Governo Trump suspende imigração de afegãos após ataque contra agentes; suspeito chegou aos EUA como refugiado

 

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O governo Donald Trump anunciou a suspensão imediata do processamento de todos os pedidos de imigração relacionados a cidadãos do Afeganistão. A decisão foi tomada ainda na noite de quarta-feira, horas depois de um afegão de 29 anos ser detido em Washington, acusado de atirar contra dois membros da Guarda Nacional perto da Casa Branca. Os militares, da Virgínia Ocidental, permanecem em estado crítico.

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Segundo o Departamento de Segurança Interna, o suspeito entrou nos Estados Unidos em setembro de 2021 por meio da Operation Allies Welcome, programa criado pelo governo Joe Biden (2021-2025) após a retomada do poder pelo Talibã, em agosto daquele ano. A iniciativa permitiu a entrada de afegãos considerados vulneráveis com autorizações temporárias de dois anos, sem oferecer status migratório permanente. Em vez disso, esperava-se que os beneficiários buscassem outras vias para permanecer no país, como o pedido de asilo.

— O programa de SIV era um dos poucos caminhos restante” para afegãos em busca de uma forma de sair do país — explicou Mevlude Akay Alp, advogada sênior do International Refugee Assistance Project, organização sem fins lucrativos sediada em Nova York. — E não é certo sequer se ele continuará.

Em comunicado divulgado nas redes sociais, o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS, na sigla original em inglês) afirmou que a interrupção dos processos ficará em vigor por tempo indeterminado, enquanto são revisados os protocolos de segurança e verificação. O órgão destacou que “a proteção e a segurança de nossa pátria e do povo americano continuam sendo” seu “único foco e missão”.

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Mais cedo, Trump havia afirmado que o país “precisa reexaminar cada estrangeiro que entrou vindo do Afeganistão”. A suspensão afeta afegãos que tentam permanecer nos EUA buscando asilo, green cards ou outros benefícios migratórios, além daqueles que colaboraram com tropas americanas durante a guerra de 20 anos no país e solicitaram realocação por meio do programa de Visto de Imigrante Especial (SIV).

Cerca de 77 mil afegãos entraram nos EUA pela Operation Allies Welcome, segundo estimativa do Serviço de Pesquisa do Congresso. Muitos ainda aguardam aprovação de pedidos de reassentamento em terceiros países ou permanecem escondidos no Afeganistão. O programa enfrentou questionamentos de parlamentares republicanos, que alegaram falhas na checagem de antecedentes, e uma auditoria do inspetor-geral do Departamento de Segurança Interna identificou imprecisões nos dados de alguns participantes.

“É inconcebível que procedimentos adequados de verificação tenham sido seguidos durante o caos e a desordem da evacuação americana no Afeganistão, e ainda restam dúvidas sobre a natureza das pessoas inscritas em programas de reassentamento doméstico”, afirmou o deputado James Comer, republicano de Kentucky, em um comunicado de 2023 no qual exigiu mais informações das agências federais sobre os esforços de reassentamento de afegãos.

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O anúncio desta semana ocorre em um momento de queda significativa no reassentamento de afegãos desde o início do segundo mandato de Trump. Em 2024, cerca de 3,1 mil refugiados afegãos eram reassentados no país a cada mês, número que caiu em quase dois terços entre janeiro e maio deste ano. Em julho, o governo também retirou proteções humanitárias anteriormente concedidas a afegãos já instalados nos EUA.

Enquanto isso, o Afeganistão enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais da metade de sua população — estimada em 42 milhões de pessoas — dependendo de assistência. O país também vive tensões crescentes com o Paquistão, que realizou ataques aéreos contra cidades afegãs e regiões de fronteira nas últimas semanas.

Entenda o caso

Dois integrantes da Guarda Nacional que faziam patrulha a poucos quarteirões da Casa Branca foram baleados e ficaram gravemente feridos na tarde de terça-feira. O atirador, identificado como Rahmanullah Lakanwal, foi detido depois que outro membro da patrulha revirou os disparos — e também ficou ferido. Ele vivia em Bellingham, no estado de Washington, perto da fronteira com o Canadá.

Segundo fontes familiarizadas com a investigação, o afegão de 29 anos esperou a patrulha entrar em seu campo de visão e começou a disparar. Ele atingiu primeiro uma mulher, depois tomou sua arma de serviço e atirou contra o outro soldado. O militar foi atingido no pescoço antes que outro integrante da unidade respondesse ao agressor.

— Este ataque hediondo foi um ato de maldade, um ato de ódio e um ato de terror. Foi um crime contra toda a nossa nação — disse Trump em um vídeo divulgado pela Casa Branca na noite de quarta-feira. — Precisamos agora reexaminar cada estrangeiro que entrou em nosso país vindo do Afeganistão sob o governo Biden, e devemos tomar todas as medidas necessárias para garantir a remoção de qualquer estrangeiro de qualquer país que não pertença aqui ou não traga benefício ao nosso país.

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O Migration Policy Institute, um think tank apartidário, estimou em 2022 que havia quase 200 mil imigrantes afegãos nos EUA, com as maiores concentrações nas áreas de Washington, D.C., e Sacramento, na Califórnia.

Tropas federais

A prefeita de Washington, Muriel Bowser, classificou o ataque como um “tiroteio direcionado”. Embora autoridades tenham destacado que a investigação estava apenas começando e que os motivos do suspeito — que estava sendo tratado em um hospital local — permaneciam desconhecidos, a violência deve reacender o debate sobre o envio de tropas federais por Trump a cidades do país.

O presidente mobilizou mais de 2 mil membros da Guarda Nacional nas ruas de Washington em agosto, afirmando que eram necessários para apoiar as forças de segurança federais e do Distrito de Columbia. Mas a medida foi impopular entre moradores da cidade, e um juiz federal decidiu recentemente que o envio provavelmente era ilegal — embora os militares não fossem obrigados a deixar o Distrito imediatamente, para permitir tempo de apelação.

O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, classificou o ataque como um “ato covarde e vil” contra os militares. Ele disse que Trump o orientou a enviar tropas adicionais a Washington e que faria isso rapidamente. (Com Bloomberg e New York Times)