Em meio à pressão militar americana, Venezuela volta a autorizar voos de deportação de migrantes enviados pelos EUA
A Venezuela anunciou nesta terça-feira que reautorizou os voos dos Estados Unidos destinados à deportação de migrantes venezuelanos, revertendo a suspensão definida na semana passada após a ameaça do presidente americano, Donald Trump, de decretar o “fechamento total” do espaço aéreo do país.
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Em nota, o Ministério dos Transportes da Venezuela informou que a autoridade aeronáutica do país “recebeu a solicitação do governo dos Estados Unidos para retomar os voos de repatriação de migrantes venezuelanos”. O comunicado acrescenta que, “por instruções do presidente Nicolás Maduro, o ingresso das aeronaves em nosso espaço aéreo foi autorizado”. Com a decisão, Caracas permitirá a entrada de dois voos da companhia americana Eastern Airlines, previstos para ocorrer às quartas e sextas-feiras.
Apesar do aumento da tensão entre Caracas e Washington, os aviões americanos transportando venezuelanos indocumentados continuaram a chegar regularmente ao país. Desde que assumiu a Presidência americana para um segundo mandato, em janeiro, Trump tem tratado a questão migratória como central. Segundo dados do governo venezuelano, cerca de 75 voos com deportados foram realizados ao longo deste ano, totalizando pelo menos 13.956 venezuelanos enviados de volta ao país a partir dos EUA.
Conversa telefônica
Em meio à escalada de tensões entre Caracas e Washington, Trump e Maduro realizaram um telefonema em 21 de novembro. Na ocasião, o venezuelano teria sinalizado disposição para deixar o país sob salvo-conduto garantido pelos EUA, condicionando a saída à anistia total para si e sua família, ao fim das sanções americanas e ao encerramento de um processo que enfrenta no Tribunal Penal Internacional. Ele também solicitou a retirada de sanções impostas a mais de cem autoridades venezuelanas e propôs que a vice-presidente Delcy Rodríguez comandasse um governo interino até novas eleições.
Ultimato expirou em 28 de novembro: Trump rejeitou pedidos de Maduro por anistia, fim de sanções e governo interino
Trump recusou a maior parte das exigências, mas deu a Maduro um prazo de uma semana para deixar a Venezuela rumo ao destino de sua escolha. O ultimato expirou na sexta-feira, 28 de novembro, sem que o líder chavista tenha deixado o país. Diante da resistência, Trump anunciou, no sábado, o fechamento do espaço aéreo venezuelano. Na segunda-feira, também reuniu-se com assessores para discutir formas de pressionar a Venezuela.
Fontes em Washington não descartam a possibilidade de uma saída negociada para Maduro, mas ressaltam que ainda há divergências significativas — e que detalhes importantes ainda não foram resolvidos. Segundo a agência Reuters, o governo venezuelano solicitou outra ligação com Trump. Nem a Casa Branca e nem autoridades do governo chavista comentaram o assunto até a última atualização deste texto.
As divergências ocorrem na esteira do aumento da presença militar dos EUA no Caribe. Desde setembro, o governo americano direcionou mais de uma dúzia de navios de guerra e cerca de 15 mil soldados à região. Washington afirma que a operação visa combater o narcotráfico, enquanto Caracas vê uma tentativa de pressionar o venezuelano a deixar o poder. Organizações de direitos humanos criticam os ataques liderados pelos Estados Unidos como execuções extrajudiciais ilegais.
A administração Trump, que não reconhece Maduro como presidente legítimo desde sua reeleição contestada em 2024, tem reiterado o desejo de vê-lo fora do poder. O governo americano elevou para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro e oferece outras de US$ 25 milhões para altos funcionários, como o ministro do Interior, Diosdado Cabello, acusados pelos EUA de tráfico de drogas.
(Com AFP e New York Times)
