Enchentes deixam mais de mil mortos, milhões de desabrigados e cidades devastadas na Ásia
Chuvas torrenciais alimentadas por ciclones tropicais e fortes monções deixaram um rastro de destruição em quatro países da Ásia, onde as inundações e deslizamentos já causaram mais de 1.000 mortes e levaram milhões de pessoas a abandonar suas casas. Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Malásia enfrentam simultaneamente operações de resgate, evacuação em massa e danos ainda incalculáveis.
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Na Indonésia, onde Sumatra concentra a destruição mais severa, ao menos 502 pessoas morreram e mais de 500 continuam desaparecidas, segundo dados oficiais. Deslizamentos causados pelo ciclone Senyar bloquearam estradas, derrubaram pontes e isolaram cidades inteiras. Nesta segunda-feira, o presidente Prabowo Subianto visitou a região norte da ilha e disse acreditar que “o pior já passou”, embora tenha alertado para dificuldades no envio de combustível e suprimentos.
Três navios de guerra, dois navios-hospital e aeronaves foram enviados para apoiar as regiões que continuam inacessíveis. Vídeos divulgados pela imprensa local mostram helicópteros levando mantimentos a áreas cercadas pela lama, onde moradores relatam ter perdido tudo em questão de minutos. Antes da chegada da ajuda, porém, saques de comida e água foram registrados pela região.
— Os moradores não sabiam que a ajuda viria e temiam morrer de fome — disse à Associated Press o porta-voz da polícia, Ferry Walintukan.
‘Maior e mais desafiador’
Também duramente atingido, o Sri Lanka vive uma das piores tragédias naturais de sua história recente. O ciclone Ditwah deixou ao menos 355 mortos e 366 desaparecidos, levando o presidente Anura Kumara Dissanayake a declarar estado de emergência e pedir ajuda internacional. Mais de 148 mil pessoas buscaram abrigos temporários, e cerca de 1,1 milhão foram afetadas.
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Em Colombo, onde o nível da água atingiu seu ponto mais alto durante a noite, o governo tenta retomar serviços essenciais enquanto voluntários navegam em barcos entre ruas alagadas para entregar comida. O presidente afirmou que o país enfrenta “o maior e mais desafiador desastre natural de sua história” e prometeu reconstruir o que foi destruído.
— É a primeira vez que todo o país é atingido por um desastre dessa magnitude — disse ele em discurso à nação, segundo a Reuters, sugerindo que a dimensão da devastação superou a do tsunami que atingiu a Ásia em 2004, matando cerca de 31 mil pessoas e deixando mais de 1 milhão desabrigados.
A Tailândia, que registrou 170 mortes, concentra seus esforços na província de Songkhla, especialmente na cidade de Hat Yai, onde autoridades classificam as chuvas como um evento que ocorre “uma vez a cada 300 anos”. Comunidades inteiras ficaram submersas, obrigando equipes de resgate a transportar pacientes e recém-nascidos para locais seguros. Quase 2,8 milhões de pessoas foram afetadas, e o governo tailandês anunciou compensações financeiras e empréstimos emergenciais para apoiar moradores que retornam para avaliar os danos.
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Na Malásia, onde três mortes foram confirmadas, cerca de 34 mil pessoas chegaram a ser retiradas preventivamente. Em Perlis, no norte do país, idosos ficaram presos em campos cercados por água até serem resgatados por familiares e levados a centros de evacuação. Famílias permanecem abrigadas em tendas montadas pela Agência Nacional de Desastres.
Extremos climáticos
O Sudeste Asiático — que inclui Indonésia, Tailândia e Malásia — é uma das regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas, alertam cientistas. Os extremos climáticos registrados agora podem resultar da interação de dois sistemas ativos: o tufão Koto, nas Filipinas, e a formação incomum do ciclone Senyar no Estreito de Malaca, afirmaram meteorologistas à Reuters.
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A região também viveu, neste ano, ondas de calor recordes e tempestades altamente destrutivas, fenômenos que cientistas associam ao impacto do aquecimento dos oceanos. Especialistas explicam que oceanos mais quentes fornecem mais energia, gerando tempestades mais fortes. A chuva extrema associada a ciclones tropicais aumentou substancialmente, já que o ar mais quente retém maior quantidade de vapor d’água.
Enquanto a água começa a baixar em algumas áreas, governos e organizações humanitárias alertam que o número de mortos pode aumentar, já que muitas comunidades seguem isoladas e centenas de pessoas continuam desaparecidas. A extensão total dos danos ainda deve demorar dias para ser compreendida.
