Principal assessor de Zelensky e negociador do plano de paz na Ucrânia, Andriy Yermak, renuncia após operações anticorrupção
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou na sexta-feira que seu principal assessor, Andriy Yermak, renunciou ao cargo após investigadores realizarem buscas na casa de seu poderoso chefe de Gabinete como parte de uma ampla investigação de corrupção.
Sob pressão de Washington: Zelensky, abalado por escândalo de corrupção, perde força em momento crítico da guerra
Veja: O que se sabe sobre o escândalo de corrupção que abala a Ucrânia
— O gabinete do presidente da Ucrânia será reorganizado. O chefe do gabinete, Andriy Yermak, apresentou sua renúncia — disse Zelensky em um pronunciamento em vídeo, acrescentando que realizará consultas com um possível substituto no sábado.
Considerado o braço direito do presidente, Yermak, que ocupava o cargo desde 2020, dois anos antes do início da invasão russa à Ucrânia, confirmou a operação.
"A Nabu e a SAP estão conduzindo investigações em minha residência. Os investigadores não encontram nenhum obstáculo" e receberam "acesso total ao meu apartamento", afirmou Yermak mais cedo no Telegram. "Meus advogados estão lá e estão interagindo com as forças de segurança".
Initial plugin text
A busca na propriedade ocorreu após semanas de apelos de membros da oposição no Parlamento pela renúncia do chefe de Gabinete, devido aos seus laços estreitos com figuras envolvidas em um esquema de propina relacionado à empresa estatal de energia nuclear. Um desses parlamentares afirma que Yermak é mencionado em gravações de conversas entre suspeitos, que pedem para ele pressionar as estruturas anticorrupção. Nessas gravações, ele é identificado pelo pseudônimo "Ali Baba", formado pelas iniciais de seu nome e sobrenome.
As investigações, portanto, estariam relacionadas a um dos piores escândalos de corrupção que abalaram o país nas últimas semanas, e já provocaram a destituição de dois ministros.
O escândalo surgiu no início de novembro, quando a Nabu revelou a existência de um "sistema criminoso", orquestrado, segundo os investigadores, por um aliado de Zelensky. A rede, de acordo com uma fonte ouvida pela AFP, permitiu desviar US$ 100 milhões (cerca de R$ 530 milhões, na cotação atual) do setor energético.
Leia também: Ministro da Justiça da Ucrânia é afastado após escândalo de corrupção no setor energético
Yermak, ex-produtor de cinema e advogado especialista em propriedade intelectual, é considerado por muitos como o segundo homem mais influente do país, atrás apenas do presidente. Sua influência sobre Zelensky levanta questionamentos até mesmo na equipe presidencial. Os críticos apontam que o chefe de Gabinete concentra poder excessivo, controlando efetivamente a política externa do país e limitando o acesso do presidente.
Influente nas decisões
Desde o início da invasão russa, há quase quatro anos, ele liderou várias rodadas de negociações com os americanos em Washington, bem como no último fim de semana em Genebra com o secretário de Estado Marco Rubio.
Initial plugin text
Mesmo com as negociações para encerrar a guerra atraindo a atenção na Ucrânia e no exterior, a investigação de corrupção pairava sobre Yermak e um segundo negociador ucraniano, Rustem Umerov, que foi interrogado esta semana por detetives em Kiev, após retornar de Genebra.
Segundo o analista político Volodymyr Fessenko, essa situação "enfraquece" a posição da Ucrânia nas negociações, já afetadas pelos avanços russos na frente de batalha.
Na opinião dele, a Rússia "sem dúvida" aproveitará esse escândalo para pressionar os Estados Unidos a chegarem a um acordo para o fim da guerra diretamente com Moscou, deixando a Ucrânia de fora da equação.
Já um ex-alto funcionário que trabalhou com Zelensky revelou que Yermak "retirou o Ministério das Relações Exteriores" das negociações com Washington.
— Yermak não deixa ninguém se aproximar de Zelensky, exceto os leais a ele, e busca influenciar quase todas as decisões da Presidência — afirmou a fonte.
Com AFP, La Nación e The New York Times
