Novo calendário da Rússia para 2026 exalta Putin como 'um homem para cada estação'; veja

 

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Na Rússia, chegou aquela época do ano que um tipo especial de calendário para o ano seguinte, com fotos de celebridades, começa a ser vendido em bancas de jornal e livrarias. No calendário de 2026, o protagonista é o presidente Vladimir Putin, que mostra seu papel multifacetado de "pai da nação", como um líder forte, religioso fervoroso, esportista radical, historiador, amante de cães e guru de estilo de vida.

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Os calendários, dos quais existem vários, seguem o mesmo formato básico. Cada mês mostra uma foto diferente de Putin e inclui uma breve citação de seus discursos.

— É a ideia de um homem para cada estação — disse Fiona Hill, pesquisadora sênior da Brookings Institution em Washington, que chefiou a seção sobre a Rússia no Conselho de Segurança Nacional durante o primeiro governo de Donald Trump. — Eles estão posicionando Putin como essa figura icônica, lembrando a todos o quão legal ele é, o quanto ele está no controle, o quanto ele é uma espécie de símbolo vivo e a personificação do dia a dia de literalmente todos.

Não existem imagens que liguem Putin à guerra que ele iniciou contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, o que reflete a versão oficial de que o conflito é uma distração distante. Para que ninguém tenha uma impressão errada, no entanto, algumas declarações refletem a perspectiva agressiva da Rússia em sua tentativa de engolir seu vizinho menor.

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Em janeiro, Putin aparece montado em uma moto de neve. A frase do mês: “A fronteira da Rússia nunca termina”. Em fevereiro, ele aparece derrubando um parceiro do judô. A frase escolhida é: “Sou uma pomba, mas tenho asas de ferro muito poderosas”.

Os calendários são vendidos a cerca de US$ 3,50 cada (quase R$ 20, na cotação atual). Eles acabam pendurados em salas de aula, correios e outras instalações governamentais, além das residências. Segundo Maxim Trudolyubov, editor do blog de análise política The Russia File, não importa quantas edições existam, os calendários transmitem uma certa monotonia.

— Este gênero é uma forma de arte em si mesma — afirmou o jornalista, observando que Putin, de 72 anos, tornou-se presidente da Rússia pela primeira vez há quase 26 anos. — É um império com esse imperador antigo que está no poder há décadas, então espera-se que seja entediante; espera-se que transmita estabilidade, previsibilidade, mesmo que a realidade seja completamente diferente.

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Os calendários exalam uma certa aura do boneco Ken, namorado da Barbie, com o presidente russo vestindo diversas roupas para papéis diferentes. Em julho, ele aparece sentado ao piano, de terno e gravata, com um olhar sonhador, citando uma canção que diz sobre fazer as coisas com as próprias mãos. Já em agosto, ele veste um uniforme de caçador para dar conselhos de estilo de vida: “Minha receita para energia: dormir pouco, trabalhar muito e não reclamar”.

Outro conselho no calendário oferece um exemplo do humor ácido de Putin: "É contraproducente enfiar a cabeça na areia, porque outra coisa sempre vai se destacar".

O egocentrismo de Putin

Putin já estrelou o calendário em anos anteriores, com poses sem camisa, montado a cavalo e pescando. Desta vez, porém, não houve nenhuma das imagens de herói dos outros anos, com Putin pilotando um parapente motorizado entre pássaros na Sibéria ou vestindo equipamento de mergulho para "descobrir" uma urna grega nas profundezas do Mar Negro — uma foto claramente encenada.

Em 2009, o então primeiro-ministro Putin cavalga em Kyzyl, na Sibéria

Alexsey Druginyn / AFP

Os calendários começaram a aparecer logo após ele assumir a presidência, em 2000, mas parecem ter realmente decolado por volta de 2011. Naquele ano, 12 estudantes de jornalismo da Universidade Estatal de Moscou fizeram um calendário próprio, cada uma posando de lingerie com uma frase sobre Putin. "Toda mulher precisa de um homem como Putin”, dizia a frase de janeiro. Jovens mulheres críticas ao líder russo criaram um calendário alternativo nas redes sociais, posando vestidas de preto com a boca tapada com fita adesiva.

A pesquisadora Fiona Hill sugeriu que esse tipo de branding fazia parte da abordagem “populista e autoritária” para tudo.

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— Trump faz exatamente a mesma coisa — disse ela, observando que seria difícil imaginar os líderes do Canadá, da Alemanha ou do Reino Unido aparecendo em camisa. — Essas pessoas não são tão egocêntricas e estão em um ambiente político diferente.

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Em setembro, tentando sair na frente da concorrência, pelo menos um jornal russo lançou o calendário do Putin para 2026.

Para quem ainda não se decidiu se um calendário do Putin é a compra certa este ano, ele manipulou a Constituição para se manter presidente pelo menos até 2036, o que significa que restam mais de 4 mil dias para comprar um.