Primeira missa de padre Júlio pós-punição tem igreja lotada e abaixo-assinado: 'Mesmo sangrando, amaremos até o fim'

 

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A primeira missa dominical do padre Júlio Lancellotti realizada depois que a Arquidiocese de SP proibiu o sacerdote de utilizar as redes sociais foi marcada por manifestações, abaixo-assinado e por fiéis do lado de fora da capela da Universidade São Judas, na Mooca, Zona Leste de São Paulo.

Mesmo antes da celebração principal, agendada para as 10h deste domingo (21), o local já apresentava sinais de que não comportaria o número de pessoas habituadas a frequentar a missa toda semana. Durante o batizado de cinco bebês, Lancelotti já pedia para o público se alocar longe da porta, para que todos pudessem se acomodar.

Antes da entrada, voluntários convidavam as pessoas a assinarem uma manifestação voltada à circunscrição eclesiástica paulista, mais precisamente ao cardeal Dom Odilo Scherer, responsável pela medida que atingiu o pároco. "À Sua Eminência reverendíssima Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, apresentamos o presente abaixo-assinado em apoio ao padre Júlio Lancellotti e sua manutenção na Paróquia São Miguel Arcanjo", dizia o comunicado.

Procurado, o cardeal não respondeu à reportagem.

Quando a missa principal começou, os frequentadores que se aglomeraram na porta correram para ocupar as janelas da paróquia, acessadas pelo lado de fora. Iniciada a celebração, cartazes começaram a aparecer tão logo as primeiras bênçãos foram proferidas.

– Agradeço com muita emoção a presença de cada um, principalmente a presença dos nossos irmãos e irmãs em situação de rua, que sabem muito bem o que passam. Eles só são enxergados quando incomodam. Nós continuaremos a pedir que Jesus seja nossa luz e que os pobres sejam acolhidos. Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos vocês – disse Lancelotti, que afirmou duas vezes promover ações sociais sem a participação de governos e de outras instâncias da Igreja Católica.

Cerca de uma hora depois do início da celebração, um texto lido por um jovem ao lado de Júlio Lancellotii dizia que o padre, quando atacado, tem o sofrimento estendido para toda a comunidade.

– Quando vocês veem a pastoral nas ruas, as histórias na Casa Vida, o ateliê, existe uma comunidade que representa todo esse suporte. O padre não entrega a nós sozinho, o padre não sustenta as pastorais sozinho. Aqui existe gente que trabalha voluntariamente, que corre atrás dos outros para fazer tudo isso acontecer. Por isso, quando atacam o nosso querido padre Júlio, atacam toda a nossa comunidade. Quando sancionam o padre Júlio por pregar o Evangelho, sancionam toda a nossa comunidade. O padre é nosso guia espiritual, a nossa estrela-guia, o caminho da luz de ouro. Quando ferem o pároco, ferem também a nossa paróquia. Ferem as vidas que dependem dele e da obra sustentada por suas mãos – disse o orador.

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Na parte final da missa, foi a vez de Lancellotti dizer algumas palavras sobre o momento em que está passando.

– Não saberia o que dizer, pois tudo o que você disser, poderá ser usado contra você. Não desanimemos. Muitas vezes é difícil, mas a gente vai para um caminho sem volta, que não tem como voltar atrás. Até o fim eu estarei com os irmãos e irmãs em situação de rua. Assim como nós nos juntamos para dizer que somos irmãos, muitos se juntam para conspirar para fazer formas de destilar seu ódio. E nem sempre é fácil reconhecer o ódio – ressaltou o padre, que finalizou com um recado:

– Uma luta é irmã de todas as lutas. Mesmo que em alguns momentos sejamos diminuídos, alvejados e feridos, mesmo machucados e sangrando, nós amaremos até o fim – disse o religioso.

Ao fim da missa, em que foi aplaudido de pé, o padre Júlio Lancellotti sentou-se em uma cadeira na entrada da capela e tirou foto com os fiéis.

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