Papa Leão XIV pede por unidade entre os cristãos em celebração na Turquia ao lado do patriarca da Igreja Ortodoxa

 

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Em seu segundo dia de agendas na Turquia, o Papa Leão XIV pediu nesta sexta-feira unidade e fraternidade entre os cristãos de diferentes confissões durante a celebração dos 1.700 anos do Concílio Ecumênico de Niceia, um marco para a doutrina da Igreja. Desde que assumiu o comando da Igreja Católica em maio, ao suceder o Papa Francisco, morto um mês antes, esta é primeira viagem ao exterior de seu pontificado, que depois o levará ao Líbano.

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Após um encontro com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, na quinta-feira, o Pontífice se deslocou para Iznik, a antiga Niceia, ao sul de Istambul, para uma grande oração sobre os restos de uma basílica submersa do século IV, na presença de dignitários religiosos, ortodoxos e protestantes. Às margens do lago, estes últimos recitaram o Credo de Niceia, um texto que ainda é usado por milhões de cristãos de diferentes confissões ao redor do mundo, redigido durante o próprio Concílio no ano 325, que reuniu 300 bispos do Império Romano.

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Durante uma cerimônia rica em símbolos, Leão XIV destacou em um discurso em inglês "a busca pela fraternidade":

— Todos somos convidados a superar o escândalo das divisões que, infelizmente, ainda existem, e a alimentar o desejo de unidade — afirmou.

Os católicos e os cristãos ortodoxos estão divididos desde o cisma do ano 1054. Os primeiros reconhecem a autoridade universal do Papa como chefe da Igreja, enquanto os segundos estão organizados em Igrejas autocéfalas — que são autogovernadas e não se submetem a nenhum bispo de nível superior. Agora, o mundo ortodoxo parece hoje mais fragmentado do que nunca, já que a Guerra na Ucrânia acelerou a ruptura entre os patriarcados de Moscou e Constantinopla.

A cerimônia, marcada por orações em vários idiomas e cânticos polifônicos e bizantinos a capela, foi presidida pelo patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, figura destacada do mundo ortodoxo. Na presença de representantes de diversas Igrejas (copta, grega, armênia, siríaca, anglicana), Bartolomeu I convidou a "seguir o caminho da unidade cristã que nos foi traçado, apesar das divisões" dos séculos passados.

Condenação ao fanatismo

Em uma época em que "o mundo está transtornado e dividido por conflitos e antagonismos", a visita de Leão XIV "é particularmente importante e significativa", havia declarado antes à AFP o patriarca de Constantinopla, que exerce um papel de liderança sobre os demais patriarcas do mundo ortodoxo. Em 2018, o poderoso patriarcado de Moscou, dirigido por Cirilo, aliado do presidente russo, Vladimir Putin, rompeu com o de Constantinopla após o reconhecimento de uma Igreja independente na Ucrânia. Moscou, que não figura entre os quatro patriarcados antigos convidados a Iznik, teme que o Vaticano fortaleça o papel de Constantinopla como interlocutor privilegiado e enfraqueça sua influência.

Em sua declaração, Leão XIV também pediu que se rejeite "firmemente" o uso da religião para justificar a guerra e a violência, bem como qualquer forma de fundamentalismo e fanatismo, sem mencionar abertamente nenhum responsável de nenhuma religião.

O patriarca Cirilo apoiou a invasão russa à Ucrânia, que qualificou como "guerra santa".

Recepção calorosa

Na manhã desta sexta-feira, Leão XIV foi recebido com fervor entre cânticos e aplausos pelos centenas de fiéis reunidos na catedral do Espírito Santo de Istambul, muitos dos quais se levantaram ao amanhecer para vê-lo.

— [A visita] é uma bênção para nós — confidenciou à AFP Ali Günüru, um morador de Istambul de 35 anos, que está entre os 100 mil cristãos do país, 0,1% de seus 86 milhões de habitantes. — O mundo precisa de paz, em todos os lugares. Temos problemas graves, particularmente em nossa região e em nosso país: os estrangeiros, os refugiados… acredito que o papa terá o poder de ajudá-los e que fará tudo o que for possível. É o que mais desejo.

Visivelmente emocionado, o Pontífice encorajou sacerdotes e fiéis, afirmando que "a lógica do pequeno é a verdadeira força da Igreja Católica", em um país onde os cristãos lutam contra um forte sentimento de exclusão.

Depois de Paulo VI (1967), João Paulo II (1979), Bento XVI (2006) e Francisco (2014), Leão XIV é o quinto papa a visitar a Turquia.

No sábado, ele se dirigirá à Mesquita Azul, um dos ícones de Istambul construído no século XVII sobre o local do antigo palácio dos imperadores bizantinos, antes de presidir uma grande missa diante de 4 mil fiéis.

De domingo até a terça-feira, ele continuará sua viagem com uma visita ao Líbano, mergulhado em uma crise econômica e política desde 2019 e bombardeado regularmente por Israel nos últimos dias, apesar do cessar-fogo.