Quase uma em cada três mulheres no mundo sofre violência de gênero, alerta a OMS
Quase uma em cada três mulheres sofreu ao longo da vida violência exercida por seu companheiro ou violência sexual de algum desconhecido alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira. Apesar desse número ter melhorado timidamente ao longo dos anos, a organização ressalta que o progresso tem sido “dolorosamente lento”, assinalando que a violência praticada pelos companheiros só diminuiu 0,2% ao ano nas últimas duas décadas.
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— A violência contra as mulheres é uma das injustiças mais antigas e generalizadas da humanidade, mas segue sendo uma das que menos se combate — afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência sanitária da ONU, em um comunicado.
— Nenhuma sociedade pode se considerar justa, segura ou saudável enquanto metade de sua população viver com medo — acrescentou Tedros, às vésperas do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres e as Meninas, em 25 de novembro.
A OMS estima em um informe que cerca de 840 milhões de mulheres em todo o mundo, aproximadamente um terço, sofreu violência do companheiro ou violência sexual de um desconhecido ao longo da vida.
Só no último ano, 316 milhões de mulheres — 11% das maiores de 15 anos — sofreram violência física ou sexual do companheiro, destaca o relatório.
LynnMarie Sardinha, do departamento de saúde sexual, reprodutiva, materna, infantil e adolescente, e envelhecimento da OMS, advertiu que o número de casos denunciados pode aumentar.
— É provável que uma maior conscientização dê lugar a um aumento das denúncias de violência — declarou Sardinha à imprensa.
Uma crise desatendida
Pela primeira vez, o informe da OMS inclui estimativas nacionais e regionais de violência sexual cometida por alguém que não é o companheiro íntimo da vítima.
Nesse sentido, a agência da ONU aponta que 263 milhões de mulheres sofreram violência sexual por parte de pessoas que não eram seus companheiros a partir dos 15 anos. O problema, advertiu, está “muito sub-representado devido ao estigma e ao medo”.
O relatório abrange dados compilados entre 2000 e 2023 em 168 países, e revela “uma crise profundamente desatendida e uma resposta com um financiamento muito insuficiente”, segundo a OMS.
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O informe lamenta que, apesar da evidência crescente sobre a eficácia das estratégias para prevenir a violência de gênero, o financiamento destinado a estas iniciativas esteja despencando.
Em 2022, por exemplo, somente 0,2% da ajuda mundial ao desenvolvimento foi destinado a programas centrados na prevenção da violência contra as mulheres.
O financiamento também diminuiu devido à crise mundial no setor da ajuda externa desde a volta ao poder do presidente americano, Donald Trump.
A violência de gênero, aponta o informe, começa cedo e os riscos persistem com o passar dos anos.
Só no último ano, 12,5 milhões de adolescentes — 16% das mulheres com idades entre 15 e 19 anos — sofreram violência física e/ou sexual de parte dos companheiros, ressalta a OMS.
O impacto das mudanças climáticas
— Os resultados evidenciam uma realidade trágica para as mulheres e as meninas de todo o mundo (…) em praticamente todas as comunidades — declarou Jeremy Farrar, vice-diretor-geral de Promoção da Saúde, Prevenção de Doenças e Atenção Sanitária da OMS.
No entanto, os dados também mostram que as mulheres dos países mais pobres, assim como aquelas que vivem em áreas afetadas por conflitos e vulneráveis às mudanças climáticas, sofrem um impacto desproporcional.
Avni Amin, chefe da unidade de direitos e igualdade da OMS, assinalou que as mudanças climáticas “podem provocar inundações, fome extrema e outros tipos de desastres naturais”.
Assim como em situações de conflito, isto pode significar que “as pessoas são deslocadas de seus lares, há insegurança econômica, o que pode aumentar o estresse em casa. Ocorrem interrupções nos serviços e na ordem pública, o que [também] aumenta o risco”, indicou.
A pior situação se observa na Oceania, excluindo a Austrália e a Nova Zelândia. Na Europa e na América do Norte, ao contrário, 5% das mulheres denunciaram ter sofrido violência, enquanto na América Latina e no Caribe, 7% o fizeram, segundo o informe.
