Pioneiro da robótica vê euforia nos robôs humanoides e prevê decepção no setor
"Gosto de observar o que todos estão fazendo, encontrar algo em comum que todos estejam assumindo implicitamente", disse Rodney Brooks, "e negar isso". Aos 70 anos Brooks, um pioneiro da robótica, ex-diretor do laboratório do MIT e cocriador do popular aspirador robô Roomba, que dedicou sua carreira a tornar as máquinas inteligentes parte do cotidiano, se vê na posição de cético. Brooks argumenta que robôs humanoides de uso geral não chegarão às nossas casas tão cedo e que não são seguros o suficiente para conviver com humanos.
Em setembro, ele publicou um ensaio criticando duramente essa ideia, concluindo que, nos próximos 15 anos, “muito dinheiro terá desaparecido, gasto na tentativa de extrair desempenho, qualquer desempenho, dos robôs humanoides de hoje. Mas esses robôs já terão desaparecido há muito tempo e serão convenientemente esquecidos.”
A postagem em seu blog causou furor no pequeno mundo da robótica. Ele era uma lenda na área, cujas ideias haviam influenciado a febre dos humanoides.
— Vamos passar por um período de grande euforia, seguido por um período de decepção — disse ele em entrevista.
A aparência física de um robô, como Brooks gosta de dizer, promete o que ele pode fazer. Os robôs utilizados hoje em dia são projetados para trabalhos específicos em situações específicas e têm uma aparência que reflete isso — um braço que realiza a mesma ação repetitiva em uma linha de produção ou os movimentadores de paletes automatizados nos armazéns da Amazon. Eles não são chamativos.
— As pessoas veem a forma humanóide pensam que ela será capaz de fazer tudo o que um humano pode fazer — disse.
É por isso que a Tesla de Elon Musk parece estar apostando tudo em seu robô, Optimus. Em outubro, Musk disse que o robô de sua empresa "provavelmente poderia atingir 5 vezes a produtividade de uma pessoa por ano, porque pode operar 24 horas por dia, 7 dias por semana".
Musk acredita, entre outras coisas, que Optimus será um excelente cirurgião, uma afirmação ousada, já que a destreza em nível humano está entre os maiores desafios da robótica.
O empresário não é o único com grandes ambições. Entre outras, a startup Figure AI arrecadou quase US$ 2 bilhões desde 2022 para desenvolver sua linha de robôs no estilo C-3PO para diversas aplicações, desde manufatura até cuidados com idosos. Você poderá gastar US$ 20.000 para ter um robô fabricado pela 1X Technologies, de Palo Alto, em sua casa no próximo ano — mas sua autonomia limitada será complementada pelos funcionários da empresa, que o controlarão remotamente em um esquema para ensiná-lo novas tarefas.
Esta é apenas a mais recente tentativa de alcançar o que Brooks e seus coautores chamaram de "santo graal" em um artigo de 1999. Tentativas anteriores de construir robôs humanoides de uso geral fracassaram devido à complexidade de andar sobre dois pés e outras dificuldades semelhantes de imitar a forma humana com componentes eletrônicos.
Brooks disse que não chegaria a menos de um metro de um robô humanoide. Se — ou melhor, quando — eles perdem o equilíbrio, a poderosa mecânica que os torna úteis os transforma em perigos.
De modo geral, as normas de segurança exigem que as pessoas se mantenham afastadas dos robôs em ambientes industriais. Aaron Prather, diretor de robótica e sistemas autônomos da ASTM International, uma organização que define padrões, afirmou que os robôs humanoides não são inerentemente inseguros, mas exigem diretrizes claras, principalmente quando saem de ambientes onde as pessoas são treinadas para trabalhar ao lado deles.
— Para robôs que entram em casas, especialmente humanoides teleoperados, estamos em território desconhecido — disse Prather.
Em novembro, o ex-chefe de segurança de produtos da Figure entrou com um processo por demissão injusta contra a empresa, alegando que foi demitido após tentar adotar diretrizes de segurança rigorosas. A Figure se recusou a comentar sobre sua tecnologia, mas um representante negou as alegações do processo, afirmando que o funcionário foi demitido por baixo desempenho.
Um representante da 1X disse que seu robô doméstico utiliza novos mecanismos que “tornam o NEO excepcionalmente seguro e adequado para o contato com pessoas”.
Brooks se mostra particularmente cético quanto à capacidade das redes neurais de resolver o problema da destreza. Os humanos não possuem uma linguagem para coletar, armazenar e comunicar dados sobre o tato, da mesma forma que temos para a linguagem e as imagens.
A notável capacidade sensorial dos nossos dedos coleta todo tipo de informação que não conseguimos traduzir facilmente para as máquinas. Em sua visão, os dados visuais preferidos pela nova geração de startups de robótica simplesmente não serão capazes de recriar o que podemos fazer com os nossos dedos.
— Meus alunos construíram muitas mãos, muitos braços, e enviaram dezenas de milhares de braços robóticos. Estou muito convencido de que robôs humanoides não terão o mesmo nível de manipulação que os humanos — disse Brooks.
Os pesquisadores argumentam que, se os dados visuais por si só não forem suficientes, podem adicionar sensores táteis aos seus robôs ou usar dados internos coletados pelo robô quando este for operado remotamente por um usuário humano. Não está claro se essas técnicas serão baratas o suficiente para tornar esses negócios sustentáveis.
Brooks diria que é realista, não pessimista. Sua principal preocupação é que o foco excessivo nas técnicas de treinamento mais modernas acabe negligenciando outras ideias promissoras. Ele prevê que um dia os robôs trabalharão ao lado de pessoas e que poderemos até mesmo chamá-los de humanoides — mas eles terão rodas, afirma, múltiplos braços e provavelmente não serão de uso geral.
Atualmente, ele trabalha acima do armazém modelo em San Carlos, Califórnia, onde os robôs da Robust aprendem suas funções, mas espera se afastar da vida corporativa nos próximos anos. Não para se aposentar, mas para escrever um livro sobre a natureza da inteligência e por que os humanos não a criarão artificialmente por mais 300 anos.
