Putin recebe enviados de Trump em Moscou, enquanto Rússia reclama conquista de cidade na Ucrânia em meio a negociações de paz

 

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O líder russo, Vladimir Putin, recebe nesta terça-feira o principal negociador dos EUA e enviado especial do presidente Donald Trump, Steve Witkoff, em Moscou, para debater a proposta de paz mediada por Washington, após a revisão do texto por diplomatas ucranianos. O encontro ocorre em um momento em que os EUA pressionam para que um acordo de paz seja firmado entre os dois países, embora os confrontos continuem com toda a intensidade no front: o lado russo anunciou nesta terça a tomada da estratégica cidade de Pokrovsk, centro logístico no leste da Ucrânia — algo que Kiev nega —, enquanto um levantamento registrou um aumento no número de drones e mísseis contra o território ucraniano em novembro.

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O Kremlin anunciou que a reunião entre Putin e Witkoff acontecerá após às 17h (11h em Brasília) desta terça, e que além do principal negociador de Washington, o genro de Trump, Jared Kushner, também irá participar do encontro. A expectativa é de que seja discutido o plano de paz atualizado, após a rodada em Miami nos últimos dias — Washington e Kiev classificaram as conversas como construtivas, mas disseram que mais trabalho seria necessário, sem detalhar os pontos ainda não resolvidos.

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A versão inicial do plano, divulgada no mês passado, foi vista pela Ucrânia e por seus aliados europeus como uma reprodução das exigências russas desde sua invasão em larga escala da Ucrânia em 2022, incluindo a cessão de territórios em caráter definitivo e uma barreira permanente à entrada do país na Otan. A Casa Branca pressionou a Ucrânia a aceitar o plano, enquanto aliados na Europa mantiveram o apoio irrestrito a Kiev — o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está nesta terça-feira na Irlanda, após encontrar-se com o presidente francês, Emmanuel Macron, na segunda.

Ilya Grashchenkov, analista político em Moscou, disse que as expectativas para um avanço com a visita de Witkoff a Putin eram baixas, mas que a reunião ainda era significativa.

— As principais expectativas provavelmente se resumem a manter um canal de comunicação de alto nível durante este período de crise — disse o analista. — Isso, por si só, é considerado importante para evitar uma escalada perigosa.

Grashchenkov ainda acrescentou que, com o crescimento russo se aproximando de zero e o déficit orçamentário se ampliando devido aos gastos militares crescentes, a pressão econômica pode forçar o Kremlin a aceitar certos compromissos no futuro. Mas, até agora, o governo russo conseguiu mascarar as rachaduras econômicas, afirmou.

Tatiana Stanovaya, pesquisadora sênior do Carnegie Russia Eurasia Center, disse em uma postagem no Telegram que Putin "não tem dúvidas de que, conforme a Ucrânia perde mais território, crescerá o número daqueles no Ocidente que pedem o fim das hostilidades.

A rodada diplomática em Moscou acontece em meio a movimentações no front. A Rússia anunciou ter tomado a cidade de Pokrovsk, principal alvo da ofensiva militar de Moscou e palco de intensos combates. Na segunda-feira, o Ministério da Defesa russo publicou um vídeo que supostamente mostrava soldados hasteando a bandeira do país em uma praça central de Pokrovsk. A Ucrânia nega que tenha perdido o controle total da cidade.

"As operações de busca e assalto e a eliminação do inimigo em áreas urbanas continuam em Pokrovsk", escreveu o comando leste das forças armadas ucranianas nas redes sociais, acrescentando que as tropas russas que hastearam uma bandeira no centro da cidade foram repelidas, e que as forças russas aproveitaram as más condições climáticas para avançar para o centro da cidade.

Fortalecido pelo ritmo constante de avanço militar russo e pelo escândalo de corrupção que afetou a Ucrânia nas últimas semanas, Putin indicou que autoridades do governo Trump precisam pressionar mais a Ucrânia a aceitar os termos pró-Rússia. Em uma coletiva de imprensa na semana passada, o russo afirmou que a Ucrânia deve ceder.

— Continuamos recebendo propostas para cessar as hostilidades aqui, ali e acolá — disse Putin a jornalistas. — Quando as tropas ucranianas deixarem os territórios que ocupam, então as hostilidades cessarão. Se não saírem, conseguiremos isso militarmente.

Na noite de segunda-feira, o Kremlin anunciou que Putin havia visitado um posto de comando no campo de batalha no dia anterior, aparentemente com o objetivo de promover o ímpeto militar de Moscou. Um vídeo publicado pela mídia estatal mostra o líder visivelmente irritado e emocionado depois que um comandante relatou que soldados ucranianos estavam morrendo às centenas, com seus corpos espalhados pelas linhas de árvores.

— Isso é uma tragédia, uma tragédia para o povo ucraniano, ligada às políticas criminosas da junta ladra que tomou o poder em Kiev — disse Putin no vídeo, enquanto manuseava papéis de forma agressiva sobre uma mesa. Ele se referia ao levante de 2014 na Ucrânia, que levou a um governo pró-Ocidente. Putin tomou a Crimeia e iniciou uma guerra no leste da Ucrânia em resposta.

Guerra aérea intensa

Embora Pokrovsk seja o principal palco de enfrentamentos, não é o único ponto de tensão neste momento. Uma análise da AFP com base em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), com sede nos EUA, mostrou nesta semana que o Exército russo realizou, no mês passado, seu maior avanço na Ucrânia desde novembro de 2024. Já um segundo levantamento, feito a partir de registros dos militares ucranianos, demonstra que Moscou intensificou seus ataques com drones e mísseis, ao longo de novembro.

Mesmo em meio às negociações, Moscou lançou 5.660 mísseis e drones de longo alcance contra a Ucrânia no mês passado, segundo relatórios diários divulgados pela Força Aérea de Kiev. O número representa um aumento de 2% em relação ao mês anterior. Os ataques deixaram dezenas de milhares de pessoas sem energia elétrica, e provocaram mortes e destruição.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou esta semana que a intensificação dos ataques russos e com drones contra seu país faz parte de um esforço para "quebrar" a vontade dos ucranianos de resistir a Moscou.

— Estamos testemunhando um aumento nos ataques com mísseis e drones. Isso representa uma pressão séria, não apenas psicológica, mas também física, sobre nossa população, simplesmente para quebrar os ucranianos — disse Zelensky em uma coletiva de imprensa conjunta com Macron.

Como retaliação, Kiev mirou reservatórios de petróleo e refinarias russas, buscando interromper as exportações vitais de energia de Moscou e provocar escassez de combustível em todo o país.

A Rússia insiste que, para interromper a guerra, a Ucrânia deve ceder seu território remanescente na região de Donbas, abandonar suas aspirações de ingressar na Otan e garantir o status da língua russa, da cultura russa e da Igreja Ortodoxa Russa na Ucrânia, permitindo assim que Moscou exerça influência permanente sobre a política do país. A Ucrânia se recusa a aceitar as exigências. (com NYT e AFP)