Pela primeira vez em anos, Coreia do Sul propõe conversas militares ao Norte em meio a tensão na fronteira
Pela primeira vez em sete anos, a Coreia do Sul propôs a realização de conversas militares com Pyongyang para evitar confrontos na fronteira. A iniciativa, anunciada nesta segunda-feira, ocorre após uma série de incursões de soldados norte-coreanos na zona de demarcação militar ao longo do último ano. Em entrevista coletiva, Kim Hong-cheol, vice-ministro para políticas de defesa nacional, afirmou que canais de comunicação militar podem ajudar a evitar uma escalada.
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— Para prevenir choques acidentais e aliviar tensões militares, nossas Forças Armadas propõem oficialmente que os dois lados realizem conversas militares para discutir o estabelecimento de uma linha de referência clara para a MDL — disse ele, em referência à Linha de Demarcação Militar, linha oficial dentro da Zona Desmilitarizada (DMZ), faixa de segurança de 4 km de largura que divide a península.
O gesto conciliador ocorre num momento de elevação das tensões. Segundo Seul, tropas do Norte cruzaram repetidamente a MDL durante a instalação de estradas táticas, cercas e minas. As violações aumentaram o risco de incidentes mais graves, especialmente devido ao grande contingente militar posicionado pelos dois países na região. Cerca de 28,5 mil militares americanos também estão estacionados na Coreia do Sul.
Kim afirmou que as recentes incursões de tropas norte-coreanas ocorreram devido à “perda de muitos marcadores da MDL” instalados sob o acordo de 1953, ao fim da Guerra da Coreia. Isso, afirmou, levou a “percepções divergentes sobre o limite em certas áreas por ambos os lados”, aumentando o risco de confrontos. O Norte violou a linha de fronteira cerca de dez vezes este ano, segundo o Ministério da Defesa de Seul.
— Em 1973, durante trabalhos de manutenção nos marcadores da MDL pelo Comando da ONU, forças norte-coreanas abriram fogo, e a manutenção está suspensa desde então — disse à AFP um funcionário da pasta que falou sob condição de anonimato.
O anúncio também vem após o lançamento de um míssil balístico pela Coreia do Norte na costa leste no início deste mês e depois da visita do presidente Donald Trump à região, quando ele expressou disposição para se reunir com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Kim também deixou aberta a possibilidade de um novo encontro com Trump, embora insista que Washington e Seul abandonem a exigência de desnuclearização como pré-condição.
Apesar da proposta de diálogo, não está claro se Pyongyang aceitará a oferta. A agência de inteligência sul-coreana afirmou recentemente que o regime parece estar se preparando para uma possível cúpula com os EUA, reunindo informações sobre autoridades americanas envolvidas na diplomacia com o Norte. Mesmo assim, Pyongyang tem rejeitado o que chama de “sonho tolo” do governo de Lee Jae Myung de tentar melhorar as relações entre as Coreias.
Desde que assumiu a Presidência, em junho, Lee adotou várias medidas para reduzir as tensões, incluindo a remoção de alto-falantes de propaganda ao longo da fronteira e a proibição do lançamento de panfletos anti-Pyongyang. A proposta de conversas militares segue-se à oferta mais ampla do presidente sul-coreano de dialogar com o Norte sem pré-condições — uma reviravolta em relação à postura mais dura de seu antecessor conservador.
As tentativas de Lee de retomar o diálogo com Pyongyang substituem a abordagem linha-dura do ex-presidente Yoon Suk Yeol, afastado do cargo após se aproximar de Moscou em meio à guerra da Rússia na Ucrânia. A Coreia do Norte, porém, ainda não respondeu aos esforços de aproximação de Lee. Se aceitar a proposta mais recente, será a primeira conversa militar entre os dois lados desde 2018.
Com as relações entre os dois países em um dos pontos mais baixos dos últimos anos, Seul e Pyongyang travaram uma guerra de propaganda em 2024. O Norte enviou milhares de balões cheios de lixo para o Sul, em retaliação aos balões de propaganda lançados por ativistas sul-coreanos. As políticas agressivas de Yoon chegaram ao fim em dezembro, após ele ter sido removido do cargo ao anunciar uma lei marcial. Sua destituição levou a uma eleição presidencial extraordinária em junho, que levou Lee ao poder.
Com Bloomberg e AFP.
