Macron fala em ‘aumento das ameaças’ ao anunciar novo serviço militar voluntário para jovens a partir de 2026

 

Fonte:


O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira a criação de um novo serviço militar voluntário de dez meses voltado principalmente para jovens de 18 e 19 anos. A medida, que começará em 2026, foi apresentada em um momento de aumento das tensões na Europa — uma crescente desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022.

Entrevista: ‘Europa precisa armar-se para ter capacidade de dissuasão’, diz executiva de gigante francesa do setor de Defesa

‘Se país vacilar, estaremos em risco’: França pede para cidadãos ‘aceitarem perda’ de filhos por conflitos na Europa

Segundo o Palácio do Eliseu, os voluntários receberão cerca de 800 euros por mês (aproximadamente R$ 4.970, na cotação atual). Em declaração durante visita a uma brigada de infantaria em Varces, no sudeste do país, o líder francês sustentou que o programa responde ao desejo de engajamento de parte da juventude francesa que, afirmou, tem “sede de compromisso”.

A França extinguiu o serviço militar obrigatório em 1997, durante o governo do então presidente Jacques Chirac. Nas últimas décadas, diversos países europeus adotaram a mesma postura, em meio ao contexto pós-Guerra Fria. O cenário, no entanto, começou a mudar após 2022, com o início da guerra na Ucrânia, e hoje 12 nações do continente mantêm algum tipo de alistamento compulsório, enquanto outras retomaram modelos voluntários.

Macron afirmou que a “aceleração das crises” e o “aumento das ameaças” justificam a criação de um serviço nacional exclusivamente militar. O anúncio ocorre dias após a declaração polêmica do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Fabien Mandon, que pediu aos franceses que “aceitassem perder seus filhos” em caso de conflito na Europa.

Cooperação estratégica: Europa planeja ‘muro antidrone’ para se proteger contra Rússia

Sem citar a fala de Mandon, o presidente garantiu que os voluntários servirão apenas em território nacional e reiterou que não se trata de enviar jovens para lutar na Ucrânia.

Estratégia de dissuasão

A França, potência nuclear, possui hoje cerca de 200 mil militares ativos e 47 mil reservistas — números que o governo pretende elevar para 210 mil e 80 mil, respectivamente, até 2030. A Revue Nationale Stratégique 2025, diretriz de planejamento militar do país, recomendou a criação de um serviço voluntário para ampliar a reserva e fortalecer a coesão nacional.

O novo programa sucede o Serviço Nacional Universal (SNU), lançado em 2019 para jovens entre 15 e 17 anos, mas que não alcançou grande adesão. O contexto internacional, porém, mudou: países europeus vêm reforçando treinamentos militares e ampliando gastos em defesa para tentar dissuadir Moscou.

Relembre: Vice-presidente e chefe do Pentágono ironizam Defesa da Europa em mensagens enviadas por engano para jornalista

Entre 2024 e 2030, a França prevê destinar 413 bilhões de euros (R$ 2,56 trilhões) às Forças Armadas. Apesar da pressão para reduzir as despesas públicas, pesquisas de opinião mostram amplo apoio popular à reintrodução de um serviço militar. Levantamento da Ipsos realizado em março apontou que 33% dos entrevistados defendem o modelo voluntário.

A primeira turma do serviço anunciado por Macron deverá reunir 3 mil participantes em 2026, número que deve subir para 42,5 mil em 2035. O total pode chegar a 50 mil ao incluir outros programas de inserção já existentes. O público-alvo serão jovens voluntários de 18 e 19 anos (80% das vagas), além de candidatos de até 25 anos com formação especializada — como engenheiros, analistas de dados e enfermeiros.

Os participantes integrarão a reserva operacional e deverão permanecer disponíveis por cinco dias ao ano, durante cinco anos. Continuará existindo a possibilidade de ingressar no Exército como militar profissional.