IBGE: pesquisa revela que entregadores ganham menos do que a média da população
Entre 2022 e 2024, mais de 40 mil pessoas começaram a trabalhar como entregadores no Brasil. No entanto, esses trabalhadores tendem a ter longas jornadas de trabalho e recebem, em média, menos do que o restante da população ocupada. É o que mostram os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, divulgados nesta sexta-feira (dia 17).
Das 485 mil pessoas que utilizaram aplicativos de entrega para trabalhar em 2024, 274 mil (56,5%) eram entregadores e 211 mil tinham outras ocupações, como donos de restaurantes que usavam aplicativos para captar clientes e realizar vendas.
Esses trabalhadores, além de terem escolaridade menor que os demais, também são os que têm o menor rendimento, embora a carga horária semanal seja equivalente (46,4 horas para os entregadores e 46,5 horas para as outras ocupações).
Considerando todos os ocupados que utilizaram aplicativos de entrega, esse rendimento foi de R$ 3.322 em 2024. A média de renda dos entregadores foi de R$ 2.340, enquanto para outras ocupações plataformizadas era de R$ 4.615.
A renda dos entregadores de app ainda é menor do que o rendimento médio de todos os trabalhadores no país em 2024, que foi de R$ 2.878.
Por necessidade, não escolha
Anderson Trajano, de 32 anos, faz parte do grupo de entregadores desde 2020. Ele afirma que trabalha na plataforma por necessidade, não por escolha. Pai de três filhos, ele diz que a flexibilidade do aplicativo é essencial para conciliar a rotina profissional com os cuidados da família, mas o baixo rendimento o faz pensar em mudar de profissão. Anderson organiza o dia em dois turnos, nos horários de maior movimento: das 10h às 16h e das 18h à meia-noite. Mesmo com a jornada intensa, o retorno financeiro é limitado.
— Eu preciso tomar conta dos meus três filhos, estar atento se acontecer alguma coisa. Mas trabalho cerca de dez horas por dia para ganhar, no máximo, R$ 200, sem contar a gasolina e os gastos com manutenção da moto. Em algum momento vou mudar de profissão — relata.
O entregador Anderson Trajano
Nathan Martins/Agência O Globo
Motoristas
A pesquisa comparou dados de pessoas que trabalham como motoristas de aplicativo com aqueles que trabalham como motoristas que não usam plataformas. Em 2024, os trabalhadores que tinham o serviço de transporte particular como trabalho principal eram, ao todo, 1,9 milhão. Entre eles, o número dos que trabalhavam com aplicativos ainda era menor que os demais (43,8% contra 56,2%).
Embora o rendimento médio dos motoristas plataformizados (R$2.766) fosse maior que o dos motoristas não plataformizados (R$2.425), os primeiros trabalham em média 5 horas a mais que os demais (45,9 horas contra 40,9 horas).
Com isso, o rendimento por hora médio não apresentava tanta diferença entre os dois: os de aplicativo ganhavam R$ 13,9 por hora, enquanto os demais ganhavam R$ 13,7/hora. Por outro lado, o maior rendimento por hora ficou para os motoristas não plataformizados formais, que ganhavam R$ 14,7/hora.
Já com relação à contribuição para a previdência, de 56,2% dos motoristas não plataformizados contribuíam, enquanto entre os que usavam aplicativos apenas 25,7% era contribuinte. Além disso, os plataformizados também tinham um percentual bem maior de informalidade (83,6%) que os demais (54,8%).
Motociclistas
Já os motociclistas, onde estão incluídos boa parte dos entregadores, eram 1,1 milhão em 2024. Deste total, cerca de um terço realizava trabalho por meio de aplicativos, enquanto a maior parte (66,5%) ainda não era plataformizada. Ainda assim, o número dos condutores de moto por app está aumentando: eram um quarto em 2022.
Embora o rendimento habitual médio dos motociclistas que trabalham por aplicativo (R$2.119) tenha smdo maior que o dos não plataformizados (R$1.653), os primeiros tinham carga horária maior: 3,9 horas semanais a mais (45,2 contra 41,3, respectivamente).
Ainda assim, o rendimento-hora médio dos plataformizados (R$ 10,8/hora) ainda era maior que o daqueles que não utilizavam plataformas (R$ 9,2/hora). Já o núumero dos não plataformizados formais (R$ 10,6/hora) se aproximava dos plataformizados.
Embora os dois grupos tenham baixa participação na contribuição para previdência, o número dos condutores de moto por app era ainda menor (21,6% contra 36,3%). Entre os não plataformizados, a informalidade era grande (69,3%), mas menor que a dos que utilizam plataformas digitais (84,3%).
A pesquisa ainda não investigou aqueles que utilizam bicicletas para trabalhar.
