Próximo presidente do Chile enfrentará resistência em um Congresso dividido

 

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O próximo presidente do Chile terá que lidar com um Congresso dividido e negociar acordos para aprovar leis, já que nem a direita nem a esquerda conquistaram a maioria nas eleições de domingo. O resultado do primeiro turno parece representar um potencial entrave à agenda pró-crescimento e anticrime do candidato presidencial conservador José Antonio Kast, favorito para vencer o pleito, que será decidido em 14 de dezembro, contra a rival comunista Jeannette Jara.

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Na votação, as coligações de direita conquistaram 76 das 155 cadeiras na Câmara Baixa, mas podem garantir a maioria em questões-chave se conseguirem o apoio de parlamentares com ideias semelhantes. Um pacote de votos para a direita provavelmente virá do Partido de la Gente (PDG), de orientação populista, que compartilha a mesma visão sobre o combate ao crime e a restrição à imigração. O PDG conquistou 14 cadeiras. No Senado, a direita acabou ficando com 25 das 50 cadeiras.

"Crucialmente, as facções de direita não conseguiram alcançar a maioria legislativa em ambas as casas do Congresso, o que complica o avanço de sua agenda política e exige negociação e busca de consenso com as contrapartes de esquerda”, escreveram analistas do BTG Pactual em uma nota aos clientes nesta segunda-feira. “Ainda assim, isso representa um revés relativo”.

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Também nesta segunda, os mercados reagiram positivamente, com a expectativa de que Kast assuma a liderança do país sul-americano em março.

A crescente fragmentação no Congresso chileno está tornando cada vez mais difícil para os presidentes governarem. O presidente cessante, Gabriel Boric, não conseguiu aprovar reformas importantes que eram a espinha dorsal de sua campanha, porque sua coalizão não conseguiu formar maioria no Congresso. Kast, por sua vez, enfrentaria dificuldades semelhantes.

Governar por decreto

Nas últimas semanas da campanha, Kast pareceu insinuar a possibilidade de governar por decreto. Seus assessores também enfatizaram que as leis existentes, se plenamente implementadas, facilitariam sua agenda de segurança e crescimento econômico. Seu plano para reduzir drasticamente os impostos corporativos é uma das propostas que podem enfrentar impasse no Senado.

Kast superou outros candidatos de direita para garantir a vaga no segundo turno, e sua rival de centro-direita, Evelyn Matthei, e o libertário Johannes Kaiser o apoiaram na noite de domingo. Mesmo assim, ele obteve menos de um quarto dos votos — então terá que negociar para manter esse apoio. O candidato do PDG, Franco Parisi, não declarou apoio a nenhum candidato após conquistar um quinto dos votos.

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“Em 2021, Parisi ficou em terceiro lugar e acabou apoiando Kast, mas os resultados do segundo turno sugeriram que, na verdade, mais eleitores escolheram Gabriel Boric. Desta vez, Parisi pode se fazer de difícil, numa tentativa de capitalizar seu apoio surpreendentemente forte”, escreveram estrategistas do BBVA, incluindo Alejandro Cuadrado, em um comunicado.

A redução da burocracia nos licenciamentos ambientais, outro componente da agenda de Kast, deve ter melhor aceitação no Congresso. Durante a campanha, quase todos os candidatos manifestaram apoio à simplificação do processo complexo como forma de estimular o investimento.