María Corina Machado diz que fará 'todo o possível' para voltar à Venezuela

 

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A ganhadora do Nobel da Paz, María Corina Machado, afirmou que fará "todo o possível" para voltar à Venezuela. Ela chegou a Oslo na noite desta quarta-feira, anunciou o presidente do Comitê Nobel, Jørgen Watne Frydnes, horas após a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz, que foi recebido por sua filha, Ana Corina Sosa Machado.

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Cerca de uma hora após a chegada, ela apareceu da bancada do Grand Hotel, local de alojamento habitual dos ganhadores do Nobel na capital norueguesa, de onde saudou apoiadores e jornalistas — foi a primeira aparição pública da líder da oposição na Venezuela em 11 meses.

Ela saiu secretamente da Venezuela a bordo de uma embarcação na tentativa de chegar a Oslo a tempo de receber seu prêmio, mas acabou perdendo a cerimônia porque o mau tempo e o mar agitado atrasaram sua viagem, segundo uma fonte ouvida pela Bloomberg. Diante de seus apoiadores na gelada madrugada de Oslo, acenou e os ouviu cantarem o hino da Venezuela. Depois, desceu para a rua, onde cumprimentou as pessoas que a aguardavam.

María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela, fala com apoiadores em rua de Oslo

Odd ANDERSEN / AFP

María Corina, foragida há mais de um ano, deixou o país na terça-feira rumo a Curaçao — ilha caribenha pertencente à Holanda e onde funciona uma pequena base militar americana, a 65 km de distância da Venezuela —, de onde partiu mais tarde de avião para a capital norueguesa. Segundo a fonte, houve a ajuda de membros do regime do presidente Nicolás Maduro na travessia, algo que alguns altos funcionários americanos enxergam como um sinal de disposição para cooperar caso Maduro deixe o poder, pressionado pelos Estados Unidos.

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O Instituto Nobel afirmou que a venezuelana "fez tudo ao seu alcance para comparecer à cerimônia" e que estava empreendendo "uma viagem em situação de extremo perigo". "Estamos profundamente felizes em confirmar que ela está segura e que estará conosco em Oslo", dizia o comunicado.

— Ela está vivendo sob ameaça de morte do regime, pura e simplesmente — disse o diretor do Instituto Nobel, Kristian Berg Harpviken, à emissora pública norueguesa NRK. — Essa ameaça se estende para além das fronteiras da Venezuela, vinda do regime e de seus aliados ao redor do mundo.

Líder da oposição na Venezuela e vencedora do Nobel da Paz, María Corina Machado aparece na sacada de hotel em Oslo

Odd ANDERSEN / AFP

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A decisão de deixar a Venezuela traz consigo tanto oportunidades quanto riscos para ela e para o regime de Maduro. Seus apoiadores acreditam que um retorno bem-sucedido à Venezuela após a cerimônia do Nobel poderia fortalecer sua posição interna. Outros alertam que um Maduro desafiador poderia bloquear seu retorno e forçá-la ao exílio, um destino que já enfraqueceu líderes da oposição no passado.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que é aliado de María Corina e coordena uma ofensiva militar americana no Caribe que ameaça o regime de Maduro desde setembro, declarou nesta quarta-feira que "não ficaria feliz" se a Venezuela prendesse a ganhadora do Nobel da Paz quando ela retornar ao país.

— Não seria do meu agrado que ela fosse detida, eu não ficaria feliz — afirmou Trump em resposta a perguntas de jornalistas na Casa Branca.

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Risco de exílio

Durante dias, circularam especulações sobre os movimentos de María Corina e se ela faria a viagem à Noruega. Foi somente com sua mensagem — publicada on-line no início da cerimônia — que ela confirmou estar a caminho de Oslo, agradecendo ao Comitê Nobel Norueguês "por este imenso reconhecimento da luta do nosso povo pela democracia e liberdade".

Segundo o jornal americano Wall Street Journal, que divulgou detalhes sobre o plano da ida de María Corina a Oslo inicialmente, o Comitê Nobel não informou quando essa ligação telefônica ocorreu, nem onde a opositora estava naquele momento.

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Eleições contestadas

Figura mais popular da oposição, María Corina estava escondida desde agosto de 2024. Ela entrou na clandestinidade depois que Maduro disse que ela e Edmundo González Urrutia, o candidato da oposição nas eleições contestadas do ano anterior, "deveriam estar atrás das grades".

Apesar disso, o governo venezuelano se absteve de emitir um mandado de prisão contra ela, embora tenha alegado que ela estava envolvida em vários planos contra Maduro e seus aliados. Mais recentemente, as autoridades acusaram María Corina de planejar o plantio de explosivos em locais públicos, incluindo a capital do país.

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Maduro, que se tornou presidente após a morte de seu antecessor e patrono Chávez em 2013, é amplamente considerado como tendo fraudado a eleição de julho de 2024 contra González, que, segundo registros apresentados pela oposição, teria obtido a maioria dos votos. O órgão eleitoral venezuelano, que declarou Maduro vitorioso no pleito, porém, não reconhece esses registros.

González tornou-se uma espécie de representante de María Corina depois que esta foi impedida de concorrer à eleição, apesar de ter sido a vencedora esmagadora das primárias da oposição no ano anterior. Ele também esteve presente na cerimônia de entrega do Nobel da Paz em Oslo.

Apesar do prêmio, María Corina é vista por alguns como alguém que tolera o conflito militar para atingir seus objetivos de transição do regime autocrático de Maduro. Ela manifestou apoio ao aumento da presença militar dos EUA no Caribe e às ameaças do presidente Trump de usar a força para depor Maduro.

(Com AFP e Bloomberg)