Governo Lula vê ‘sinais contraditórios’ dos EUA na crise com a Venezuela
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que há “sinais contraditórios” da Casa Branca em relação à crise entre Estados Unidos e Venezuela. Segundo auxiliares de Lula, enquanto Washington mantém os ataques e o tom de ameaça ao regime venezuelano, circulam rumores de que representantes de Nicolás Maduro e de Donald Trump vêm mantendo contatos, incluindo a possibilidade de uma conversa telefônica entre os dois mandatários.
Segundo o jornal americano "New York Times", Trump falou por telefone semana passada com Nicolás Maduro e discutiu a possibilidade de uma reunião entre os dois. A ligação teria contado com a participação do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
Os Estados Unidos têm reforçado sua presença militar no Caribe com foco na Venezuela. Autoridades da administração afirmam que o objetivo é conter o tráfico de drogas, mas também têm deixado claro que desejam ver Maduro fora do poder, possivelmente pela força.
Em Brasília, interlocutores com conhecimento do assunto afirmam que o cenário atual é de “suspense e incerteza”. A frota militar americana permanece no Caribe há bastante tempo e recebe reforços quase diários, entre eles a autorização da República Dominicana para operações de abastecimento e a chegada de novos bombardeiros.
Além disso, empresas aéreas, inclusive brasileiras, cancelaram voos para a Venezuela após serem alertadas pela Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) sobre os riscos de sobrevoar o espaço aéreo do país sul-americano — movimentos que sugerem uma escalada.
Os sinais de que a Venezuela pode ser atacada pelos EUA, sob a justificativa do governo Trump de que é preciso combater o que define como narcoterrorismo, preocupam o governo brasileiro. O tema já foi discutido entre autoridades brasileiras e americanas e deverá voltar à pauta no próximo contato telefônico entre Lula e Trump.
Após participar, no domingo passado, da cúpula do G20 — grupo que reúne as maiores economias do mundo — na África do Sul, Lula afirmou estar “muito preocupado” com a presença militar dos EUA no mar do Caribe, próximo à Venezuela. Disse também que pretende discutir o assunto com seu homólogo americano.
Na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que adotará “muito em breve” novas medidas para deter, em território terrestre, suspeitos de envolvimento no tráfico de drogas venezuelano.
— Vocês provavelmente notaram que as pessoas não estão querendo fazer entregas por mar, e nós começaremos a detê-las por terra também. A terra é mais fácil, mas isso começará muito em breve — disse Trump, em comunicação virtual com membros das Forças Armadas americanas.
O governo Trump avalia alternativas para lidar com a Venezuela no contexto do que considera o papel do presidente Nicolás Maduro no fornecimento de drogas ilegais que matam norte-americanos. Maduro nega qualquer vínculo com o narcotráfico.
Até agora, a atuação dos EUA na região tem se concentrado em operações antidrogas, embora o aparato militar mobilizado seja muito superior ao necessário para esse tipo de ação. Desde setembro, tropas norte-americanas realizaram ao menos 21 ataques contra embarcações suspeitas no Caribe e no Pacífico, resultando na morte de pelo menos 83 pessoas.
Nas últimas semanas, multiplicaram-se relatos sobre eventuais novas iniciativas. Em meio ao agravamento das tensões com a Venezuela, os EUA têm deslocado forças adicionais para o Caribe.
