Seis companhias aéreas cancelam voos para a Venezuela após alerta dos EUA, que avaliam escalada contra Maduro

 

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Diversas companhias aéreas internacionais cancelaram voos de entrada e saída da Venezuela entre sábado e este domingo, após a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) alertar grandes empresas do setor sobre uma “situação potencialmente perigosa” ao sobrevoar o país. O aviso foi emitido em meio ao deslocamento americano no mar do Caribe, que inclui o USS Gerald R. Ford, maior porta-aviões do mundo, acompanhado de navios de guerra e caças para alegadas operações antidrogas. Há previsão de que Washington designe hoje como terrorista o Cartel de los Soles, que especialistas dizem não existir como organização, sob acusação de envolvimento no transporte de drogas para o território americano.

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Segundo associações venezuelanas do setor aéreo (ALAV e AVAVIT), companhias como Avianca (Colômbia), TAP (Portugal), Gol (Brasil) e Latam (Chile) suspenderam rotas no sábado. A Iberia informou que interromperá voos a partir de segunda-feira, e a Turkish Airlines anunciou o cancelamento de operações entre 24 e 28 de novembro. Algumas empresas afirmaram que reembolsarão ou remarcarão viagens, embora nem todas tenham detalhado datas específicas.

As empresas aéreas nacionais Laser, Estelar, Avior, Venezolana de Aviación e a colombiana Wingo informaram que seguem operando normalmente no país. Enquanto monitora a situação, a autoridade aeronáutica da Colômbia informou que exigirá que operadores comerciais enviem dados atualizados sobre rotas para garantir conformidade com as diretrizes da FAA e notifiquem com antecedência eventuais mudanças nos voos.

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No sábado, quatro autoridades americanas ouvidas pela agência Reuters afirmaram que Washington se prepara para lançar, nos próximos dias, uma nova fase de operações relacionadas a Caracas, intensificando a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro. O momento exato ou o alcance das novas operações ainda não estão claros, e tampouco se sabe se o presidente americano, Donald Trump, tomou uma decisão final sobre agir. Informações sobre uma possível ação dos EUA têm se multiplicado nas últimas semanas à medida que militares americanos enviam forças ao Caribe e em meio ao agravamento das relações com a Venezuela.

— O presidente Trump está preparado para usar todos os elementos do poder americano para impedir que drogas inundem nosso país e para levar os responsáveis à Justiça — afirmou à Reuters um funcionário americano, que falou sob condição de anonimato dada a sensibilidade do tema.

A repercussão da possível escalada foi ecoada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Durante entrevista coletiva na África do Sul, o petista disse estar “muito preocupado” com a presença militar dos EUA no mar do Caribe, acrescentando que pretende discutir o tema com Trump.

— Estou muito preocupado com o dispositivo militar que os Estados Unidos instalaram no mar do Caribe. Isso me preocupa enormemente e tenho a intenção de discutir isso com o presidente Trump, porque me preocupa — afirmou Lula em Joanesburgo, ao fim da cúpula do G20, a que Trump não compareceu. — É importante que tentemos encontrar uma solução antes que um conflito comece.

Aumento das tensões

Os Estados Unidos vêm avaliando opções de escalada contra Maduro, a quem acusam de envolvimento no tráfico de drogas — alegação que o venezuelano nega. Segundo duas das autoridades ouvidas pela Reuters, as alternativas analisadas incluem a possibilidade de tentar derrubá-lo. Em Caracas, Maduro afirma que o objetivo de Trump é removê-lo do poder e que a população e os militares resistiriam a qualquer tentativa nesse sentido.

O aumento das tensões ocorre após meses de reforço militar dos EUA no Caribe. O porta-aviões Gerald R. Ford chegou à região em 16 de novembro, acompanhado de seu grupo de ataque, somando-se a pelo menos outros sete navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves F-35. As forças americanas têm conduzido operações de combate ao narcotráfico, com ataques contra embarcações suspeitas no Caribe e no Pacífico resultando na morte de ao menos 83 pessoas desde setembro — ações criticadas por organizações de direitos humanos como execuções extrajudiciais ilegais.

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Em meio ao impasse, o governo venezuelano, cujo aparato militar enfrenta falta de treinamento, baixos salários e equipamentos deteriorados, tem considerado estratégias alternativas caso haja uma invasão dos EUA. Documentos e fontes citados pela Reuters apontam a preparação de uma resposta ao estilo guerrilheiro, chamada pelo governo de “resistência prolongada”, que envolveria pequenas unidades militares distribuídas por mais de 280 localidades realizando atos de sabotagem e outras táticas irregulares.

(Com Bloomberg e AFP)