O fungo mais caro do mundo: cogumelo japonês chega a R$ 125 mil o quilo e supera trufas e caviar em leilão
Será que um único cogumelo pode valer mais que joias? No Japão, a temporada de outono abriu com um recorde que surpreendeu até os chefs mais experientes: oito matsutakes foram arrematados por cerca de € 4.300. O valor equivale a mais de € 20.400 por quilo — algo em torno de R$ 125 mil — ultrapassando ingredientes de prestígio como trufas brancas, açafrão e até caviar.
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Raro, aromático e profundamente enraizado na cultura local, o matsutake é visto como um emblema de prosperidade. Os primeiros exemplares da estação são disputados em leilões como verdadeiras pedras preciosas. Neste ano, segundo o Dangesps, o lote recordista foi adquirido, em outubro, pelo chef Noritsugu Yoshimura, do restaurante Kinmata, em Quioto, que exaltou “a textura firme, a humidade perfeita e o aroma incrível” dos fungos que levou para sua cozinha.
O interesse não se explica apenas pelo sabor pungente, descrito como apimentado e marcante, nem pelo perfume característico, que inspirou até fragrâncias tradicionais de Quioto. A valorização também está ligada às condições ecológicas extremamente específicas para seu crescimento. O matsutake não pode ser cultivado industrialmente, perde aroma rapidamente após a colheita e requer transporte veloz para manter a qualidade — fatores que restringem o volume disponível no mercado.
Apesar da fama japonesa, o cogumelo também nasce em ambientes muito particulares da Escandinávia, especialmente em pinhais de solo seco e arenoso. Segundo Tor Erik Brandrud, do Instituto Norueguês de Investigação da Natureza, “o cogumelo não é um mito” e aparece em regiões como Elverum e Pasvik, na Noruega, além de diversas áreas da Suécia. Só no território sueco, o Banco de Dados de Espécies registrou ocorrências de Norrbotten a Sörmland, totalizando cerca de uma centena de pontos confirmados.
Mesmo assim, tanto na Suécia quanto na Noruega o matsutake é classificado como espécie vulnerável, já que depende de um habitat sensível. E, embora reúna características que poderiam transformá-lo na “trufa nórdica”, o seu potencial gastronômico ainda é pouco explorado. Especialistas afirmam que muitos dos exemplares encontrados acabam ignorados ou misturados a receitas tradicionais, longe do valor milionário alcançado em solo japonês.
A possibilidade de exportação para o Japão é tema recorrente entre colhedores escandinavos. Brandrud admite que existe espaço para o negócio, mas pondera que apenas cogumelos de “qualidade excecional” e com transporte quase imediato chegariam ao mercado com o aroma preservado. Até lá, quem encontra matsutakes nas florestas nórdicas costuma seguir o conselho mais simples: grelhá-los em uma noite fria de outono, acompanhados de sake ou vinho natural sueco — uma experiência que, embora distante dos leilões asiáticos, mantém viva a essência do fungo mais caro do mundo.
