Shin Bet não sabia da realização do festival Nova antes do ataque do Hamas em 7 de outubro, aponta investigação interna
Uma investigação do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, concluiu que a agência não tinha conhecimento prévio da realização do festival de música Nova, próximo à fronteira com a Faixa de Gaza, na madrugada de 7 de outubro de 2023 — data do ataque sem precedentes realizado pelo grupo terrorista Hamas, que deixou mais de 1,2 mil de mortos no local e provocou a guerra no enclave.
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O relatório, obtido pelo jornal israelense Haaretz, revela que um representante do Shin Bet participou de ao menos duas reuniões com a polícia e as Forças Armadas de Israel (IDF) nos dias que antecederam o evento. Mesmo assim, ele não repassou a informação aos escalões superiores da agência por motivos ainda não esclarecidos. Com isso, o festival não entrou nas avaliações de segurança feitas durante a noite anterior ao ataque.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal israelense, as próprias Forças Armadas do Estado judeu também falharam ao não comunicar o Shin Bet de que uma concentração de milhares de pessoas ocorreria tão perto da fronteira com Gaza. A agência só tomou conhecimento da existência do evento quase três horas após o início da ofensiva, quando começaram a chegar relatos de numerosas vítimas.
Um alto funcionário ouvido pelo Haaretz afirmou que, se soubesse da festa com antecedência — ou ao menos durante a madrugada —, a agência poderia ter influenciado decisões no aparato de segurança.
— A realização de um evento de massa na área, com milhares de participantes desprotegidos, poderia ter levado à decisão de dispersar a festa durante a noite ou enviar forças ao local — disse.
Polícia também foi pega de surpresa
O Haaretz relatou ainda que o comando da Polícia de Israel não recebeu, durante toda a madrugada, qualquer alerta de potencial ataque do Hamas. Nem o então chefe da corporação, Kobi Shabtai, nem o comandante do Distrito Sul, Amir Cohen, foram informados pelo Shin Bet ou pelo Exército sobre riscos iminentes. A polícia foi surpreendida quando, às 6h29, começaram o disparo de foguetes e a infiltração de membros do Hamas na região.
O único oficial que recebeu atualizações do Shin Bet ao longo da noite foi o comandante da Yamam — a unidade de elite da polícia —, que enviou um agente ao centro de comando do Shin Bet e começou a preparar suas forças.
Essa soma de falhas fez com que, mesmo após o ataque começar, o Shin Bet e a polícia não discutissem as implicações da presença de milhares de civis tão próximos à fronteira. Minutos depois, agentes tentaram dispersar o público por conta própria, mas muitos não conseguiram deixar a área a tempo. Os relatos de grande número de vítimas perto do estacionamento de Re’im só chegaram ao centro de comando do Shin Bet por volta das 9h.
Aprovação incomum do evento
As conclusões preliminares do Shin Bet divulgadas em março não mencionavam o festival, nem se a agência tinha conhecimento prévio sobre ele. Segundo o Haaretz, a Divisão de Gaza aprovou o evento poucos dias antes, de forma considerada incomum, e a polícia local seguiu a mesma decisão — contrariando procedimentos internos. As Forças Armadas inicialmente queriam negar um pedido para estender outro evento já autorizado, mas cederam após pressão dos organizadores, que chegaram a ameaçar recorrer à Justiça.
Fontes disseram ao jornal que, mesmo no fim da tarde de 7 de outubro, a polícia ainda não tinha clareza sobre o número de vítimas. Os relatos do massacre não eram repassados aos agentes que estavam no terreno. Além de uma equipe policial que estava no local, armada apenas com pistolas, quase não havia reforço: somente mais tarde militares da ativa e reservistas foram enviados.
No festival Nova, realizado próximo a Re’im, 378 civis e membros das forças de segurança foram mortos e 44 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza.
Em resposta, o Shin Bet afirmou apenas que seus posicionamentos sobre fatos anteriores ao início da guerra são fornecidos “como parte dos procedimentos de revisão e supervisão” da agência.
