Guerra Fria, código secreto e um corpo na praia: o mistério de 77 anos do 'Homem de Somerton' que virou lenda; relembre
Em 1º de dezembro de 1948, a praia de Somerton, perto de Adelaide, na Austrália, tornou-se palco de um dos maiores mistérios da história criminal australiana. Um homem de terno foi encontrado morto por um casal que passeava pelo local. Impecavelmente vestido, sem documentos ou cicatrizes, o corpo exibia sinais de uma vida cuidadosamente organizada, mas nada indicava sua identidade — até que um pequeno papel com a inscrição persa “tamam shud” despertou suspeitas de espionagem.
O corpo estava cuidadosamente posicionado, com objetos aparentemente comuns, como fósforos e passagens de transporte, mas também o fragmento de um livro de poemas persas, o Rubaiyat de Omar Khayyam. A ausência de etiquetas nas roupas e a meticulosidade dos pertences sugeriam que alguém havia apagado todos os vestígios de sua origem. A autópsia não identificou toxinas ou sinais claros de violência, aumentando o mistério.
Nos dias seguintes, a imprensa local espalhou teorias e nomes sem sucesso. A Guerra Fria dava contexto às suspeitas de espionagem, e a descoberta de um possível código no livro reforçou a ideia de uma vida secreta. Uma mala encontrada em janeiro de 1949, contendo roupas e ferramentas combinando com o vestuário do homem, aumentou a complexidade do caso.
O mistério atravessou décadas. Investigações internacionais, incluindo Interpol e FBI, não conseguiram identificar o homem. Moldes de gesso de seu rosto foram preservados, e cientistas tentaram decifrar códigos e rastrear relações pessoais, sem sucesso. A proximidade com a enfermeira Jessica Thompson acrescentou uma nova camada de intriga, mas sem respostas definitivas.
Somente nos últimos anos, em 2022, pesquisas genéticas lideradas pelo professor Derek Abbott e pela especialista Colleen Fitzpatrick reconstruíram a árvore genealógica do homem a partir de cabelos preservados. O resultado apontou para Carl “Charles” Webb, nascido em 1905, engenheiro elétrico de Melbourne, com histórico de perdas familiares, divórcio e tendências suicidas.
Apesar da identificação, a causa da morte permanece desconhecida, assim como o significado do código encontrado no livro. Setenta e sete anos depois, a história do “Homem de Somerton” continua a fascinar pela combinação de intriga, tragédia pessoal e elementos de espionagem, consolidando-se como um dos mistérios mais duradouros da história criminal internacional.
