Maduro afasta boatos de que teria deixado a Venezuela e reaparece em Caracas após dias de silêncio
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez no domingo sua primeira aparição pública em dias, encerrando os boatos de que teria deixado o país em meio à escalada das tensões com os Estados Unidos. O líder venezuelano, que costuma aparecer diversas vezes por semana na TV estatal, não era visto desde quarta-feira, quando publicou um vídeo dirigindo por Caracas em seu canal no Telegram.
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A reaparição ocorreu durante uma premiação anual de cafés especiais no leste da capital. Em imagens transmitidas online, Maduro entregou medalhas a produtores, provou diferentes cafés e fez breves comentários — sem abordar diretamente a crise com Washington. Ao fim do evento, exaltou a economia nacional e afirmou que a Venezuela é “indestrutível, intocável, imbatível”.
A declaração veio na esteira do aumento da presença militar dos EUA no Caribe, com mais de uma dúzia de navios de guerra e cerca de 15 mil soldados enviados à região. Washington afirma que a operação visa combater o narcotráfico, enquanto Caracas vê uma tentativa de pressionar Maduro a deixar o poder. Pouco antes da aparição pública, Donald Trump confirmou que falou por telefone com Maduro.
— Não quero comentar sobre isso, a resposta é sim — disse o presidente americano a jornalistas a bordo do Air Force One. — Eu não diria que foi boa ou ruim. Foi uma ligação.
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Os jornais americanos New York Times e Wall Street Journal já haviam informado sobre a conversa no início do mês. O governo venezuelano não comentou o assunto.
Acusações à Opep
As tensões também cresceram após Maduro enviar uma carta à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), acusando os EUA de fazerem “ameaças constantes e explícitas” e de buscarem tomar as reservas petrolíferas venezuelanas “à força”. Segundo ele, tais ameaças colocam em risco a estabilidade da produção de petróleo da Venezuela, que possui algumas das maiores reservas do mundo.
O ministro das Relações Exteriores venezuelano, Yvan Gil Pinto, divulgou a carta no Telegram, afirmando que o país seguirá “firme na defesa de seus recursos naturais”. O Departamento de Estado americano já havia negado acusações semelhantes, reiterando que sua prioridade são operações antidrogas no Caribe.
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Também no domingo, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, acusou os EUA de “assassinato” após Caracas reconhecer pela primeira vez que cidadãos venezuelanos estavam entre os mortos nos ataques americanos a barcos suspeitos de narcotráfico, que ocorrem desde setembro.
— Não há guerra declarada entre os EUA e a Venezuela, portanto isso só pode ser classificado como assassinato — disse Rodríguez, defendendo que “todo ser humano tem direito ao devido processo”.
Ele afirmou ter se reunido com familiares das vítimas e anunciou que o Parlamento criará uma comissão especial para investigar as mortes. A apuração incluirá relatos de que militares americanos realizaram um segundo ataque, em 2 de setembro, a uma embarcação suspeita no Caribe após a primeira ofensiva não matar todos a bordo. Rodríguez não disse quantos venezuelanos morreram, afirmando que o número será divulgado após o início das investigações.
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A Venezuela também enfrenta acusações de violações de direitos humanos. Segundo o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, venezuelanos alvo de repressão estatal são frequentemente privados de julgamentos justos. Mais de 50 pessoas teriam sido detidas por motivos políticos apenas em outubro, segundo organizações ouvidas pela CNN americana. O governo Maduro nega as acusações.
Desde setembro, as forças americanas têm conduzido operações de combate ao narcotráfico, com ataques contra embarcações suspeitas no Caribe e no Pacífico — ações criticadas por organizações de direitos humanos como execuções extrajudiciais ilegais. Até agora, 83 pessoas morreram em cerca de vinte bombardeios dos EUA contra embarcações suspeitas de transportar drogas na região, segundo dados recentes.
No sábado, Trump afirmou que o espaço aéreo sobre e ao redor da Venezuela será fechado em sua totalidade. O anúncio foi feito pouco após o republicano declarar que os esforços “por terra” contra traficantes de drogas venezuelanos começarão em breve — e dias depois da chegada no Mar do Caribe, em 12 de novembro, do USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo, tornando-se o mais símbolo do aumento da tensão na região.
