República Dominicana permite aos EUA usar áreas em base aérea e aeroporto em campanha contra cartéis de drogas

 

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O presidente da República Dominicana anunciou que autorizou o Exército dos Estados Unidos a operar temporariamente em áreas restritas do país caribenho. A iniciativa, anunciada durante entrevista coletiva na quarta-feira, faz parte de um esforço para ajudar Washington a combater o narcotráfico — e ocorre enquanto o Pentágono lança ataques contra embarcações que acusa de traficar drogas no Caribe e no Pacífico Leste.

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— O objetivo é claro: fortalecer o anel de proteção aéreo e marítimo mantido por nossas Forças Armadas — disse o líder dominicano, Luis Abinader, ao lado do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth. — É um reforço decisivo para impedir a entrada de narcóticos e golpear com mais força o crime organizado transnacional.

Segundo o governo dominicano, a autorização prevê operações estritamente delimitadas e supervisionadas por autoridades do país. A iniciativa inclui o acesso de militares americanos a zonas previamente fechadas a forças estrangeiras, com o objetivo de reforçar ações de inteligência e logística voltadas ao enfrentamento de redes criminosas que utilizam o território dominicano como rota.

A República Dominicana, conhecida por seus resorts de praia, tem servido há muito tempo como ponto central de transbordo de drogas rumo aos Estados Unidos e à Europa. Agora, aeronaves deverão ser reabastecidas e tarefas logísticas passarão a ser realizadas na base de San Isidro e no aeroporto internacional de Las Américas, perto de Santo Domingo, como parte das estratégias de resposta ao problema.

— Nosso país enfrenta uma ameaça real — disse Abinader. — Essa ameaça não reconhece fronteiras nem bandeiras, destrói famílias e tem usado nosso território como parte de suas rotas há décadas.

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As autoridades afirmaram que a medida não representa a instalação de bases permanentes nem mudanças na política de segurança nacional, mas um apoio pontual às estratégias dos Estados Unidos contra organizações envolvidas no narcotráfico internacional. O governo destacou ainda que a cooperação militar entre os dois países ocorre há anos, embora raramente em áreas consideradas sensíveis.

Este é, no entanto, o primeiro grande acordo militar firmado pelo governo de Donald Trump com a República Dominicana. Ainda não está claro o que o país caribenho receberá em troca ou por quanto tempo o Pentágono poderá operar nessas zonas restritas. Na entrevista coletiva foram fornecidos poucos detalhes e nenhuma pergunta foi permitida.

Hegseth viajou a Santo Domingo enquanto o governo Donald Trump monta a maior mobilização militar na região em décadas para enfrentar suspeitos de tráfico. A visita ocorre dois dias após os EUA designarem o chamado Cartel dos Sóis, da Venezuela, como organização terrorista estrangeira. O governo americano afirma que o grupo é operado por oficiais superiores do Exército e liderado pelo presidente Nicolás Maduro, acusações que a Venezuela rejeita.

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Na terça-feira, o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitou Trinidad e Tobago para reuniões de alto nível focadas na ameaça das drogas. Trinidad, que fica próxima à costa venezuelana, tornou-se peça-chave na expansão militar dos EUA na região, com navios de guerra americanos atracando em Port of Spain.

O USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo, chegou ao Caribe neste mês, aumentando especulações de que os EUA possam estar se preparando para atacar alvos dentro da Venezuela — possibilidade mencionada pelo próprio Trump. Washington realizou diversos ataques contra barcos suspeitos de tráfico no Caribe e no Oceano Pacífico, matando mais de 80 pessoas desde setembro.

Críticos afirmam que esses ataques equivalem a execuções extrajudiciais. Trump os defendeu, dizendo que os alvos pertencem a organizações criminosas internacionais responsáveis pela morte de centenas de milhares de americanos por overdose de drogas. Ele tem alternado entre sugerir que planeja expandir os ataques para o território venezuelano e afirmar que pretende falar diretamente com Maduro. (Com Bloomberg e New York Times)