'Não conseguirão derrotar a Venezuela', diz Maduro ao pedir unidade e firmeza nacional
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fez um chamado à nação nesta segunda-feira em um programa televisivo, pedindo unidade e firmeza ante à pressão externa, e disse que "aconteça o que acontecer, não conseguirão derrotar a Venezuela". A fala ocorre após o general Dan Caine, a mais alta autoridade militar americana, visitar nesta segunda-feira uma base em Porto Rico e um dos vários navios de guerra da Marinha enviados ao Mar do Caribe, em um momento de intensificação das tensões entre Washington e Caracas.
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— Não importa o que aconteça, como façam ou onde façam, não conseguirão derrotar a Venezuela. Somos invencíveis, eles não conseguiram e nunca conseguirão — disse Maduro em seu programa na televisão estatal, Con Maduro+.
Na terça-feira, Caine seguirá para Trinidad e Tobago para se reunir com a premier Kamla Persad-Bissessar e discutir o combate "ao tráfico ilícito e as organizações criminosas transnacionais", disse um comunicado da Embaixada dos EUA na capital do país, Porto Espanha. Forças dos Estados Unidos e de Trinidad e Tobago iniciaram exercícios militares conjuntos nos últimos dias, a segunda série em um mês. Fuzileiros navais da 22ª Unidade Expedicionária participam a partir de navios da Marinha que navegam na região.
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A viagem de Caine ocorre enquanto a administração do presidente Donald Trump avalia novos passos de pressão contra o regime de Nicolás Maduro, incluindo possíveis ações militares, após oficializar a designação do chamado Cartel de Soles como terrorista — Washington acusa Maduro de liderar o grupo que, segundo especialistas, não é uma organização real.
Oficialmente, a visita a um dos navios de guerra e à base de Roosevelt Roads, reativada recentemente em Porto Rico, foi uma oportunidade para agradecer as tropas antes do feriado de Ação de Graças, na quinta-feira, mas o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos é o principal arquiteto do que o Pentágono chama de Operação Lança do Sul, a maior mobilização de forças navais no Caribe desde a Crise dos Mísseis e o bloqueio de Cuba, em 1962. Navios de guerra americanos têm realizado operações em áreas próximas à costa venezuelana, em regiões distantes das principais rotas de tráfico de drogas, segundo análises de imagens de satélite verificadas pelo New York Times.
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Presença militar dos EUA no Caribe e movimentação de navios perto da Venezuela
Arte/ O GLOBO
Segundo o Pentágono, Caine viajou a Porto Rico acompanhado de David L. Isom, integrante da força de elite da Marinha Navy SEALs e assessor sênior, para se reunir com militares do Comando Sul. O deslocamento ocorre dias após a chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford — o maior do mundo — ao Caribe, que se soma à presença de cerca de 15 mil militares na região, incluindo fuzileiros navais e aproximadamente 5 mil integrantes na base porto-riquenha.
Além disso, Trump anunciou ter aprovado planos da CIA para ações encobertas dentro da Venezuela, embora não haja detalhes públicos sobre o tipo de operação ou seu prazo. Também autorizou negociações por canais informais, que teriam incluído uma proposta — rejeitada pela Casa Branca — na qual Maduro se disporia a deixar o cargo após alguns anos.
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Washington intensificou ataques contra embarcações acusadas de transportar drogas no Caribe e no Pacífico nos últimos meses. Desde setembro, pelo menos 21 ofensivas resultaram na morte de 83 pessoas. O governo afirma que as operações são respaldadas por informações de inteligência, mas ainda não forneceu provas detalhadas sobre as cargas transportadas. Enquanto isso, caças F/A-18 decolam regularmente do porta-aviões Ford, e bombardeiros B-1 e B-52 realizam missões de treinamento próximas ao litoral venezuelano.
Autoridades dizem que Trump ainda não tomou uma decisão sobre ações militares adicionais, embora, há várias semanas, tenha sugerido que ataques terrestres estavam por vir. Variações desses ataques — contra instalações de drogas, tropas militares ou membros do círculo íntimo de Maduro — foram debatidas nos preparativos das reuniões de segurança nacional desta semana.
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Presença militar
Outrora maior estrutura da Marinha dos EUA no exterior, com área de 3.500 hectares, a base de Roosevelt estava desativada desde 2004 — até voltar a servir de ponto de apoio para as operações recentes dos EUA no Caribe. Em uma análise a partir de imagens de satélite, a agência de notícias Reuters constatou que melhorias foram realizadas na instalação desde setembro, quando os EUA voltaram a enviar meios militares. O relatório aponta que houve uma modernização das pistas de taxiamento, o que poderia permitir o uso tanto por caças quanto por aviões de carga, condizente com um preparativo para aumento no número de pousos e decolagens. Equipamentos portáteis de apoio ao tráfego aéreo e 20 novas tendas também foram instaladas.
Imagens de satélite também indicam a construção de instalações em aeroportos civis em Porto Rico e em St. Croix, nas Ilhas Virgens. No início do mês, também houve informação de que pelo menos três aeronaves militares americanas, incluindo um avião de ataque fortemente equipado, começaram a realizar missões a partir do principal aeroporto internacional de El Salvador, na América Central. Enquanto isso, forças americanas continuam a se apoiar logisticamente em pequenas nações, como Granada e Trinidad e Tobago.
A Venezuela acusa Trump de cercar o país. O governo de Nicolás Maduro intensificou a repressão interna em meio à tensão, incentivando o uso de aplicativos para a denúncia de pessoas por “atividades suspeitas”, prendendo suspeitos de dissidência e enviando grupos paramilitares aliados ao regime para bairros pobres, a fim de vigiar moradores e conter qualquer sinal de oposição.
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Tensão elevada
No domingo, ao fim da cúpula do G20, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse a repórteres que pretende contatar Trump para expressar preocupação com o aumento da presença militar dos EUA perto da Venezuela, alertando que as atividades podem desestabilizar a América do Sul.
— Não há absolutamente nenhuma razão para ter uma guerra agora. Não podemos repetir o erro cometido na guerra entre Rússia e Ucrânia — afirmou, acrescentando que uma solução deve ser encontrada antes de qualquer escalada.
A tensão também afetou a aviação comercial. No fim de semana, diversas companhias aéreas cancelaram voos de e para a Venezuela após um alerta da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA), que citou o “agravamento da situação de segurança e intensificação da atividade militar ao redor da Venezuela”, alimentando especulações sobre possíveis operações dos EUA. (Com Bloomberg e New York Times)
