Homens armados invadem internato e sequestram estudantes em escola católica na Nigéria

 

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Um número ainda não confirmado de estudantes foi sequestrado da escola católica St. Mary, na Nigéria, nesta sexta-feira. Segundo autoridades locais, homens armados invadiram o internato por volta das 2h da manhã (6h em Brasília) e levaram alunos e funcionários. Este é o segundo caso do tipo no país em menos de uma semana — e ocorre em meio a tensões com Washington, após o presidente americano, Donald Trump, ameaçar uma intervenção militar ao acusar o governo nigeriano de permitir a perseguição a cristãos.

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Ainda que o governo da Nigéria rejeite as alegações de Trump — e dados mostrem que ataques com motivação religiosa são minoria no país —, a série de ofensivas registradas ao longo da semana reacendeu o alerta sobre a crise de segurança no território e ampliou a pressão sobre o governo do presidente Bola Tinubu. A emissora Arise News informou que 52 estudantes teriam sido raptados nesta sexta, embora o número ainda não tenha sido confirmado. O governo estadual afirmou que a direção da escola descumpriu a ordem de manter internatos fechados diante de alertas de inteligência sobre o risco de ataques.

Dias antes, na segunda-feira, um grupo armado invadiu um internato feminino predominantemente muçulmano e levou 25 alunas. Duas conseguiram escapar, mas 23 permanecem desaparecidas. Duas pessoas foram mortas na ação. Também na segunda-feira, 64 moradores, incluindo mulheres e crianças, foram sequestrados de suas casas no estado de Zamfara, que faz fronteira com Kebbi.

Já na terça, homens armados atacaram a igreja Christ Apostolic, no estado de Kwara, durante um culto transmitido online. Dois fiéis foram mortos, e 38 pessoas foram levadas. De acordo com representantes da igreja, os sequestradores pediram 100 milhões de nairas (cerca de R$ 372 mil) por vítima.

Histórico de instabilidade

A escalada recente se soma ao histórico de instabilidade no país mais populoso da África. No noroeste, quadrilhas atuam sem motivação ideológica clara, promovendo sequestros para resgate e abrigando-se em grandes áreas de floresta sem presença do Estado. No nordeste, insurgentes do Boko Haram e da facção ISWAP combatem o governo há mais de uma década, em um conflito que já deixou mais de 2 milhões de deslocados. Já no centro do país, confrontos envolvendo pastores (geralmente muçulmanos) e agricultores (em sua maioria cristãos) se intensificam, muitas vezes motivados por disputas por terra e recursos naturais.

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A sucessão de ataques reacendeu, porém, o debate sobre motivação religiosa. Embora Trump tenha acusado o governo nigeriano de permitir a perseguição a cristãos, especialistas e autoridades locais dizem que muçulmanos também são amplamente vítimas da violência. O governo afirma que alegações de perseguição religiosa distorcem a realidade e ignoram o caráter multifacetado das crises que afetam o país.

Diante da pressão interna e externa, Tinubu adiou viagens internacionais e enviou seu ministro de Estado da Defesa ao estado de Kebbi para acompanhar as operações de resgate. Dados da organização ACLED indicam que mais de 1,9 mil ataques contra civis ocorreram na Nigéria apenas este ano, resultando em mais de 3 mil mortes.

Forças de segurança continuam buscas nas áreas de floresta por onde se acredita que os grupos armados tenham fugido com as vítimas. As famílias, enquanto isso, aguardam notícias em meio à incerteza sobre o paradeiro dos sequestrados. (Com AFP)