Presidente da Turquia pede a Maduro que siga dialogando com os EUA em meio a ameaças de ataque à Venezuela

 

Fonte:


O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, manteve neste sábado uma conversa telefônica com seu par venezuelano, Nicolás Maduro, na qual o instou a "manter aberto o diálogo" com os Estados Unidos diante dos crescentes temores de uma ação militar americana no território da Venezuela. Segundo um comunicado da presidência turca, Erdogan destacou que "é importante manter abertos os canais de diálogo entre os Estados Unidos e a Venezuela" e expressou sua esperança de que "a tensão seja reduzida o mais rápido possível". Trump e Maduro também conversaram por telefone há 12 dias, sem revelar detalhes. O presidente venezuelano tem insistido no diálogo, enquanto Washington intensifica a pressão.

Análise: Ao evocar Doutrina Monroe, nova estratégia de segurança de Trump traz velhos fantasmas à América Latina

Ação no Caribe: Embarcação atacada duas vezes pelos EUA ia a encontro de outra com destino ao Suriname, diz almirante

Desde o início do deslocamento de ativos militares dos EUA para a costa do país sul-americano em agosto, Washington já realizou pelo menos 22 ataques contra embarcações apontadas pelo governo de Donald Trump como suspeitas de narcotráfico, provocando 87 mortes. Os Estados Unidos alegam que as ações fazem parte de uma operação de combate ao narcotráfico, mas Caracas argumenta que os interesses de Trump giram em torno da queda de Maduro.

Durante a conversa, "o presidente Recep Tayyip Erdogan expressou sua profunda preocupação com as recentes ameaças à Venezuela, particularmente o deslocamento militar e as diversas ações destinadas a perturbar a paz e a segurança no Caribe", destacou um comunicado de Caracas.

Maduro "explicou detalhadamente a natureza ilegal, desproporcional, desnecessária e até mesmo extravagante dessas ameaças, deixando claro que a Venezuela continua a trabalhar firmemente pelo crescimento econômico, pela paz nacional e pela estabilidade política", acrescentou o comunicado de Caracas.

Maduro e Erdogan também discutiram a suspensão em massa de voos internacionais após um alerta de segurança emitido pela autoridade de aviação dos EUA devido ao aumento da atividade militar perto da Venezuela.

"Eles concordaram sobre a importância de restabelecer, o mais rápido possível, a conexão aérea Caracas-Istambul-Caracas pela Turkish Airlines, o que permitirá o transporte contínuo de milhares de turistas e investidores que utilizam essa rota semanalmente para fortalecer os laços entre as duas nações", diz o documento.

Estratégia de Segurança Nacional dos EUA 2025: O que diz o documento sobre cada região do mundo

A Turquia, juntamente com o Irã, a China e a Rússia, é um dos principais aliados internacionais de Maduro. Após a proclamação de Maduro para um terceiro mandato em julho de 2024, Erdogan expressou seu apoio. A oposição venezuelana denunciou fraude nessas eleições e reivindicou a vitória do exilado Edmundo González Urrutia.

Em 2018, Erdogan viajou à Venezuela para apoiar Maduro depois que os Estados Unidos e cerca de cinquenta outros governos se recusaram a reconhecer sua primeira reeleição, denunciando-a como fraudulenta. Na época, ele prometeu apoio a Maduro diante das sanções impostas por Washington.

Initial plugin text

,

Interesses turcos

Em recente reportagem sobre a situação no Caribe, onde os EUA continuam exibindo seu poder militar e, em palavras de uma fonte do governo brasileiro, “uma arma continua engatilhada” contra a Venezuela, o jornal Miami Herald apontou três países envolvidos, em maior ou menor medida, em esforços para impedir uma escalada da crise: Turquia, Catar e Brasil. A reportagem não mencionou a Colômbia, mas o governo de Gustavo Petro chegou a oferecer Cartagena como local para negociações.

No caso da Turquia, explica Imdat Oner, ex-diplomata que serviu na embaixada de seu país em Caracas de 2014 a 2016, “o papel de mediador em diferentes conflitos é uma das prioridades centrais da política externa turca. E o mesmo vale para o Catar. Vimos isso em casos no Oriente Médio e na África”.

— A Venezuela, para a Turquia, é uma porta de entrada na América Latina. A Turquia investiu na Venezuela e quer manter seus interesses por lá. [O presidente Recep Tayyip ] Erdogan tem uma boa relação pessoal tanto com Maduro quanto com Trump, e busca aproveitar essa influência para estar à mesa de negociação — explicou ao GLOBO o ex-diplomata turco, que vive nos EUA e trabalha como analista internacional.

(Com AFP)