O mistério dos 'hobbits' de Flores: como a seca levou à extinção do Homo floresiensis; entenda

 

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Você já imaginou como o clima pode determinar o destino de uma espécie? Há cerca de 50 mil anos, o Homo floresiensis, apelidado de “hobbit” por sua baixa estatura, deixou de habitar a ilha de Flores, no Sudeste Asiático, após mais de um milhão de anos de presença contínua.

Um estudo publicado na Communications Earth & Environment, nesta segunda-feira (8), mostra que a diminuição prolongada das chuvas e a intensificação das secas na região de Liang Bua alteraram profundamente o ecossistema local, reduzindo recursos hídricos essenciais para a sobrevivência desses hominídeos e de alguns animais com os quais interagiam diariamente.

A pesquisa, baseada em estalagmites e restos fósseis, aponta que o período de seca extrema iniciado há cerca de 61 mil anos coincidiu com um declínio no número de fósseis de Homo floresiensis e do elefante-pigmeu Stegodon florensis insularis. Conforme os autores, o clima se tornou “muito mais seco no verão, semelhante ao sul de Queensland nos dias atuais” (The Conversation).

O estudo utilizou registros de estalagmites da Caverna Liang Luar, vizinha a Liang Bua, para reconstruir a precipitação ao longo do tempo. Essas formações minerais, que se desenvolvem lentamente a partir do gotejamento de água saturada em minerais, registram variações ambientais com precisão.

Os pesquisadores identificaram três fases climáticas: uma primeira entre 91 mil e 76 mil anos atrás com chuvas superiores às atuais; uma segunda marcada por monções sazonais acentuadas até 61 mil anos atrás; e, por fim, um período de seca prolongada no verão, responsável pela escassez de água.

Análises geoquímicas de estalagmites e dentes fossilizados de Stegodon permitiram correlacionar a precipitação com a disponibilidade de água para os animais. A maioria dos elefantes-pigmeus dependia do rio Wae Racang, cuja vazão diminuiu significativamente durante a fase de seca extrema, dificultando a sobrevivência da fauna local e a subsistência dos hominídeos.

O estudo revela que a densidade de ferramentas de pedra utilizadas no processamento de Stegodon diminuiu drasticamente durante a fase de seca, indicando que a população humana local provavelmente abandonou Liang Bua em busca de melhores condições antes mesmo de sua extinção.

Embora a chegada do Homo sapiens tenha ocorrido milhares de anos depois, o registro hidroclimático reforça que a aridificação já havia sido o principal fator do declínio populacional. Esta reconstrução climática fornece uma base sólida para compreender como a variabilidade ambiental moldou a história de espécies emblemáticas muito antes da interação com os humanos modernos.