
EUA não veem descumprimento do Hamas sobre acordo em Gaza por demora na devolução de reféns mortos

Assessores do governo dos Estados Unidos minimizaram o risco de uma retomada da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza neste momento, e disseram não ver descumprimento por parte do grupo palestino pela demora na devolução dos restos mortais dos reféns ainda no enclave. Por meio da imprensa internacional, as fontes americanas admitiram que o processo de recuperação de corpos pode demorar semanas — um posicionamento sobre o primeiro grande impasse do acordo, enquanto Israel ameaça descumprir os termos se a devolução não for acelerada, e o Hamas afirma ter entregue todos os restos mortais que teve acesso.
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— Ouvimos muitas pessoas dizendo que o Hamas violou o acordo, porque nem todos os corpos foram devolvidos. Acho que o acordo que tínhamos com eles era que tirássemos todos os reféns vivos, o que eles honraram — disse um assessor americano ouvido pela CNN, sob condição de anonimato. — Neste momento, temos um mecanismo em vigor no qual estamos trabalhando em estreita colaboração com os mediadores e com eles para fazer o nosso melhor para retirar o máximo de corpos possível.
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O acordo aceito por Israel e Hamas após negociações no Egito previa que o grupo palestino libertaria todos os reféns capturados durante o atentado terrorista de 7 de outubro de 2023, vivos e mortos. Os termos definiam um prazo de 72 horas para a devolução, mas ainda durante as negociações, o Hamas disse não estar em posse de todos os corpos dos falecidos, em razão da destruição extensa em Gaza após dois anos de guerra. Organizações internacionais como a Cruz Vermelha chegaram a avaliar que seria possível que alguns dos corpos nunca fossem de fato encontrados.
Em uma nota publicada na quarta-feira, após a entrega de mais dois corpos a Israel — totalizando nove —, as brigadas Ezzedine al-Qassam afirmaram que "todos os prisioneiros israelenses vivos sob sua custódia, bem como os cadáveres aos quais teve acesso" foram devolvidos. O grupo também pontuou que "quanto aos cadáveres restantes, são necessários esforços extensivos e equipamentos especiais para sua recuperação e extração".
As fontes americanas afirmaram que uma equipe internacional, com especialistas em recuperação de restos mortais, incluindo da Turquia, estão planejando uma entrada em Gaza para ajudar com a busca, e outros mediadores acreditam que as dificuldades alegadas pelo Hamas são reais. O Ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, afirmou que a recuperação de todos os restos mortais será um desafio que levará tempo devido às condições precárias no enclave palestino, em entrevista a Christiane Amanpour, da CNN.
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— Recolher os restos mortais levará algum tempo porque eles estão sob os escombros e há muitos materiais explosivos e dispositivos sob os escombros. Portanto, chegar até eles será um pouco difícil. Mas estamos fazendo o nosso melhor — disse o representante da diplomacia do Cairo. — [O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi] falou abertamente que existem alguns impedimentos em terra e que precisamos fazer esforços extras para encontrar, descobrir e recolher os restos mortais.
Apesar do entendimento internacional, em Israel, a não entrega de todos os corpos foi uma decepção para as famílias que esperam um desfecho, com o sepultamento de seus entes queridos. Uma das organizações que advogam pela causa dos reféns afirmou que o governo israelense não deveria cumprir os termos do acordo até que todos fossem entregues. As autoridades já estão atrasando a reabertura da passagem de fronteira de Rafah, entre Gaza e o Egito, por onde deveria entrar grande parte do carregamento de ajuda humanitária prometida.
Em um evento oficial para marcar o segundo aniversário do ataque de 7 de outubro de 2023, no cemitério do Monte Herzl, em Jerusalém, o primeiro-ministro israelense afirmou que ainda está "determinado a conseguir o retorno de todos os reféns". Ele também fez referência a uma volta dos combates.
— O combate ainda não terminou, mas há uma coisa muito clara: quem levantar a mão contra nós sabe que pagará um preço elevado — declarou Netanyahu.
Fontes israelenses acreditam que o Hamas está tentando ganhar tempo, e retardam intencionalmente a entrega, apesar de saberem onde estão localizados alguns dos reféns ainda não devolvidos. Uma avaliação israelense aponta que o grupo teria acesso a outros cinco ou seis corpos. Ao todo, Israel espera recuperar entre 26 e 28 corpos. (Com AFP)