Equador se torna epicentro do narcotráfico para Europa e enfrenta escalada de violência, alerta relatório da Crisis Group
Um novo relatório do Grupo de Crise Internacional (ICG, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, revela que o Equador — outrora o país mais seguro da América Latina — vive sua pior crise de segurança em décadas, consolidando-se como um dos principais centros do narcotráfico para a Europa. A publicação, intitulada “Paradise Lost? Ecuador’s Battle with Organised Crime” (Paraíso Perdido? A batalha do Equador contra o crime organizado, em tradução livre), mostra que, sem sinais de diminuição da violência, o governo pretende intensificar sua postura repressiva, ampliando a cooperação com as Forças Armadas dos Estados Unidos e empresas de segurança privada.
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Segundo a ICG, o país tornou-se o mais violento da América do Sul em menos de uma década. O relatório associa a explosão da criminalidade à reconfiguração das rotas do tráfico após o acordo de paz na Colômbia em 2016, que "favoreceram a transformação do Equador em uma plataforma de exportação de drogas" — especialmente dos portos do Pacífico, como Guayaquil, hoje um dos principais pontos de saída dos traficantes rumo à Europa e aos Estados Unidos.
O documento descreve um cenário de colapso institucional e corrupção generalizada em portos, forças de segurança e no sistema prisional, que se transformou em um dos principais centros de comando das facções. Massacres dentro das penitenciárias — mais de 500 mortos desde 2021 — revelam, segundo a ICG, o domínio de gangues como Los Choneros e Los Lobos, que controlam alas inteiras e administram extorsões e tráfico a partir das celas.
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Esses grupos mantêm alianças com cartéis internacionais, como o de Sinaloa e o Jalisco Nueva Generación, do México, e com máfias dos Bálcãs e da Colômbia, o que ampliou a disputa violenta por rotas e territórios. A morte do líder Rasquiña, dos Choneros, em 2020, desencadeou uma guerra sangrenta entre facções, que se estendeu das prisões às ruas.
O relatório reconhece que o governo Noboa conseguiu reduzir brevemente os homicídios em 2024, mas alerta que a violência voltou a crescer neste ano, alcançando níveis recordes. A estratégia de recorrer às Forças Armadas em comunidades e presídios, afirma a ICG, tem tido efeitos efêmeros e colaterais graves, como denúncias de detenções arbitrárias e execuções extrajudiciais.
O texto ainda aponta que a militarização, somada ao enfraquecimento de instituições civis e cortes em programas sociais desde 2017, deixou comunidades pobres vulneráveis ao recrutamento por gangues. A organização recomenda que Quito "deveria fazer mais para levar serviços públicos e oportunidades econômicas lícitas aos bairros afetados pela criminalidade, ao mesmo tempo que combate a corrupção, que contribui para a onda de crimes".
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A ICG conclui que o Equador, "embora a parceria incipiente com os EUA indique uma crença contínua no uso da força militar para combater o crime, provavelmente só deixará de ser o país mais violento da América do Sul se recalibrar sua estratégia".
O relatório pede "soluções duradouras com envolvimento de uma gama mais ampla de instituições estatais, além das forças de segurança nos bairros mais perigosos, bem como redes de proteção social muito mais robustas, principalmente para os jovens que correm o risco de serem atraídos para o crime organizado".
“Sem esses esforços, o Equador corre sério risco de constatar que as organizações criminosas que busca combater estão expandindo sua atuação por todo o país e estado”, alerta a publicação.
