EUA retiram presidente da SĂria de lista de promotores do terrorismo antes de encontro com Trump
Os Estados Unidos retiraram formalmente o presidente da SĂria, Ahmed al-Sharaa, de uma lista de promotores do terrorismo, dias antes do ex-lĂder jihadista realizar uma visita histĂłrica a Washington. A medida, anunciada pelo Departamento de Estado americano na sexta-feira, era amplamente esperada, apĂłs o governo americano liderar uma votação no Conselho de Segurança da ONU para eliminar as sanções internacionais contra o presidente — e representa uma reviravolta na histĂłria pessoal de quem já foi um alvo americano.
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Anteriormente vinculado Ă Al Qaeda, Sharaa era considerado um "terrorista global especialmente designado" por Washington, que chegou a oferecer uma recompensa por sua captura. Há apenas um ano, ele era lĂder do grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que derrubou a ditadura de Bashar al-Assad em dezembro do ano passado, e em sua juventude chegou a ser preso pelos EUA no Iraque. Agora, está prestes a ser recebido por Trump na Casa Branca na segunda-feira — algo que nem Bashar nem seu pai, Hafez, conseguiram em 50 anos.
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— [A aproximação com Sharaa abre] um novo capĂtulo na polĂtica americana no Oriente MĂ©dio — disse o analista Nick Heras, do New Lines Institute for Strategy and Policy. — Trump traz Sharaa Ă Casa Branca para dizer que ele nĂŁo Ă© mais um terrorista, mas um lĂder pragmático e, acima de tudo, flexĂvel, que sob a tutela americana e saudita fará da SĂria um pilar estratĂ©gico regional.
Washington considera que o governo de Sharaa está cumprindo com as demandas de EUA, incluindo trabalhar para encontrar os americanos desaparecidos e eliminar qualquer arma quĂmica restante. Desde que assumiu o poder, Shaara tem recebido ministros, lĂderes e empresários ocidentais, e estreitou laços com os paĂses da regiĂŁo, incluindo as ricas monarquias do Golfo — que promoveram um encontro entre ele e Trump na Arábia Saudita, em maio. Na oportunidade, o presidente americano chamou o lĂder sĂrio de "um cara durĂŁo".
"Essas ações estĂŁo sendo realizadas em reconhecimento ao progresso demonstrado pela liderança sĂria apĂłs a saĂda de Bashar al-Assad e mais de 50 anos de repressĂŁo", disse o porta-voz do Departamento de Estado Tommy Pigott, em comunicado.
O presidente interino da SĂria, Ahmed al-Sharaa, com Donald Trump
Bandar AL-JALOUD / Palácio Real Saudita/ AFP
CoalizĂŁo internacional
Durante a visita, espera-se que Damasco assine um acordo para se juntar Ă coalizĂŁo internacional antijihadista liderada pelos EUA, antecipou o enviado americano para a SĂria, Tom Barrack. Como parte dela, Washington tem tropas há anos no nordeste do paĂs, sob hegemonia curda. Washington tambĂ©m planeja estabelecer uma base militar perto de Damasco, que será fundamental na triangulação da arquitetura de segurança com Israel — que inicialmente se opĂ´s Ă aproximação e bombardeou intensamente a SĂria.
A RĂşssia, que abrigou Assad e sua famĂlia apĂłs a queda da ditadura, possui duas bases militares na SĂria: a base naval de Tartus e a base aĂ©rea de Hmeimim, na costa mediterrânea.
No campo econômico, Damasco tenta encontrar fundos para sua reconstrução — tarefa que pode superar amplamente os 200 bilhões de dólares (mais de R$ 1 trilhão, na cotação atual), segundo o Banco Mundial.
Votação na ONU
A votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas aconteceu na quinta-feira, sob pressĂŁo americana. Quatorze paĂses votaram a favor da resolução que retirava as sanções de Sharaa e do ministro do Interior sĂrio, Anas Hasan Khatta. A China se absteve.
As sanções relacionadas aos dois lĂderes polĂticos sĂrios tinham a ver com envolvimento ao terrorismo, devido a elos antigos com Al-Qaeda e Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
— Com a adoção deste texto, o Conselho está enviando um forte sinal polĂtico que reconhece que a SĂria está numa nova era — afirmou o embaixador dos EUA na ONU, Mike Waltz.
A SĂria saudou a decisĂŁo, que, segundo o MinistĂ©rio das Relações Exteriores, reflete a crescente confiança na liderança de Al-Sharaa. (Com AFP e Bloomberg)
