Planeta errante devora mais de 6 bilhões de toneladas por segundo e intriga astrônomos
Astrônomos observaram um fenômeno inédito no espaço: o planeta errante Cha 1107-7626 está “devorando” gás e poeira em uma taxa impressionante de 6,6 bilhões de toneladas por segundo, comportamento geralmente associado as estrelas em formação. A descoberta, feita com o auxílio do Telescópio Espacial James Webb (JWST) e do Very Large Telescope (VLT), no Chile, foi publicada no último domingo (2) na revista The Astrophysical Journal Letters e desafia a compreensão atual sobre a formação e evolução dos planetas.
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O Cha 1107-7626, localizado na constelação de Camaleão, é um planeta errante, um corpo celeste que vaga livremente pelo espaço sem orbitar uma estrela. Embora objetos desse tipo não sejam raros, este chamou atenção por sua atividade de "acreção extrema", ou seja, por absorver matéria em quantidades muito superiores às esperadas para planetas desse tipo. Essa “fome cósmica” faz com que ele cresça em ritmo acelerado, lembrando mais o comportamento de uma estrela jovem do que o de um planeta.
Segundo o pesquisador Víctor Almendros-Abad, principal autor do estudo, entender a origem desses objetos pode revelar novos caminhos sobre a formação planetária. “Queremos descobrir se esses planetas são fragmentos ejetados de sistemas maiores ou se nasceram de forma isolada, a partir do colapso de nuvens moleculares — o mesmo processo que dá origem às estrelas”, afirmou o astrônomo em entrevista ao portal Live Science.
Os cientistas observaram que, embora o Cha 1107-7626 sempre tenha absorvido gás e poeira de seu disco ao redor, algo mudou drasticamente em agosto de 2025, quando o ritmo de acreção disparou para oito vezes o normal. Esse aumento repentino, descrito como uma explosão de acreção, é um fenômeno comum em estrelas jovens, mas nunca havia sido registrado em um planeta errante, o que levanta novas questões sobre sua natureza.
Os surtos de absorção de matéria sugerem que o planeta possa estar passando por uma fase transitória, em que seu núcleo ou seu campo magnético estejam se reorganizando. Outra hipótese é que Cha 1107-7626 ainda esteja em um estágio inicial de formação, atuando como uma espécie de elo perdido entre planetas e estrelas. “Ainda não sabemos se estamos observando um planeta que se comporta como estrela, ou uma estrela que não teve massa suficiente para se tornar uma”, explica Almendros-Abad.
Localização no céu do planeta rebelde Cha 1107-762 (infravermelho)
ESO
A equipe do James Webb e do VLT continuará monitorando o corpo celeste nos próximos meses, buscando entender a origem e a frequência desses surtos de acreção. “Saber com que regularidade isso ocorre nos ajudará a compreender a evolução dos planetas errantes e talvez a redefinir o que chamamos de planeta”, afirmou um dos coautores, do Observatório Astronômico de Palermo, na Itália.
