Eyal Zamir, chefe do Estado-Maior de Israel, pede 'investigação sistêmica' sobre o 7 de outubro

 

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O chefe do Estado-Maior israelense pediu nesta segunda-feira uma "investigação sistêmica" sobre o ataque terrorista do Hamas 7 de outubro de 2023 — que justificou a contraofensiva do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com o início do conflito na Faixa de Gaza. A fala se deu enquanto o governo rejeita a criação de uma comissão nacional de inquérito que permitiria determinar as responsabilidades pelo fracasso das autoridades em prevenir o ataque mais sangrento já ocorrido no Estado judaico.

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O tenente-general Eyal Zamir fez esse pedido após a publicação do relatório de um comitê de especialistas sob seu comando, que concluiu as investigações internas do exército sobre as falhas que levaram à tragédia de 7 de outubro de 2023.

"[Esse documento] marca uma etapa importante rumo à compreensão global de que necessitamos como sociedade e organização", declarou o general Zamir, segundo um comunicado divulgado pelo exército. "No entanto, para garantir que esses fracassos nunca se repitam (…), uma investigação sistêmica ampla e completa é agora necessária", acrescentou.

O governo israelense se opõe a essa investigação.

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Questionado pela oposição sobre o tema, Netanyahu reiterou nesta segunda-feira, diante dos deputados, que é contra a instalação desse tipo de comissão nacional de inquérito, que seria, segundo ele, um "instrumento político" nas mãos de seus adversários.

O premier sugeriu a criação de uma comissão de investigação "com um amplo consenso nacional", baseada no modelo do que foi feito nos Estados Unidos após o 11 de Setembro, proposta que foi rejeitada pela oposição.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 causou a morte de 1.221 pessoas no lado israelense, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais. Depois disso, mais de 69.179 palestinos morreram em Gaza durante a campanha militar israelense de represália, também em sua maioria civis.

Zamir se opôs à ocupação total de Gaza

Quando foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, em fevereiro, Eyal Zamir era a escolha preferida do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Assumiu o comando num momento delicado, após a renúncia do antigo general Herzl Halevi, que reconheceu em janeiro as falhas de seu comando no ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023. Na época, membros da coalizão governista esperavam que ele se alinhasse mais com a abordagem deles do que seu antecessor. Em agosto, porém, ele foi criticado por alguns membros ou apoiadores do governo por sua postura contra a ocupação militar de Gaza.

Zamir expressou sérias preocupações com a ideia. Segundo a mídia israelense, Zamir esperava que o Exército fosse instruído a se posicionar em torno dos principais centros populacionais nas áreas ainda não totalmente controladas, realizando incursões pontuais para reduzir a liberdade de ação do grupo terrorista Hamas e viabilizar um novo acordo — que ocorreria nos meses seguintes.

Perfil

A carreira de Zamir começou após se alistar em 1984, comandando tanques de guerra enquanto Israel promovia a ocupação do sul do Líbano. Passou para o comando de uma unidade de treinamento e doutrina militar em seguida, contribuindo para a formação do pensamento estratégico de Israel. Depois, chefiou a 7ª Brigada do exército em 2003 e a 36ª Divisão em 2009.

Nos anos seguintes, Zamir foi secretário militar de Netanyahu de 2012 a 2015. Depois, foi chefe do Comando Sul de 2015 a 2018, estando à frente das respostas aos protestos semanais de milhares de moradores de Gaza na época. Estima-se que mais de 150 pessoas foram mortas nas manifestações mais de 10 mil foram feridas, incluindo 1.849 crianças.

— Não fazemos distinção entre os líderes israelenses. Zamir é como todos os outros. Um criminoso de guerra — relatou à Reuters um morador de Gaza ferido nos protestos em 2018.

Em novembro daquele ano, Netanyahu o promoveu a vice-chefe de Gabinete.

Quando deixou o cargo em 2021, foi para os Estados Unidos, onde foi pesquisador visitante no think tank do Instituto Washington para Política do Oriente Médio. Retornou a Israel em dois anos depois, sendo nomeado diretor-geral do Ministério da Defesa.

Seu perfil rígido foi amplamente elogiado pelo próprio premier, que já o tinha como favorito para ocupar o cargo que ocupa hoje. Quando foi nomeado, Netanyahu voltou a tecer elogios, dizendo que "mesmo quando ele serviu como meu secretário militar, fiquei impressionado com o comprometimento de Eyal Zamir com o país", seu comprometimento com o exército, bem como "o fato de sua abordagem ser voltada para o ataque".

Com agências internacionais.