Estratégia de Segurança Nacional dos EUA 2025: O que diz o documento sobre cada região do mundo

 

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A Casa Branca publicou nesta sexta-feira a nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, principal documento a detalhar a abordagem estratégica americana para diferentes partes do mundo, definindo prioridades, objetivos específicos e formas de engajamento com atores internacionais, simpáticos ou não a Washington.

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Antes de entrar em definições específicas para cada região, o documento estabelece princípios gerais de políticas externa, de defesa e de inteligência que guiarão o governo do presidente Donald Trump. O texto menciona o reconhecimento da "Paz através da força" — citando a necessidade do país manter a dianteira nos campos econômico, militar e inovação, para ter capacidade de fazer valer interesses —, a "Primazia das Nações" — rejeitando a intervenção de organismos internacionais —, e a "Predisposição à Não-Intervenção" — apontando-a como não absoluta. Aspectos dos princípios podem ser notados no trecho sobre cada canto do mundo.

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Veja o que diz a nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA por região:

Hemisfério Ocidental

A Casa Branca confirmou que a abordagem estabelecida pelo governo Trump é uma derivação da Doutrina Monroe, classificando o reforço da presença americana e a contraposição à influência de atores de fora da região no Hemisfério como "consistente com os interesses de segurança dos EUA".

"Após anos de negligência, os EUA reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental e proteger nossa pátria e nosso acesso a regiões-chave em toda a região. Negaremos a concorrentes de fora do Hemisfério a capacidade de posicionar forças ou outras capacidades ameaçadoras, ou de possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais, em nosso Hemisfério", diz um trecho do documento, que apresenta um diagnóstico sobre a região, que inclui a América Latina.

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Reprodução

Quais são os principais pontos sobre o Hemisfério Ocidental?

Recrutar aliados para controlar a migração, deter o tráfico de drogas e fortalecer a estabilidade e a segurança em terra e no mar

Recompensar e incentivar os governos, partidos políticos e movimentos da região amplamente alinhados aos princípios e estratégias

Não negligenciar governos com perspectivas diferentes, com os quais compartilhe interesses e desejem trabalhar junto aos EUA

Reconsiderar a presença militar no Hemisfério Ocidental; Reajustar a presença militar global para lidar com ameaças urgentes no Hemisfério

Priorizar a diplomacia comercial para fortalecer a própria economia e indústrias, utilizando tarifas e acordos comerciais recíprocos como ferramentas poderosas

Fortalecer parcerias de segurança, desde a venda de armas até o compartilhamento de informações e exercícios conjuntos

Expandir novas parcerias, ao mesmo tempo em que reforça a imagem da nação como parceiro econômico e de segurança preferencial; desencorajar — por diversos meios — a colaboração com outros

Ásia-Pacífico

A parte do documento destinada à região da Ásia-Pacífico tem como foco principal a disputa com a China. Washington descreve o crescimento chinês nas últimas décadas como um processo contrário aos interesses americanos, estabelecendo formas de reverter a influência chinesa e manter algum equilíbrio com Pequim.

"O Indo-Pacífico já é e continuará sendo um dos principais campos de batalha econômicos e geopolíticos do próximo século. Para prosperar em casa, precisamos competir com sucesso lá", aponta o texto. "O presidente Trump está construindo alianças e fortalecendo parceriasque serão a base da segurança e prosperidade por muito tempo no futuro".

Navio da Marinha da China dispara durante o exercício naval multinacional AMAN-25 no Mar Arábico, perto da cidade portuária de Karachi, no Paquistão, em 10 de fevereiro de 2025

Asif Hassan/AFP

Quais são os principais pontos sobre a Ásia-Pacífico?

Reequilibrar a relação econômica dos EUA com a China, priorizando a reciprocidade. Comércio com a China deve ser equilibrado e focado em fatores não sensíveis

Incentivar Europa, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Canadá, México e "outras nações importantes" a adotarem políticas comerciais que ajudem a reequilibrar a economia da China

Foco robusto e contínuo na dissuasão para prevenir a guerra no Indo-Pacífico

Acabar com práticas prejudiciais, como subsídios predatórios direcionados pelo Estado e estratégias industriais, práticas comerciais desleais e roubo em larga escala de propriedade intelectual e espionagem industrial

Trabalhar com aliados e parceiros de tratados para combater práticas econômicas predatórias e usar poder econômico combinado para ajudar a salvaguardar posição privilegiada na economia mundial

Continuar a aprimorar as relações comerciais (e outras) com a Índia para incentivar Nova Déli a contribuir para a segurança do Indo-Pacífico, inclusive por meio da cooperação quadrilateral contínua com a Austrália, o Japão e os EUA;

Impedir um conflito en Taiwan, idealmente preservando a superioridade militar, é uma prioridade

Manter política declaratória de longa data sobre Taiwan, o que significa que os EUA não apoiam nenhuma mudança unilateral no status quo no Estreito de Taiwan

Construir uma força militar capaz de impedir agressões em qualquer lugar da Primeira Cadeia de Ilhas; Pressionar aliados e parceiros a permitirem maior acesso das forças armadas dos EUA a seus portos e outras instalações, a investirem mais em sua própria defesa e, principalmente, a investirem em capacidades destinadas a impedir agressões.

Europa

O documento trata a Europa — onde estão localizados os principais aliados históricos dos EUA — com certa preocupação. O cenário apresentado por Washington é de um continente decadente em termos de relevância global, seguindo em direção ao que chamou de "apagamento civilizacional". O governo Trump aponta a organização política europeia centrada na União Europeia, e a instabilidade política de alguns países como culpadas pelo suposto declínio.

"Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível em 20 anos ou menos", diz o documento americano. "Queremos que a Europa continue sendo europeia, que recupere sua autoconfiança civilizacional e abandone seu foco fracassado na sufocante".

Líderes da Otan reunidos em Haia, na Holanda, para reunião de cúpula

Ludovic MARIN / POOL / AFP

Quais são os principais pontos sobre a Europa?

[Garantir que] a Europa permaneça europeia, recupere sua autoconfiança civilizacional e abandone seu foco fracassado na sufocação regulatória

Engajamento diplomático, tanto para restabelecer as condições de estabilidade estratégica em toda a Eurásia, quanto para mitigar o risco de conflito entre a Rússia e os Estados europeus

Negociar fim rápida das hostilidades na Ucrânia; Evitar a escalada ou expansão não-intencional da guerra e restabelecer a estabilidade estratégica com a Rússia; Permitir a reconstrução da Ucrânia pós-conflito

Governos minoritários instáveis em países europeus atropelam princípios básicos da democracia para suprimir a oposição.

A Europa permanece estratégica e culturalmente vital para os EUA; Comércio transatlântico continua sendo um dos pilares da economia global e da prosperidade americana.

Defender a democracia genuína, a liberdade de expressão e a celebração sem reservas do caráter e da história individuais das nações europeias.

Incentivar seus aliados políticos na Europa a promoverem esse renascimento de espírito, e a crescente influência de partidos patrióticos europeus, de fato, é motivo de grande otimismo.

Ajudar a Europa a corrigir trajetória atual; Trabalhar com países aliados que desejam restaurar sua antiga grandeza; Cultivar a resistência à trajetória atual da Europa dentro das nações europeias.

Restabelecer as condições de estabilidade dentro da Europa e a estabilidade estratégica com a Rússia

Acabar com a percepção da Otan como uma aliança em constante expansão

Oriente Médio

Os EUA reconhecem que a região foi o principal foco de atenção estratégica do país nas últimas décadas, fazendo a ressalva de que esse cenário mudou com o recuo da disputa entre superpotências por influência na região, com Washington ainda em uma posição de vantagem, e uma diminuição da dependência do combustível dos países árabes. Do ponto de vista geopolítico, afirma que o conflito palestino-israelense e a ameaça do Irã ainda são uma dinâmica problemática, porém "menos complexo do que as manchetes podem levar a crer".

"Os dias em que o Oriente Médio dominava a política externa americana, tanto no planejamento de longo prazo quanto na execução cotidiana, felizmente acabaram".

Trump se reúne com presidentes de outros países no Egito pra discutir paz no Oriente Médio

Yoan VALAT / POOL / AFP/13/10/2025

Quais são os principais pontos sobre o Oriente Médio?

O conflito israelense-palestino continua espinhoso, mas graças ao cessar-fogo e à libertação dos reféns negociados por Trump, houve progresso rumo a uma paz mais permanente.

A Síria continua sendo um problema em potencial, mas com o apoio americano, árabe, israelense e turco pode se estabilizar e reassumir o seu devido lugar como um ator positivo na região.

A região se tornará cada vez mais uma fonte e um destino de investimentos internacionais, em setores que vão muito além do petróleo e do gás, incluindo energia nuclear, inteligência artificial e tecnologias de defesa.

Os parceiros do Oriente Médio demonstram compromisso em combater o radicalismo, uma tendência que a política americana deve continuar a incentivar.

EUA devem abandonar experimento equivocado de coagir essas nações — especialmente as monarquias do Golfo — a abandonar suas tradições e formas históricas de governo; Incentivar e aplaudir reformas quando e onde surgirem organicamente, sem tentar impô-la de fora.

Expandir os Acordos de Abraão para mais nações da região e para outros países do mundo muçulmano.

África

O continente africano é o que tem menor espaço na política estratégica americana. Em apenas três parágrafos, o governo dos EUA sinaliza apenas que deve mudar sua abordagem sobre a região de um "paradigma de ajuda externa" para um de "investimento e crescimento".

Quais são os principais pontos sobre a África?

Negociar soluções para conflitos em curso (cita República Democrática do Congo, Ruanda e Sudão), e prevenir novos conflitos (Etiópia-Eritreia-Somália)

Manter-se cauteloso com o ressurgimento da atividade terrorista islâmica em partes da África, evitando qualquer presença ou compromisso americano de longo prazo

Transição de uma relação com a África focada em ajuda para uma relação focada em comércio e investimento, priorizando parcerias com Estados capazes e confiáveis, comprometidos em abrir seus mercados para bens e serviços americanos; menciona interesse em setores como energia e minerais críticos