O oceano engole carbono? Estudo inglês revela como a lava no leito marinho retém CO₂ por milhões de anos; entenda
Você já se perguntou como o fundo do oceano ajuda a regular o clima do planeta? Um estudo publicado nesta segunda-feira (24) na Nature Geoscience mostra que acúmulos de lava no leito marinho, conhecidos como brechas de talude, podem reter quantidades significativas de dióxido de carbono, funcionando como verdadeiros sumidouros naturais de carbono.
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Os oceanos são cobertos por rochas vulcânicas formadas nas dorsais meso-oceânicas, à medida que placas tectônicas se separam e criam nova crosta. “Essa atividade vulcânica libera CO₂ das profundezas da Terra para o oceano e a atmosfera”, explica a Dra. Rosalind Coggon, da Universidade de Southampton, autora principal do estudo. A água do mar, ao penetrar nas fissuras da lava em resfriamento, reage com as rochas, removendo CO₂ da água e armazenando-o em minerais como carbonato de cálcio.
Brechas de talude: sumidouros de carbono
A equipe de pesquisa quantificou, pela primeira vez, quanto carbono esses depósitos, com cerca de 61 milhões de anos no Atlântico Sul, podem armazenar. Após 40 milhões de anos de cimentação, as brechas contêm em média 7,5% em peso de CO₂, proporção até 40 vezes maior do que a encontrada na crosta oceânica superior analisada em estudos anteriores.
Os cientistas estimam que, em regiões onde o fundo do mar se forma lentamente, a quantidade de brechas de talude é suficiente para reter uma parte significativa do CO₂ liberado durante a criação de nova crosta vulcânica. A taxa de separação das placas tectônicas influencia diretamente o número de fraturas e colapsos que formam essas brechas, sugerindo que, ao longo da história, o armazenamento de carbono no fundo do oceano variou consideravelmente.
Implicações para o ciclo global do carbono
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores analisaram perfurações profundas no Atlântico Sul, coletando núcleos de até 340 metros e medindo composição química, porosidade e processos de cimentação. A porosidade média das brechas supera 19%, permitindo que minerais preencham os vazios ao longo de milhões de anos e armazenem CO₂ em estado sólido, variando de 4,9% a 14,1% do peso total de cada amostra.
O estudo força uma reavaliação das estimativas sobre o ciclo global do carbono, especialmente nas trocas entre crosta oceânica, mares e atmosfera. As brechas de talude acumuladas em dorsais de expansão lenta podem absorver uma fração considerável do CO₂ emitido pelo vulcanismo, um processo que se repete em outras margens tectônicas semelhantes. Pesquisadores destacam que a produção global de crosta oceânica, atualmente em 3,4 km² por ano, está associada a fluxos de CO₂ que podem representar mais de 20% das emissões dessa formação.
