional, que verticaliza o partido, concentra poder na Executiva Nacional, enfraquece a autonomia de estados e municípios, reduz direitos dos filiados, discrimina mandatos e fragiliza a democracia interna”, diz o documento.

O grupo afirma que “o ataque à fundadora do partido (Marina) não é individual, mas um sinal evidente de que qualquer dissidência pode ser silenciada” na legenda.

“Por meio de emenda casuística, a direção nacional estabeleceu critérios para priorização eleitoral em 2026, aplicando a nova regra apenas a parlamentares que tenham exercido o mandato por ao menos dois anos, com o objetivo evidente de excluir Marina Silva, apesar de seu papel central na projeção nacional do partido e na construção da agenda socioambiental no país”, diz o manifesto.

Marina foi eleita deputada federal em 2022, mas se licenciou logo no início do mandato para ingressar no Ministério do Meio Ambiente. Com a mudança, aliados avaliam que uma possível candidatura no ano que vem pela Rede não teria o apoio necessário para a realização da campanha.

O manifesto tinha aproximadamente ao menos 250 assinaturas na noite de sexta-feira. A expectativa de aliados da ministra é que esse número chegue a mil na semana que vem.

Divisão interna

Rompidas desde 2022, Heloísa Helena e Marina simbolizam a divisão no diretório nacional da legenda. As divergências têm origem tanto em diferenças programáticas quanto na relação com o governo federal.

Enquanto Marina se define como “sustentabilista” e optou por integrar a gestão Lula como ministra do Meio Ambiente, Heloísa se posiciona como oposição ao Planalto e defende o “ecossocialismo”, corrente que associa a preservação ambiental à mudança do sistema econômico.

O conflito entre as duas se aprofundou em abril após a disputa pelo comando da Rede, vencida por Heloísa. O principal nome do grupo de Marina, Giovanni Mockus, foi derrotado pelo secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac.

Lamac afirmou ao GLOBO que "não há qualquer restrição à candidatura de Marina Silva na sigla". Segundo o aliado de Heloísa Helena, "o grupo minoritário continua sem aceitar o resultado das eleições internas".

— A revisão estatutária foi aprovada há três anos pelo V Congresso da Rede e novamente determinada pelo VI Congresso, em março deste ano. Desde junho, todos os documentos sobre o congresso extraordinário estão disponíveis no site da Rede. A direção partidária segue aberta ao diálogo franco, com vistas a viabilizar a unidade total da legenda — defende Lamac.

Já Mockus disse ao GLOBO que a ala aliada de Marina "seguirá lutando pela defesa" dos valores que fundaram a Rede.

— O que fizeram é mais um capítulo do processo de captura institucional em curso na REDE. A reforma não moderniza o estatuto, ela sufoca a democracia interna para transformar o partido em instrumento de controle político e posse absoluta — aponta Mockus.